Ele narra a violência, respeita os pais, surfa e reza com os filhos …Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas… Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo… E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará. (Trecho do poema O Tempo, de Mário Quintana, um dos autores favoritos de Cid Martins) Um ano antes de concluir o curso de Jornalismo, Cid Martins viveu um drama que indicou seu caminho como profissional. O pai, Aelson, perdeu a visão e passou a depender do rádio para ter acesso às notícias. Foi a deixa para que o jovem estudante prestasse mais atenção a um dos veículos de informação de maior credibilidade junto ao público brasileiro. Assim, estava reforçada a vocação para o radiojornalismo, onde ele inscreve seu nome entre os campeões na conquista de prêmios. Como trunfo para vencer na profissão, há um ensinamento que não veio da universidade nem das redações: Cid segue a orientação do pai e ouvinte número um. Dele, ouve críticas e sugestões e quem trabalha em rádio sabe o quanto os ouvintes são exigentes. Aelson recomenda ao filho ser antes de tudo uma pessoa, porque primeiro vem o ser humano, depois o profissional. Daí o seu cuidado na apuração dos fatos, já que nenhum furo de reportagem compensará o prejuízo eventual causado a uma pessoa. De dona Ivone, a mãe, veio a consciência que resulta no apego à família, à mulher e aos filhos. Casado com Verônica e pai de João Pedro (11) e Lorenzo (6), Cid fica permanentemente conectado para saber se está tudo bem em casa. Mesmo longe, é sagrado o contato. Foi assim, por exemplo, na cobertura da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, na fase de investigação sobre as causas do incêndio. Claro que há ocasiões em que a distância é um problema. Isso aconteceu durante a desocupação de um morro, no Rio de Janeiro. O clima era tenso nas horas que antecederam a expulsão dos traficantes e o início do processo de pacificação do Complexo do Alemão, mas nem por isso ele deixou de ligar. À noite, lá estava Cid Martins ao telefone, rezando e contando histórias para os meninos dormirem. Em sua opinião, isso é indispensável na formação da garotada e ele próprio, até hoje, não passa um dia sem falar com os pais. Quando cita livros favoritos, vêm à lembrança as mais recentes leituras onde se descreve o sonho de um mundo mais humano e socialmente justo, como O Exército de um homem só, de Moacyr Scliar; A cabana, de William Yong, em que o autor mostra o drama de um pai que blasfema contra Deus ante uma violência sofrida pela filha. Ou ainda Camilo Mortágua, de Josué Guimarães, cujo personagem central reflete sobre a luta de sua uma família que desde o início do Século XX enfrentou e venceu problemas causados por mudanças econômicas e políticas. Na poesia, um dos seus autores prediletos é o também jornalista e gaúcho Mário Quintana. Superar dificuldades é comum na vida de Cid Martins, a começar pela infância sem muitos recursos e os obstáculos para a conclusão do curso de Jornalismo. O excesso de trabalho influiu para tornar mais difícil comparecer às aulas e cumprir as tarefas como estudante. Se no início da carreira chegou a pular muro para fazer entrevista, hoje os desafios são outros. Sua palavra afiada mexe com pessoas e situações onde há perigo elevado à máxima potência. Quando pode, atenua o estresse fazendo yoga e se estiver em férias, desliga o telefone. Segue recomendações da esposa, que deixa bem claro: não faz questão de ter um marido herói; quer ter um bom pai para os filhos. Este personagem pleno de vida, que assegura gostar de lavar pratos e ajudar em outras tarefas domésticas, é também um galanteador. Gosta de lembrar que jamais esquece o modelo e a cor do vestido de sua esposa no primeiro dia em que se encontraram… Com os filhos, as horas de lazer incluem a procura pelas grandes ondas. Ele sai com a garotada para praticar surf. Vai cheio de disposição, mesmo se a praia escolhida estiver a 100 km de casa.