Repreendido e desautorizado pela Direção por denunciar e documentar atitudes de assédio sexual na empresa, ele optou por entregar o cargo O mercado paranaense de comunicação passou por uma situação histriônica nesta semana. O que inicialmente poderia parecer apenas mais um anúncio de desligamento na cúpula em um importante veículo do Estado – quando, no último dia 31/7, o diretor de Jornalismo da CBN Curitiba José Wille comunicou sua saída, após 18 anos de casa – acabou ganhando dimensão de escândalo. A atitude inicial da rádio, potencializada por sua falta de clareza em relação aos reais motivos do desligamento de seu diretor, gerou indignação na equipe da emissora e culminou com uma greve na manhã desta 2ª.feira (5/8), além da saída compulsória de outros três profissionais da casa. O que sucedeu foi que, após algumas acusações de assédio sexual, feitas por ex-funcionárias da emissora contra o ex-deputado federal e jornalista Airton Cordeiro, apresentador e comentarista da casa, Wille apurou informações e registros que comprovavam essas queixas e os apresentou a Joel Malucelli, proprietário da CBN Curitiba e de outros veículos do Estado. Apesar das provas, o empresário optou por não tomar nenhum tipo de ação contra Cordeiro, e, ao contrário, disse a Wille que ele havia conduzido muito mal o episódio. Por causa disso Wille colocou seu cargo à disposição, e a empresa aceitou. Em carta de despedida, publicada em seu site (http://bit.ly/16ZC3KJ) no dia seguinte (1º/8), Wille explicou os motivos de seu desligamento, mas sem entrar em detalhes: “Sair de um trabalho é rotina na carreira de um jornalista. E algumas vezes temos que deixar tudo, justamente por fazer o que julgamos correto. Mas devemos seguir sempre em frente, em busca de outro veículo, para continuar exercendo a nossa missão de informar”. No mesmo dia, entretanto, o blog Terceiro Caderno (http://bit.ly/187sdI5), de Paulo Galvez da Silva, já alertava para o possível motivo real de sua saída: “Não foi por questões políticas ou editoriais que o jornalista José Wille deixou, ontem, a rádio CBN Curitiba. O motivo, na verdade, teria sido uma investigação conduzida por ele para apurar denúncias de assédio sexual por parte de outro funcionário da emissora. Nos últimos meses, cinco estagiárias pediram desligamento da rádio. O resultado da investigação teria confirmado as denúncias, mas a CBN preferiu demitir Wille e manter o acusado”. O caso voltou a ganhar repercussão quando na manhã desta 2ª.feira (5/8) um grupo de funcionários da emissora decidiu pela paralisação das atividades, cobrando da empresa um posicionamento sobre a denúncia e sobre o desligamento de seu diretor. O comunicado assinado por 15 funcionários solicitava a elucidação de três pontos: 1) Esclarecimento público a respeito da denúncia de assédio sexual, supostamente cometido pelo comentarista Airton Cordeiro; 2) Esclarecimento da empresa aos funcionários em relação à saída do diretor de Jornalismo José Wille; e 3) Notificação à Rede CBN sobre caso de assédio sexual dentro da CBN Curitiba e os recentes desligamentos de outros jornalistas. Além da paralisação, outros três profissionais anunciaram no mesmo dia seu afastamento da emissora: o apresentador Álvaro Borba, o colunista Daniel Medeiros e o chefe de Reportagem Marcos Tosi. Com a programação local fora do ar, a faixa de transmissão da CBN Curitiba passou a apresentar a programação nacional e de São Paulo, e com isso o caso ganhou mais repercussão ainda, chegando inclusive à direção nacional da CBN, que emitiu um comunicado sobre o caso: “A Rede CBN tem certeza de que sua afiliada de Curitiba vai tomar todas as providências necessárias para resolver esses problemas, sempre buscando transparência e justiça em suas decisões. Além disso, a Rede CBN não tem dúvidas de que a afiliada não só informará e esclarecerá seus ouvintes, como também pedirá desculpas pelos transtornos causados com a mudança emergencial na sua programação matinal desta segunda-feira”. A programação da emissora voltou ao normal ainda na tarde de 2ª.feira, após reunião com o diretor geral Eli Thomaz de Aquino, o representante da holding J. Malucelli Luís Henrique e membros do Sindicato dos Jornalistas do Paraná. Nela, ficou decidido o afastamento do funcionário envolvido nas denúncias. Após o encontro, de volta às atividades, os funcionários emitiram um novo comunicado em que explicavam: “Recebendo garantias de que a providência cabível no caso foi tomada e que não haverá represálias, os funcionários decidem retomar as atividades na tarde de hoje. Houve, ainda, a promessa de que o diálogo permanecerá aberto entre funcionários e direção”. Em nota publicada em seu site (http://bit.ly/16pod4u), o sindicato considerou a atitude como uma “prova de solidariedade” e parabenizou os profissionais pela “iniciativa de paralisar suas atividades em busca de explicações sobre o ocorrido”. Quem também se pronunciou em comunicado oficial foi a CBN Curitiba. Em um trecho da nota, a emissora explicou: “Fomos surpreendidos por uma denúncia de suposto assédio na emissora, o que causou o imediato e definitivo afastamento do colaborador envolvido… Dada a importância que o assunto merece, foi tratado com todo zelo e sigilo necessários… Esclarecemos que não demitimos nenhum colaborador em razão do ocorrido, a exceção do afastamento já citado”. Em entrevista ao site Paraná Online (http://bit.ly/16pFKtb), do Grupo Paranaense de Comunicação, Airton Cordeiro defendeu-se das acusações: “Ainda não sei ao certo de onde partiram as denúncias, mas quem as fez terá que provar. Um sorriso não pode ser considerado assédio sexual. Eu não levei ninguém para o motel. O que está acontecendo é uma sórdida campanha elaborada por meus detratores. Tenho muitos inimigos e estas pessoas querem me prejudicar, mas não conseguirão”. Apesar da grande mobilização a seu favor, Wille, que é irmão dos também jornalistas Cley Scholz (Estadão) e Simão Scholz (Rede Record), tem evitado se pronunciar a respeito do caso desde sua saída da emissora, inclusive quando procurado por este Portal dos Jornalistas. Em suas contas em facebook e twitter, muitos colegas de profissão e leitores têm demonstrado apoio a ele, que não comenta o assunto, mas continua atualizando as notícias de seu site pessoal, o www.jws.com.br, onde traz destaques da internet e da história da Comunicação no Paraná.