* Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro
Frederic (Fred) Kachar, diretor geral da Editora Globo, com sede em São Paulo, chegou ao Rio esta semana para assumir o cargo de diretor geral (CEO) da Infoglobo – editora dos jornais O Globo, Extra e Expresso –, acumulando-o com o da Editora. Ele é também presidente da Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas).
Seu antecessor Marcello Moraes deixa a empresa e o cargo que ocupava desde o final de 2011. Em 14/5, Moraes convidou os diretores das publicações da Infoglobo para um café da manhã no dia seguinte, na Barra da Tijuca, onde mora, e deu-lhes a notícia de que havia sido demitido. A versão oficial é de que ele se desliga para desenvolver projetos pessoais. Jorge Nóbrega, braço-direito dos acionistas do Grupo Globo para a parte financeira, comunicou a Moraes a decisão da cúpula. Não foi João Roberto Marinho, o vice-presidente do Grupo que responde pelos impressos.
Fusão à vista? Marcello Moraes esteve na Infoglobo por 16 anos, e era diretor de Planejamento Corporativo, vindo de uma diretoria executiva de Mercado Leitor e Operações, quando foi conduzido à Direção Geral para substituir Paulo Novis, que se aposentava. Fred Kachar chegou a ser cogitado na ocasião, mas a ideia não prosperou, possivelmente por influência de Novis, que escolheu Moraes e o preparou com bastante antecedência para a transição.
Kachar chegou ao Grupo Globo em 1997, depois de passar pela consultoria Deloitte. Na Infoglobo, foi controller; no Diário de S.Paulo, então pertencente ao grupo, foi diretor financeiro; na Editora Globo desde 2002, sua atuação destacou-se pela joint venture com a editora americana Condé Nast, em 2010, o que trouxe para a Editora Globo as publicações com o selo Vogue.
O estopim para a troca de executivos teria sido o novo prédio. Previsto para ser inaugurado neste mês de maio, tem ligeiro atraso na obra, mas está praticamente pronto. Começou a ser construído quando se pactuou a venda dos edifícios antigos da rua Irineu Marinho, o que pagaria a obra.
O negócio – que o mercado especula ter sido em torno de R$ 100 milhões –, no último momento, não se concretizou. Do ponto de vista de gestão, esse tropeço seria pecado sem perdão. Roberto Irineu Marinho, presidente do Grupo, acompanhado pelos irmãos João Roberto e José Roberto, vice-presidentes, em recente (24/4/15) entrevista ao jornal Valor – que o Grupo compartilha como controlador com a Folha de S.Paulo –, a propósito dos 50 anos da TV Globo, mencionaram as subsidiárias do Grupo, sem uma palavra sobre a Editora Globo.
Repercutiu no mercado uma interrogação: os acionistas se esquecem da subsidiária, mas se lembram do principal executivo dela para o cargo em aberto?
Outro motivo para a mudança poderia ser uma preferência pessoal. Sem dúvida, Kachar, presidente reeleito da Aner desde 2011, é hoje o principal porta-voz do segmento revista, requisitado pela mídia para declarações. Em entrevista antiga ao site Comunique-se (6/2/13), afirmou sua intenção de estreitar o relacionamento da Aner com outras entidades ligadas aos veículos, como a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
Com aspas: “Nossos principais desejos são os mesmos: total liberdade de expressão e diminuição na tributação”. Além do perfil sério, o lado pop de Kachar, bem revista de celebridades, pode ser conferido, pela dica do cáustico blogueiro Ivson Alves, no camarote da Quem, ainda que de seis anos atrás. Sob a perspectiva dos acionistas, na mídia impressa, a menina dos olhos de ouro sempre foi o jornal, cabendo à editora um eterno papel de coadjuvante.
Roberto Marinho disse certa vez que lhe poderiam tirar tudo, menos o jornal. Os filhos, ainda que não tão radicais, zelam por essa tradição. A Infoglobo tem estudos para praticamente todas as situações gerenciais, para todo tipo de publicação, tudo mesmo. E pode pôr em prática qualquer projeto com uma agilidade invejável. Sabe-se que existe um estudo aprofundado, e antigo, na Infoglobo para sua fusão com a Editora Globo.
Em termos de mercado, agora, quando declinam as oportunidades nos impressos – mesmo em suas mais elaboradas opções digitais, como O Globo A Mais – pode ser: a hora é esta!