Gilberto Menezes Côrtes anuncia parte dos pagamentos e expõe as dificuldades a J&Cia
Desde o início de fevereiro, os profissionais do Jornal do Brasil decidiram entrar em estado de greve, ou seja, situação que alerta para a possibilidade de, a qualquer momento, ser deflagrada uma greve. Isso foi decidido em assembleia no Sindicato dos Jornalistas, como forma de reação ao atraso no pagamento dos salários de dezembro e janeiro.
A direção do Sindicato reuniu-se com os diretores do JB – presidente Omar Peres; vice-presidente editorial Gilberto Menezes Côrtes; vice-presidente administrativo Antonio Carlos Affonso; diretor de Redação Toninho Nascimento –, além da Comissão de Jornalistas, representando a redação. Peres reconheceu a dívida com os trabalhadores, mas argumentou não ser possível marcar uma data para saldar os atrasados, pois isto depende de vários acordos financeiros em andamento. Alegou que o atraso deve-se ao fato de ter precisado rever a sustentação do jornal, e mencionou ainda um agravamento da situação, com o bloqueio de contas para pagar ações judiciais da administração anterior.
No dia em que o JB fez um ano que voltou às bancas (25/2), Menezes Côrtesconversou com Jornalistas&Cia sobre a crise atual: “Estamos pagando uma parte esta semana. Menores salários, até R$ 3,5 mil, já foram pagos: dezembro, janeiro e 13º. Os atrasados de dezembro e janeiro estão programados. Dezembro será pago até terça-feira (26/2). A redação está trabalhando em sistema de rodízio, um dia de trabalho e um dia de folga.
“Há cinco meses o jornal vem dando prejuízo. Contávamos com o leilão de um imóvel na avenida Atlântica, mas ele não saía, sob alegação da retração do mercado imobiliário. Era para sair em novembro ou dezembro, mas parou por causa de burocracia de cartório. Agora, está para sair depois do Carnaval”.
Cronologia dos contratempos
Menezes Côrtes prossegue: “Na ocasião do lançamento do jornal, contávamos com o caixa dos anúncios para fazer investimentos. Quando tínhamos esse primeiro caixa, logo em março de 2018, vieram advogados trabalhistas e pegaram cerca de R$ 200 mil. Perto da Copa do Mundo, estávamos com R$ 650 mil bloqueados. Uma das ações que nos levou quase R$ 250 mil era da Gazeta Mercantil! Isso nos tirou o que poderia ter sido investido na largada.
“O JB nunca conseguiu vender o que precisava vender. A venda de jornal em banca é uma tragédia em todo o Brasil. Em nosso caso, tivemos abortados nossos planos de investimento com essas ações da administração anterior. E dos R$ 650 mil que tivemos bloqueados, a grande mordida é dos advogados trabalhistas. Desse total, R$ 250 mil nem são do Jornal do Brasil! Digo que o JB não tem problema de pagar, tem problema de receber.
“O jornal é impresso e distribuído por O Globo, e até vende bem em banca, cerca da metade do que O Globo vende. Claro que sem contar os assinantes, os pacotes, nem se compara. O JB continua saindo, continua sendo um produto bom. Entrei no JB, pela primeira vez, em 1972. Já fui todas as coisas no jornal, essa é a quarta vez – até no tempo do Nelson Tanure fiz trabalhos para eles, chamado pelo Ricardo Boechat e pela Sônia Araripe. Hoje, estamos todos na expectativa, lutando bravamente. Apesar de algumas pessoas só terem essa fonte de renda, vejo um espírito de equipe”.