Novidades incluem reformulação do site, novo Manual de Redação, investimento em inteligência e mudanças no relacionamento com o Facebook
A Folha de S.Paulo vem anunciando uma série de novidades nas últimas semanas, em um processo de reformulação e novos projetos que deve prosseguir ainda pelas próximas. Dentre elas, promoveu uma reforma visual em sua plataforma digital, que acabou tendo pouco impacto por causa de uma decisão que acompanhou a mudança: a de deixar de postar notícias em sua página no Facebook.
Essa notícia repercutiu não apenas no Brasil, mas também em diversas publicações estrangeiras. A justificativa é que, com as recentes mudanças no algoritmo da rede social, a veiculação de notícias por veículos jornalísticos perdeu relevância e favoreceu a propagação das chamadas fake news.
Outra novidade que deve dar um novo rumo ao dia a dia da redação foi o lançamento do novo Manual da Redação. A nova edição levou 35 meses para ser produzida, é a primeira totalmente refeita desde 2001, trazendo inovações que vão de parâmetros para comportamento profissional nas redes sociais ao uso de drones.
Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Sérgio Dávila, editor executivo do jornal, falou sobre essas e outras novidades, como a ampliação do Núcleo de Inteligência da Folha e os preparativos para as eleições de 2018.
De cara nova
Como primeiro marco em comemoração aos 97 anos da fundação do jornal, a Folha apresentou em 1º de fevereiro uma versão totalmente reformulada de seu site. Dentre as principais novidades, estão a mudança na adaptação da página às diversas telas e dispositivos, que foi melhorada, e um esforço em deixar a publicação mais leve, facilitando o carregamento das notícias e diminuindo o consumo de dados em dispositivos móveis.
“Ela se apoia no seguinte tripé: identidade visual unificada entre a plataforma digital e a impressa, deixando ambas mais limpas e fáceis de ler; melhoria da acessibilidade e da experiência de navegar, com um site responsivo, de carregamento mais rápido; e a estreia de nosso novo publicador, o Gutenberg, produzido in house pela valorosa equipe de TI da Folha”, explicou Sérgio Dávila. Ele adiantou ainda que nos próximos meses a reforma visual atingirá também a plataforma impressa.
A nova página possibilitou ainda mais destaque ao time de colunistas e blogueiros do jornal e apresentou ao público uma nova tipografia, criada exclusivamente para o Grupo Folha.
Folha x Facebook
Como consequência das recentes mudanças no algoritmo do Facebook, a direção do jornal surpreendeu o mercado ao anunciar em 8 de fevereiro que deixaria de atualizar o conteúdo de sua página na rede social. Mesmo prevendo uma possível perda inicial de audiência, Dávila informou que o fluxo proveniente dessa plataforma já vinha perdendo relevância antes mesmo do anúncio dessa mudança no Facebook.
“Essa última decisão deles expulsa de fato do ambiente da rede social o conteúdo compartilhado por empresas de jornalismo profissional como a Folha”, afirmou Sérgio. “Ao privilegiar a interação pessoal, facilita a propagação de fake news, ainda que indiretamente ou como efeito colateral”.
Ele acredita que outras publicações também reavaliarão esse modelo de parceria, em que, segundo o executivo, a contrapartida é cada vez menos audiência e nenhuma remuneração. Em todo caso, a página da Folha no Facebook segue ativa, com quase seis milhões de seguidores, e o usuário não terá nenhum impedimento para compartilhar o conteúdo em sua própria timeline.
Repercussão
A decisão da Folha repercutiu não apenas no mercado brasileiro. Publicações de diversos países, como El País, The Wall Street Journal, The Guardian, Fox News, La Nación, Frankfurter Allgemeine, Nikkei, além das agências noticiosas Bloomberg e Reuters, deram destaque para o caso.
Durante um evento sobre mídia realizado nesta semana nos Estados Unidos, a chefe de parcerias jornalísticas do Facebook Campbell Brown chegou a afirmar que as empresas de jornalismo que considerarem que estar na rede social não é bom para seus negócios não devem ficar no Facebook. “O meu trabalho não é deixar felizes os publishers [das companhias jornalísticas]. O meu trabalho é garantir que existam notícias de qualidade no Facebook. E que os publishers que estão no Facebook tenham um modelo de negócio que funcione”, afirmou a executiva, ex-âncora da CNN, que foi contratada pela empresa no fim de 2016, em meio à crise das notícias falsas durante a eleição americana.
No mesmo encontro, Adam Mosseri, responsável pelo feed do Facebook, afirmou que, se a saída de jornais da rede social se tornar uma “tendência generalizada”, será um motivo de preocupação para a empresa. “Notícias são algo que interessam para muita gente. Eu não vejo um mundo em que não exista notícia no Facebook e certamente não vamos pressionar para que isso aconteça”, disse.
Manual de Redação
Ainda com relação às novidades preparadas para 2018, o tradicional Manual de Redação da Folha (Publifolha) ganhou uma nova versão na última semana. O projeto, que contou com coordenação de Uirá Machado, levou 35 meses para ser produzido e é a primeira versão totalmente refeita desde 2001. Além de servir como guia de estilo, que pode ser usado por pessoas de qualquer área que queiram aprimorar sua escrita, não só jornalistas, traz novidades que vão desde parâmetros para comportamento profissional nas redes sociais até o uso de drones.
Na próxima quarta-feira (21/2), a partir das 11h, o coordenador do projeto mediará em São Paulo um debate no Teatro Folha (av. Higienópolis, 618), ao lado de Carlos Eduardo Lins da Silva, Fernando de Barros e Silva, Eugenio Bucci e Alon Feuerwerker, para fazer uma avaliação externa da publicação. Mais informações sobre o Manual com Sônia Nascimento (11-5563-9385 ou [email protected]) e credenciamento para o evento com Bianka Vieira ([email protected]).
Núcleo de Inteligência
Batizado de NIF, o Núcleo de Inteligência da Folha foi criado em julho de 2017 e já vem apresentando importantes resultados para a redação do jornal, garante Sérgio Dávila. “Dele têm saído manchetes, feitas ‘a quatro mãos’ com as editorias do jornal, de reportagens que partem de grandes bases de dados”, destaca. “Dois exemplos recentes foram a realização do maior levantamento recente da música ouvida pelos brasileiros e uma pesquisa exclusiva sobre o crescimento de São Paulo”.
A ideia, que partiu do secretário de Redação Vinicius Mota, foi incorporar elementos em princípio “estranhos” à Redação, como matemáticos e profissionais de outras áreas, para que, sob comando do também secretário de Redação Roberto Dias, atuassem em conjunto com jornalistas experimentados em busca das notícias que as montanhas de dados escondem. Segundo apurou este Portal dos Jornalistas, o núcleo, que tem na coordenação Fábio Takahashi e contava originariamente com um único cientista de dados, está recebendo o reforço de outros três, quadruplicando sua capacidade de atuação.
Eleições 2018
Outro tema que agitará os bastidores do jornal nos próximos meses será a cobertura das eleições. “Será uma eleição histórica por diversos motivos, e talvez a mais imprevisível desde 1989”, prevê Sérgio. “É nossa prioridade número 0 em 2018. Montamos um núcleo de pautas mais propositivas, que vem sendo tocado pelo jornalista Marcos Augusto Gonçalves e conta em seu conselho informal com nomes como os de Samuel Pessoa, Nelson Barbosa, Ronaldo Lemos, Joel Pinheiro da Fonseca, Celso Rocha de Barros e Paulo Miguel. A ideia é ir além da cobertura do dia a dia. E temos um grande diferencial, que é poder contar com o Instituto Datafolha”.