A história desta semana foi enviada por Mônica Paula ([email protected]), coordenadora de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), realizador dos programas Master em Jornalismo. “O senhor comeria isso?” Surgido no boom do uso do fax no início dos anos 1990 e que se mantém até hoje, distribuído por novos canais, o NewsPaper é um produto da Agência Estado criado para informar seus assinantes, logo cedo, sobre os principais assuntos em destaque na imprensa brasileira durante a semana. Desde os primeiros tempos, uma aguerrida equipe começou a encarar a madrugada para que o News fosse distribuído até 8h da manhã. Mas para aguentar o tranco, precisava ter comida. Com custos bancados pela empresa, os fornecedores do pão-nosso-de-cada-dia se alternavam. Nos idos de 1993/1994, a alimentação noturna era de responsabilidade da companhia terceirizada que cuidava também dos restaurantes do Grupo Estado. Na provável falta ou descaso de profissional qualificado, essa produção era dotada de combinações desastrosas em termos nutricionais, quando não chegavam itens com prazos de validade no limite ou já superados. Argh! Quando isso acontecia, todo mundo só ia comer decentemente no café da manhã, em casa. Ainda não existiam lojas de conveniência 24 horas no entorno do bairro do Limão, zona norte de São Paulo, onde fica o Estadão. Sendo um “elemento surpresa”, boa ou má, a cada dia, em um deles o contínuo buscou o “kit alimentação” no engradado e chegou com uma coisa muito estranha. Tratava-se de hambúrguer com queijo no pão correto, mas com um molho muito suspeito. Um voluntário corajoso provou a “iguaria” e descobriu tratar-se de hambúrguer com patê de atum, que decididamente não combinam! O editor à época, Adalberto (Dal) Marcondes, hoje publisher da agência de notícias ambientais Envolverde, não teve dúvidas: pegou todo o lote e foi até a cozinha do restaurante industrial procurar o responsável. Lá chegando, fez a reclamação e ouviu do cozinheiro que não havia nenhum problema porque a comida não estava estragada. Conhecido por ser um sujeito muito calmo e ponderado, Dal perdeu a paciência. Pegou um dos saquinhos com o tal hambúrguer e, quase o esfregando na cara do homem, tascou: “O senhor comeria isso?” Diante do constrangimento e da falta de explicações convincentes, Dal virou as costas e voltou para a redação. A equipe, solidária, se virou com as inevitáveis bolachinhas e guloseimas que carregava “por segurança”. Para o bem de todos e felicidade geral da “edição”, no dia seguinte definiu-se que a própria equipe se revezaria nas compras. Assim foi feito e ninguém teve mais de encarar, além do exótico hambúrguer, coisas como presunto verde, de tão passado, o que seria uma verdadeira bomba se caísse no estômago de alguém.