A Igreja Universal, liderada pelo bispo Edir Macedo, entrou na Justiça contra o Intercept Brasil após a publicação de uma reportagem que revela que está em curso no Ministério Público de São Paulo uma investigação sobre um suposto esquema de lavagem de dinheiro da igreja.

A reportagem, publicada em julho de 2022, revelou um levantamento sigiloso do MPSP que mostra que a Igreja Universal recebeu, entre 2011 e 2015, cerca de R$ 33 bilhões apenas em depósitos bancários, “que nem de longe são a principal fonte de captação da Universal”, destaca o Intercept. Entre os depósitos estão transações sob suspeita. O Intercept analisou centenas de documentos e detectou que o maior beneficiado dessas operações foi o círculo mais próximo do bispo Edir Macedo.

A Igreja Universal foi procurada pela reportagem para se pronunciar sobre o caso, mas não deu retorno ao Intercept Brasil. Agora no final de fevereiro, a igreja entrou na justiça contra o veículo pedindo abertura de uma investigação policial por “divulgação sem justa causa” e “quebra de sigilo dos documentos revelados”.

O Intercept Brasil comentou sobre o caso: “Nossa equipe esmiuçou transações bancárias entre as mais de 100 empresas que compõem o império econômico de Edir Macedo. Mostramos como funciona a arquitetura financeira secreta da Universal, e não será um processo que irá nos impedir de continuar nossas investigações sobre o tema. A igreja tem um histórico de ações contra jornalistas por todo o Brasil, mas não vamos nos calar, nem dar um passo sequer para trás. Esta ação é mais um exemplo de quanto nosso trabalho incomoda”.

Entidades defensoras da liberdade de imprensa repudiaram a ação da igreja. O Instituto Vladimir Herzog classificou o ocorrido como “uma inaceitável forma de perseguição e de tentativa de intimidação a um veículo jornalístico que traz informações relevantes, verificadas e de inegável interesse público. (…) É absolutamente fundamental, portanto, que a Justiça não dê vazão ao pedido arbitrário perpetrado pela Igreja Universal e faça valer os preceitos constitucionais que asseguram a liberdade de imprensa e o direito à informação a todos os cidadãos brasileiros”.

IVH vs. governo Bolsonaro

O Instituto Vladimir Herzog, inclusive, teve vitória na justiça contra o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A 22ª Vara Cível Federal de São Paulo decidiu em primeira instância pela extinção de um processo do antigo governo que questionava o enquadramento do instituto na Lei Rouanet.

Segundo a Secretaria da Cultura do governo Bolsonaro, o instituto não poderia enquadrar-se na lei como instituição cultural pois realiza também ações na área de Jornalismo e Liberdade de Expressão. Mas a própria União reconhecia várias atividades do Vladimir Herzog como artísticas e culturais. A Justiça julgou esta avaliação anterior do governo como contraditória.

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