Ele escreve seu blog direto do hospital, onde se recupera de cirurgia
Diagnosticado com câncer no reto no início do mês, Fernando Albrecht, de 74 anos, editor da página 3 de Jornal do Comércio, de Porto Alegre, decidiu encarar com bom-humor a doença e seus desdobramentos. Assim, desde 13/3, quando se internou para a cirurgia de retirada do tumor, realizada com sucesso no último dia 18, vem “destratando” tanto o câncer quanto as mazelas do tratamento em seu blog diretamente do hospital.
Se na fase pré-cirurgia ele brincava com a doença em si e a expectativa da operação, agora, convalescendo, diverte-se – e aos leitores – com seus percalços. Reproduzimos a seguir o que ele publicou terça-feira (27/3):
“Viagens em volta do meu quarto
O título é de um escritor francês chamado Xavier de Maistre, do século XVIII, que influenciou fortemente Machado de Assis. No romance satírico, mostra viagens fantásticas feitas pelo autor entre sua cama, a cômoda etc. O detalhe é que ele o escreveu quando estava em prisão domiciliar. Por isso, eu me inspirei nele porque estou em prisão hospitalar.
Corredor
Ontem de manhã, tentei escapulir dos meus domínios para o corredor do Hospital São Francisco. Mas senti as pernas um pouco bambas – o abdômen estava doendo muito –; então, voltei ao meu quarto com os cenários fantásticos que eu posso criar sem nenhuma censura.
Guia Michelin
Não me entendam mal, mas a minha veia humorística me faz ironizar todos os aspectos relacionados a minha internação. Então, vamos começar com a análise do cardápio como se fosse feito por um crítico do Guia Michelin.
Na noite de domingo, a canja de galinha, antes rala, foi engrossada com batata amassada. Quase desmaiei de emoção. Finalmente, comida de verdade. Ontem de manhã, comi duas fatias de pão de sanduíche com manteiga e geleia, acompanhado de uma taça de café com leite. O Guia Michelin dá, no máximo, três estrelas para os restaurantes que analisa em todo o mundo. E a minha canja ganhou uma estrela. O que já é a glória para qualquer estabelecimento.
Picadinho
Ontem ao meio-dia, comi uma espécie de picadinho de galinha com molho acompanhado de arroz empapado. Devem ter algum motivo para escolher essa variedade. Porque até pensei em levar a sobra para casa, a fim de, eventualmente, usá-la como massa de vidraceiro. À noite, veio um picadinho com polenta mole. Muito bom. Que ganhou duas estrelas no meu Guia Michelin particular.
Aguardo com ansiedade o cardápio de hoje. Assunto sobre o qual informarei os quem queridos amigos e leitores.
Pressão
Aparentemente, voltando à vaca fria das pernas bambas que descrevi acima, deveram-se a uma ligeira queda de pressão, porque não sou hipertenso. Dizem que a natureza é sábia, no que eu discordo. Se fosse, a pressão do corpo humano seria de gás nitrogênio (que se põe nos pneus dos carros). Só perdem uma libra por mês e olhe lá. Se tivéssemos nitrogênio no corpitcho, como estou dizendo, ninguém teria queda de pressão.”