Por Luciana Gurgel
O Digital News Report, do Reuters Intitute. que apontou o Brasil como o país onde mais gente confia das notícias em comparação às demais nações pesquisadas na América Latina, é considerado o mais amplo retrato do comportamento do público em relação às fontes de informação online, examinando a situação de países em seis continentes.
O relatório trata como notícia informações recebidas por qualquer fonte − do acesso a um veículo de comunicação a conteúdo factual distribuído via redes sociais ou aplicativos de mensagem, produzidos por organizações de mídia ou canais independentes. Os autores assinalam que os resultados refletem o que as pessoas dizem, e não necessariamente o que fazem.
Mas é uma importante referência para a indústria e para quem se interessa pela contribuição do jornalismo para a sociedade, revelando as percepções sobre temas como o papel das mídias sociais, a inteligência artificial na imprensa, a desinformação e a disposição de pagar para se informar.
Dentre essas questões, medir a confiança é importante, porque um dos grandes desafios do jornalismo tem sido manter a credibilidade diante das fake news, de movimentos para desacreditar a imprensa e da disputa com influenciadores, que se tornaram fontes primárias de informação, sobretudo para os jovens.
Para ilustrar o crescimento de sua importância, o estudo ressalta a quantidade expressiva de citações dos nomes de Lionel Messi, Taylor Swift e das Kardashians como fontes de informação, embora eles não tratem de assuntos noticiosos em suas redes sociais.
No Brasil, as grandes organizações de mídia são mais confiáveis aos olhos do público, segundo o estudo.
A confiança no noticiário manteve-se estável em relação a 2023 no mundo, com taxa de 40%, mas ainda está quatro pontos abaixo do índice atingido durante a pandemia do coronavírus, de acordo com o relatório.
A Finlândia segue como o país com os níveis mais elevados de confiança global nas notícias (69%), enquanto Grécia (23%) e Hungria (23%) apresentaram os níveis mais baixos.
O Brasil ficou em 15º entre os 47 países pesquisados, mas teve queda de 19 pontos em relação a 2015, quando o cenário midiático era bem diferente.
O Instituto alerta que as baixas pontuações em alguns países, como EUA (32%), Argentina (30%) e França (31%), podem estar ligadas à polarização política e cultural.
O que forma a credibilidade?
Nic Newman, autor do relatório, salienta que as percepções não dizem respeito apenas à produção jornalística, sendo influenciadas também por fatores políticos e sociais.
A pesquisa identificou quatro fatores que constroem a confiança nas notícias: padrões elevados, abordagem transparente, falta de preconceitos e representação justa.
Newman explicou que as respostas são consistentes entre países, idades e pontos de vista políticos. E observou que abordagens negativas ou críticas em matérias não emergiram na pesquisa como razões importantes para comprometer a credibilidade, “significando que o público ainda espera que os jornalistas façam perguntas difíceis”.
Em relação à fadiga de notícias, métrica em que o Brasil registrou aumento (47%, contra 41% em 2023), o País nem é o pior do mundo. Na Argentina, 77% do público declararam em 2017 ter interesse em notícias, taxa que despencou para 45% em 2024. No Reino Unido, a queda em relação a 2015 foi quase a metade.
Smartphone é rei
O relatório investigou também os equipamentos usados para acessar notícias online. No Brasil, 82% dos entrevistados disseram informar-se pelo celular, 51% pelo computador e apenas 30% pelos tablets.
Na avaliação sobre meios, o online (incluindo sites de notícias, aplicativos e redes sociais dos veículos) domina no Brasil, com 74% de acesso a notícias por eles. Mídias sociais (incluindo influenciadores) e TVs aparecem quase empatados, com 50% e 51% respectivamente.
O uso de veículos impressos como fonte de informação continua baixo. Mas se serve de consolo aos amantes do papel, estacionou no Brasil desde a pandemia, com 11% dos entrevistados na pesquisa declarando informar-se por eles.
Leia mais sobre o relatório do Instituto Reuters e veja o documento completo em MediaTalks.
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