Quando você pensa em fazer uma viagem, prefere ir no escuro ou antes montar um roteiro, por mais simples que seja? Saber quando vai e volta, onde vai dormir, que lugares pretende visitar, o que fazer em caso de emergência… Tudo isso exige, em maior ou menor escala, uma coisa chamada planejamento. Para começar um negócio, o raciocínio é o mesmo. Ou deveria ser. Na prática, como mostra a segunda parte da pesquisa de Sérgio Lüdtke, publicada em 1°/6, a realidade é bem diferente: apenas 1/3 dos empreendimentos analisados pelo pesquisador ganharam vida a partir de um plano de negócio. “O sucesso de um empreendimento não está condicionado à elaboração de um BP […], mas começar um negócio sem ter um plano de negócios equivale, no Jornalismo, a publicar um texto que não responda às perguntas exigidas pelo lide”, diz Lüdtke. “Sem o business plan, o empreendedor corre o risco de não considerar ou de subestimar aspectos importantes do negócio. Corre o risco de não fazer as perguntas corretas”, diz Martha Torres, especialista em planejamento estratégico. “Sem o BP, os recursos disponíveis podem não ser suficientes para o investimento necessário, por exemplo. É essencial ter esse tipo de visibilidade antes de embarcar em um novo negócio”, completa. Plano de negócio x modelo de negócio Termos parecidos, com significados bem diferentes, mas um objetivo em comum: organizar as ideias a respeito de um negócio (ou ação) que está por vir. Mais completo, o plano de negócio deve reunir informações e análises que ajudem o empreendedor a confirmar que o projeto é viável economicamente. “O business plan deve considerar as diferentes dimensões envolvidas na operacionalização do negócio e como elas se relacionam”, diz Torres. “Ele [o BP] é uma ferramenta que suporta o empreendedor no entendimento dos principais drivers do negócio, na tomada de decisões e até no acompanhamento dos resultados”. Nesse plano de negócios devem estar detalhados e ser objeto de análise as previsões de custos e despesas, o investimento inicial que se precisa, os dados dos empreendedores, missão da empresa, o setor de atividade, marketing, as projeções de receita e de quando chegarão os lucros. Além disso, especificações formais de aspectos jurídicos, tributários e de capital social. Já modelo de negócio deve retratar a essência desse negócio, o valor que ele tem. Isso pode ser feito em apenas uma página, como sugere o recente e amplamente difundido modelo Canvas, fórmula de estruturação desenvolvida pelo suíço Alex Osterwalder. O propósito do Canvas é justamente auxiliar empreendedores a enxergarem melhor seus modelos de negócio. A estrutura do Canvas é dividida em nove blocos, de fácil compreensão visual e que servem como referência para se trabalharem as hipóteses do negócio. Esses blocos, por sua vez, agrupam-se em Infraestrutura ou respostas ‘Como?’ (Atividades-chave, recursos-chave e rede de parceiros), Oferta ou respostas ‘O quê?’ (proposição de valor), Clientes ou respostas ‘Para quem?’ (segmentos de clientes, canais, relacionamento com o cliente) e Finanças ou respostas ‘Quanto?’ (estrutura de custos e fluxos de receita). Qualquer semelhança com nosso íntimo amigo lide não é mera coincidência. Perguntas certas bem respondidas não garantem, mas colaboram muito para o sucesso da empreitada, seja ela jornalística, de negócios ou de um negócio jornalístico.