Quando anunciou em 1º de julho o fim do programa Repórter Record Investigação, a emissora paulista se despedia ali da atração que nos últimos dois anos havia sido a grande responsável pelos principais prêmios de jornalismo conquistados pela casa. Com uma equipe consagrada e experiente, sob o comando de Domingos Meirelles, o programa exibiu nesse período reportagens aprofundadas dos mais variados temas, dos brasileiros condenados à morte na Indonésia aos casos de escravidão ainda encontrados no Brasil. E foi justamente sobre esse tema que o programa exibiu em 2015 o trabalho que viria a ser a +Premiada Reportagem de 2016. Em As eternas escravas, o Repórter Record Investigação revelou casos de escravidão de crianças negras e pobres no Estado de Goiás. Durantes dois meses, os repórteres Lúcio Sturm, Gustavo Costa e Marcelo Magalhães levantaram documentos e investigaram crimes bárbaros, em que meninas eram amarradas, torturadas e transformadas em servas domésticas e sexuais. As vítimas tinham entre nove e 14 anos de idade e foram abusadas de todas as formas por famílias brancas que deveriam protegê-las. As denúncias incluem também leilões de menores virgens por 100 reais. Os acusados são políticos e pessoas ricas de Cavalcante, uma cidade vizinha ao quilombo Kalunga, onde vivem essas crianças. Com quase 50 minutos de duração, o programa mostrou ainda uma entrevista exclusiva com um homem condenado por violentar uma criança quilombola de apenas nove anos. Depois da reportagem, foi aberta uma CPI na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás para apurar os casos. Além disso, a Secretária de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República cobrou da Justiça daquele Estado providências imediatas para punição dos culpados. Pelo trabalho, ainda em 2015 a equipe conquistou os prêmios Esso de Telejornalismo e Direitos Humanos de Televisão, somando à época 110 pontos, e terminando o ano como a quarta reportagem +Premiada. Neste ano, o trabalho conquistou mais três prêmios, somando assim 135 pontos: Iberoamericano de Jornalismo Rei da Espanha, Anamatra de Direitos Humanos e Petrobras de Jornalismo, todos na categoria Televisão. “Em 50 anos de carreira, uma coisa que muito me impressionou em relação ao programa e suas reportagens é que eu nunca trabalhei em lugar que, em tão curto espaço de tempo, tantos prêmios foram conquistados. Foram 19 no total”, destaca Domingos. “Conseguimos atingir bem o nosso público analisando a planilha do Ibope e conhecendo bem quem está do outro lado. A volta do programa ainda é indefinida, mas espero que aconteça o quanto antes, porque o que conquistamos nesse período não sei se alguma outra publicação ou atração atingiu no mesmo tempo”.