Executivo e empresário eclético, inquieto e ousado, não se pode dizer que Roberto Muylaert tenha enfrentado ao longo da vida o tédio ou algum tipo de monotonia. Ao contrário, seria possível afirmar até com relativa tranquilidade tratar-se de um típico profissional ?três em um? ? e até um pouco mais ?, fruto de uma trajetória que combinou jornalismo, gestão e inovação, sempre ou quase sempre saindo na frente. Foi ele quem praticamente introduziu no Brasil a função de publisher, num tempo em que era sacrilégio combinar estado e igreja no Jornalismo (?uma grande bobagem, porque um não vive sem o outro, embora ambos precisem se respeitar na defesa do público?, diz); foi pioneiro na arte de captação de recursos para atividades culturais, quando ninguém sabia direito o que era isso (acabou escrevendo um livro sobre Marketing Cultural, que lhe valeu um Jabuti e contribuiu de forma decisiva para a implantação dessa atividade no País); foi o primeiro homem genuinamente de comunicação a dirigir a TV Cultura e ali ficou por três gestões, fazendo uma revolução na emissora (não sem ferir interesses e enfrentar resistências de toda sorte); presidiu a Bienal (fruto de sua capacidade administrativa, mas também da capacidade de gerar recursos para a instituição,) nela organizando uma das mais relevantes mostras de sua história, Tradição e Ruptura, em que a estrela maior foi a arte plumária indígena; visionário, também introduziu no Brasil seminários e eventos do gênero, inclusive e sobretudo internacionais, quando praticamente nada se fazia nesse campo por aqui (e ganhou com essa atividade um bom dinheiro, abrindo caminho para que outros entrassem e agigantassem esse negócio); entrou no ramo das publicações customizadas quando isso era relativamente desconhecido no País e fez a histórica revista Ícaro, para a Varig, que acompanhou por anos a vida de algumas gerações de viajantes que até hoje sentem falta e saudades de uma publicação com aquele perfil (e também ganhou um bom dinheiro nos muitos anos em que editou a revista); largou um dos melhores empregos que algum executivo da área editorial poderia almejar na vida (o de publisher de Veja e Exame) para trabalhar numa editora pequena e, logo em seguida, montar sua própria empresa, fazendo-o por preferir ser dono de um negócio pequeno do que empregado de um negócio grande (e acabou tempos depois voltando a ser empregado ? editor da revista Visão ? ao vender a sua empresa para Henry Maksoud, embolsando um dinheiro que então equivalia a mais ou menos cinco anos dos bons salários que ganhou na Editora Abril). Jornalistas&Cia Protagonistas da Imprensa Brasileira ? Roberto Muylaert: engenheiro das letras, do jornalismo e da cultura Confira também trechos da entrevista em vídeo, nos quais Roberto fala sobre a criação da revista Exame, o período na presidência da TV Cultura e que hoje as grandes fortunas não são mais feitas com aço e concreto