Lançado em novembro de 2015, Nexo é um jornal digital que uniu os sócios Paula Miraglia (antropóloga), Conrado Corsalette (jornalista) e Renata Rizzi (economista). É feito “para quem busca explicações precisas e interpretações equilibradas sobre os principais fatos do Brasil e do mundo”, como diz seu texto de apresentação. Nativo digital, com conteúdo explicativo e preocupado com a contextualização, de abrangência nacional e que pretende, em breve, manter-se por meio de assinaturas. Assim é o Nexo, sobre o qual Paula Miraglia conta mais: Como nasceu o Nexo O Nexo é resultado de uma conversa entre três pessoas que tinham, desde sempre, interesse por coisas comuns. Conrado, Renata e eu temos trajetórias diferentes, mas interesses comuns. E o debate público é um deles. “Como se pode contribuir para o debate público?”. Cada um do seu jeito. Na trajetória anterior ao Nexo, cada um tinha, na sua medida, trabalhado nesse sentido, com esses temas. Mais concretamente, eu estava morando fora do Brasil, tinha voltado para cá e pensava: “E agora?”. Comecei a conversar com o Conrado e com a Renata sobre a produção de conteúdo, de informação, como isso faz sentido no Brasil nesse momento. O Conrado vinha com ideia de novas formas de pensar o jornalismo e a Renata também. Claro que há outros fatores que entram nessa história também. É um momento em que novas possiblidades de produção da informação, novas iniciativas no campo do jornalismo vêm acontecendo. Isso impulsionou e contribuiu muito para desenhar o modelo do Nexo. É uma conversa que está acontecendo no mundo todo e as iniciativas digitais fora do Brasil foram muito inspiradoras. Vimos veículos que nasceram digitais ganharem relevância. O processo inteiro – entre o “vamos fazer” e o jornal estar na rede – durou mais ou menos um ano. Aos poucos, a partir de junho do ano passado, começamos a trabalhar juntos, em uma equipe muito pequena, que foi aumentando. Em setembro ela já estava completa, ensaiando para colocar o jornal no ar. Esse processo de formação da equipe era paralelo ao desenvolvimento do jornal. Modelo editorial Quando começamos a desenhar o modelo do Nexo tínhamos um desejo – e aí é outro ponto onde nossas trajetórias se encontram –, que é explicar, contextualizar, fugir daquela notícia muito rápida e que, no dia seguinte, não tem mais valor. A gente sentiu que havia espaço para um jornalismo de contexto. Claro, no limite você pode dizer que todo jornalismo é de explicação (e precisa ser). Mas ter tempo de fazer uma explicação um pouco mais detalhada, privilegiar o aspecto do contexto, nos pareceu um elemento muito forte que poderia ganhar força dentro de um lugar editorial. Isso dialoga também com a estrutura de jornal que estávamos montando. Desde o início, tínhamos a clareza de que o Nexo não vinha para competir com os grandes jornais, que têm a capacidade de cobrir todas as notícias. Sabíamos desde o início que não poderíamos cobrir todas as notícias. O que e como cobrir É um exercício de curadoria, de seleção, porque notícia é o que não falta. Isso permite também determinar qual é o tratamento mais adequado para cada um desses conteúdos. O que faz muito mais sentido quando você está em um veículo digital. Passa também por um olhar editorial entender se esse conteúdo faz mais sentido no vídeo, se ganha força se for feito em gráfico, se engaja mais o leitor sendo interativo. Desde sempre previmos que o texto seria fundamental, mas que esses outros suportes – vídeo, gráfico, interativo – teriam também uma grande importância no modelo editorial. Sem que isso necessariamente tenha um hierarquia. O gráfico deixa de ser um complemento ao texto, o vídeo deixa de ser uma ilustração do texto. Cada um deles têm uma narrativa própria. Modelo de negócio [O que viabilizou a existência do Nexo] foram investimentos próprios, dos três sócios. Criamos um jornal de assinaturas e acreditamos que elas vão financiar o Nexo. Temos uma estrutura que é grande para um startup [atualmente são 24 pessoas, uma delas correspondente em Brasília], mas enxuta, se você pensar num veículo. Ao definir que nosso jornal vai viver de assinaturas, isso também nos obriga a produzir um conteúdo que seja bom o suficiente a ponto de as pessoas pagarem com ele. Sabemos que estamos disputando com muita coisa hoje, que se disputa o tempo das pessoas com absolutamente todo tipo de conteúdo, mas também temos uma leitura de que há um desejo de informação no Brasil, e que esse desejo é cada vez maior. Observamos isso no tipo de debate que as pessoas têm a partir do nosso conteúdo, pelo interesse dos nossos leitores – que não é um interesse só pelo conteúdo rápido. Abordamos temas extremamente áridos, como um vídeo sobre dívida pública. Como é que você pode pensar que esse é um assunto que pode interessar a um grande número de pessoas? Mas o vídeo foi um sucesso! Quer dizer, as pessoas estão atrás desse tipo de informação também. Isso tudo nos faz acreditar que o jornal pode, sim, viver de assinaturas, porque ele cria uma relação com seus leitores, porque ele também se obriga a entregar um conteúdo que tenha efetivamente valor, e para nós isso é uma coisa que faz sentido do ponto de vista do negócio, do ponto de vista do veículo que quisemos criar. O bom e velho R.O.I. Estamos em um momento de experimentar nossa audiência. Decidimos deixar o site inteiro aberto, mas o fecharemos em breve. Ele não vai ser totalmente fechado – vai ter um paywall poroso –, e vamos avisaraos leitores disso. Pudemos até agora, enquanto o site está aberto, entender um pouco o potencial da nossa audiência. Eu vou poder responder à pergunta sobre retorno do investimento quando fecharmos efetivamente o site. Quem lê o Nexo Fazemos um análise combinada [de audiência]. Obviamente, acompanhamos a audiência, e estamos satisfeitos com ela. É uma audiência que vem crescendo de maneira consistente. Mas também avaliamos o engajamento dos leitores conosco. Uma das nossas preocupações era de que o Nexo não tivesse relevância alguma, simplesmente porque hoje você tem iniciativas incríveis. Faz parte do empreendimento disputar relevância, fazer com que olhem para você, que falem sobre o que você está falando, que o conteúdo que você produz efetivamente repercuta. E por aí também passa a nossa análise: aonde tem chegado o conteúdo que a produzimos. É uma avaliação que não passa exclusivamente pelo tamanho da audiência, mas também passa pela repercussão que isso pode ter e de que maneira as pessoas estão usando o conteúdo do Nexo para debaterem, pautarem outros debates. Quem faz o Nexo Enxergamos no tamanho que temos hoje uma vantagem muito grande. Produzimos muita coisa com uma equipe enxuta. E começamos do zero. Passamos pelo esforço de consolidar o veículo. Temos um espaço que é essencialmente colaborativo, uma equipe muito talentosa, interdisciplinar. Temos jornalistas, advogados, cientistas de dados, equipe de arte. Então, vejo como um diferencial o fato de termos uma equipe que – porque é enxuta – trabalha muito junta. Fomos montando a equipe aos poucos, foi um processo longo. Buscávamos duas coisas nesses profissionais: jornalistas com uma trajetória sólida, com capacidade de produção, que fossem também – com a gente brincava – “ninjas”. Porque tratamos de muitos assuntos, então é necessário ter interesse sobre diferentes assuntos e capacidade de dialogar sobre e entendê-los. Além disso, tínhamos a clareza de como queríamos que essa redação funcionasse, e essa ideia de um espaço que fosse de fato um espaço de colaboração era chave. Era uma aposta nossa essa interação da equipe de tecnologia com a equipe de arte, com a equipe de pesquisa – e ficamos superfelizes de vermos que foi uma aposta correta. O fato de termos pessoas com essas atribuições é muito importante e isso estava dado desde o começo do desenho. Então, o desafio foi encontrar essas pessoas. Obviamente, passa pela qualidade da formação, pelo interesse. Para nós também era importante a leitura que elas tinham dessa possibilidade de criar um veículo digital, da disposição delas. Todo mundo veio para cá e o jornal não existia. Algumas pessoas saíram de seus empregos em veículos tradicionais para virem trabalhar no Nexo. Ficamos dois meses e meio trabalhando na Redação sem o jornal estar no ar, fingindo que estava no ar. Isso para encontrar a nossa voz, a nossa cara, a nossa identidade. Então, são pessoas que vieram nesse espírito, têm um supercomprometimento com o projeto e, sobretudo, gostam muito de trabalhar juntas. E isso para mim diz muito sobre aquilo que estamos criando aqui. Fizemos dois investimentos grandes no Nexo: um foi em pessoas, desde o começo tínhamos a clareza de que queríamos ter uma Redação, com pessoas, com equipe que pudesse trabalhar junta. outro foi em tecnologia. Tecnologia Queríamos ter um site em que a navegação fosse ótima, que o processo de assinatura não fosse um obstáculo para o assinante, que pudéssemos de fato explorar todos os recursos do meio digital. Esse é um trabalho que segue se desenvolvendo. E essa é uma das maravilhas de um jornal digital! As possibilidades estão dadas, podemos criar, desenvolver, ter uma seção nova, um recurso novo. É um trabalho constante de criação que também vamos fazendo a partir das demandas dos leitores, que pedem para que expliquemos determinado assunto. Isso é um indicativo forte de que as pessoas entenderam o nosso modelo editorial e estão criando uma relação.