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sexta-feira, novembro 22, 2024

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Encontro com dançarino

Yacoff Sarkovas

Por Ceila Santos

Ceila Santos

“Agradeço muito meu destino”. A frase é de Yacoff Sarkovas. Sua história, sem dúvida, é um exemplo de dádiva. Não só pelo que empreendeu nas áreas da cultura, branding e comunicação. Mas, principalmente, pela forma.

Impressiona ouvir a sensibilidade e a lucidez permeando as escolhas que Sarkovas faz no meio dos seus empreendimentos. Vai muito além do espírito empreendedor, atento e criativo. Toca no espírito artístico.

É verdade que já havia, na história do jovem Yacoff, o encontro com a música, quando empreende os primeiros sistemas de rádioescuta e banco de dados para distribuição de direitos autorais, no País, mas falo de uma arte menos concreta e mais perceptiva. Da arte de quem dança com fogo. De quem respeita a chama de dentro e de fora.

Bom que se diga: é uma metáfora. Yacoff não é artista de rua nem de palco. É autônomo. Trabalha com propósito.

Crio a figura do dançarino para descrever a sensação que senti ao reconhecer que Sarkovas seguiu a chama da necessidade do mundo a partir da sua criatividade interna. Não é só isso. Existe algo no meio que tornou o relato dele um encontro para a minha busca.

Fogo da Liberdade

O mover-se pelas necessidades de fora a partir das capacidades de dentro tem a sutileza da liberdade no meio. Yacoff não segue o status quo do conforto econômico, que leva muitos líderes ao comodismo do crescimento e à cegueira do desenvolvimento. Nem voa pelo excesso da ambição, que gera a escassez espiritual e o automatismo intensivo.

Isso não significa que Yacoff não aprendeu o valor da invenção mais sagrada da humanidade: o capitalismo. Mas, sim, que soube usá-la de forma rara. Pelo menos pra mim, que olho a partir das margens capitalistas. Sentia medo do que via antes de conhecer a história de quem dança com o fogo da liberdade. Yacoff me apresentou a dança com o espírito da vida.

Ouvi algo raro na sua trajetória: respeito pelo futuro no presente. Pode ser que ouvi apenas algo que desejo muito que exista e só ouvi porque estou atenta. O fato é que Yacoff deixou claro, em mim, o exemplo de quem se responsabiliza pelo que percebe fora e dentro de si. Com isso, senti cheiro do que representa a maior incógnita da vida: a existência da liberdade humana.

Enquanto ele contava os marcos da sua trajetória, eu aprendia a reconhecer a habilidade de quem ouve as demandas do mundo, aprendia a compreender o que é desenvolver consciência da vida e transformar tal consciência em arte de criar para trazer valor ao mundo, e não só aos desejos dos homens.

Aprendendo a se libertar

O medo maior que Yacoff iluminou em mim foi do sistema econômico. Ele contou que também viveu a negligência que vivencio agora: “Por muito tempo negligenciei o dinheiro. Tinha um certo preconceito de ganhar dinheiro até o dia em que se revelou para mim sua função. Ele é a prova concreta que aquilo que você produz profissionalmente faz sentido para os outros”.

Na Fundação Amazônia Sustentável, uma das instituições das quais hoje é conselheiro, o trabalho é ensinar aos moradores da floresta que vale mais dinheiro uma árvore em pé que cortada. Alívio ouvir que existe um jeito de usar o dinheiro para o bem comum.

Quando conheci Yacoff pela primeira vez eu estava cega pelo entusiasmo das descobertas. Era agosto de 2016. Vivia o início da minha capacitação em Pedagogia Social baseada em Antroposofia, entusiasmada pela potência em ser ponte entre a comunicação, o ativismo e o conhecimento recém-adquirido em Desenvolvimento Humano. Seguia o instinto do coração sem a consciência da fera que não discernia o fogo da madeira.

“Se você não sabe quem é e para onde vai, não pode se comunicar com o mundo. Fica difícil, sem esse entendimento primordial”. Eu que o diga. Minha idade é o tempo que Yacoff se dedicou a empreender em instituições antes de transformar seu próprio nome em um valor para a tomada de decisões de grandes líderes: 46 anos.

Na sala de espera daquele prédio, no entanto, eu senti pela segunda vez a alma paulista. A primeira, eu senti nos encontros do Plano Diretor do Conselho Participativo do meu bairro. Quando revelei a Yacoff esse sentimento descobri o trabalho feito naquele ambiente para comunicar com meu coração.

Então, entendi o valor de ter usado as duas horas daquele executivo sem ter clareza do propósito. Aquele encontro não era para ser feito em 2016, mas era crucial para desenvolver o discernimento que sinto agora, que me capacitou para escutar as chamas de quem dança com a vida.

No meio desses quatro anos eu senti vergonha de ocupar o tempo de um CEO sem objetivo claro. Hoje entendo que o mundo mudou. Não fui só eu que aprendi a valorizar a consciência para agir de forma sustentável. Sarkovas também se libertou do mantra da atitude, que ensinou a ação da comunicação, para falar da responsabilidade do futuro aos grandes líderes.


Yacoff Sarkovas

Yacoff Sarkovas

Sarkovas Consultoria
Linha do Tempo dos Papéis

1972 a 1986 – Empreendedor

Instituição: Informa Som

1986 a 1996 – Empreendedor, Produtor Cultural e Consultor em Marketing Cultural

Instituições: Articultura

1996 a 2010 – Empreendedor, Consultor em Atitude de Marca

Instituição: Significa

2010 a 2018 – Empresário, Executivo

Instituição: Edelman Significa e Zeno Group

Atualmente – Consultor em Propósito Corporativo; Conselheiro

Instituições: Sarkovas Consultoria; Ashoka , Fundação Amazônia Sustentável e Fundação OSESP

Ele não vem da comunicação nem do branding. Se formou na prática, pelo empreendedorismo: “Criei minha primeira empresa na área musical aos 18 anos”, conta Yacoff Sarkovas. Nascia a Informa Som, uma ponte entre o sonho de ser engenheiro eletrônico e trabalhar com música, uma grande paixão. “Fornecia boletins estatísticos para gravadoras e instituições de Direito Autoral. Enfrentei muitas dificuldades, mas a empresa cresceu e se consolidou. Aos 28 anos, eu já tinha uma condição confortável”. Foi aí que começou a dança: ele não queria restringir a vida às relações com executivos do mercado fonográfico e autoral. Vendeu a empresa e renasceu.

Fim da ditadura militar. A cultura vivia de passar o chapéu a raros mecenas ou depender da bilheteria. Ele, então, vislumbra acessar os recursos da comunicação das empresas e transforma o teatro contemporâneo do Brasil, produzindo nomes como Gabriel Vilela, Gerald Thomas, Bia Lessa e Antônio da Nóbrega,e autores como Becket e Kafka.“Em pouco tempo me tornei um produtor reconhecido, pois havia muito amadorismo”. Percebeu, então, que a relação simbólica entre marcas e cultura transcendia os projetos que produzia. 

Consolidou sua metodologia de planejamento, no inicio dos anos 1990, e tornou sua empresa, a Articultura, uma consultoria pioneira em marketing cultural. Os dois primeiros clientes foram o Estadão e a Natura, onde construiu o consagrado Natura Musical, entre dezenas de trabalhos.

Veio, então, o terceiro passo: tome uma atitude e salve sua marca. Yacoff considerou que as empresas não engajavam mais seus públicos simplesmente falando: era preciso agir. Expandiu sua metodologia, integrando e dando caráter estratégico à presença das marcas nas áreas social, ambiental, cultural, esportiva e de entretenimento. Mudou o nome da consultoria para Significa. Além da Natura, empresas como Votorantim, Itaú, Petrobras, Vale, Claro, EDP, Fiat, Pão de Açúcar, Whirlpool, Santander, SulAmérica, Pepsico e Nestlé estruturam suas atuações, nas áreas de percepção de valor com base no conceito que Yacoff criou.

Em 2010, a Edelman, a maior empresa de relações públicas do mundo, bateu à sua porta. As operações foram integradas e ele se tornou sócio e CEO da Edelman Significa. Viveu pela primeira vez a experiência de se reportar a matriz em Nova Iorque. Concluiu a venda das suas cotas em 2018, quando deixou a agência, depois de fazê-la crescer 170% de forma orgânica e conquistar muitas premiações do setor. Entre elas, a Agência do Ano, na primeira edição do Prêmio Jatobá, em 2017.

Desde então, como consultor, se concentra em revelar e levar o propósito das empresas para o centro de suas estratégias de negócio. Também passou a integrar Conselhos de Administração e a dar suporte voluntário a organizações da sociedade civil no meio ambiente, empreendedorismo social, cultura e educação.

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