A justiça de Santa Catarina condenou a jornalista Schirlei Alves a um ano de prisão em regime aberto e a pagar R$ 400 mil a um juiz e a um promotor. A repórter foi responsável por publicar o caso que mostrou os ataques proferidos contra a influenciadora digital Mari Ferrer durante um julgamento no qual era vítima de estupro.

Em 2020, Alves publicou a reportagem Julgamento de Influencer Mariana Ferrer termina com tese inédita de ‘Estupro Culposo’ e advogado humilhando jovem, na qual revela detalhes da audiência em que o advogado de defesa, o promotor e o próprio juiz atacaram a vítima antes de inocentar o acusado. O promotor Thiago Carriço de Oliveira afirmou que “não havia como o empresário André de Camargo Aranha saber, durante o ato sexual, que a jovem não estava em condições de consentir a relação, não existindo, portanto, a intenção de estuprar”. O réu foi absolvido apesar da alegação de Ferrer de que foi drogada e violada e das evidências que a corroboram.

Após a publicação da reportagem, Alves recebeu diversos ataques nas redes sociais por causa de seu trabalho. Ela foi obrigada a fechar seus perfis nas plataformas devido ao assédio sexista incessante, e para preservar sua segurança física.

“Meu único desejo era expor a verdade e foi isso que fiz. Apesar do enorme custo pessoal e profissional, eu faria isso de novo hoje”, declarou Schirlei Alves. “Agora, espero que o sofrimento de Mari Ferrer e o meu possa levar a mudanças para que mais mulheres não tenham que passar por aquilo a que fomos submetidas. Nós merecemos o melhor”.

Em nota publicada na quarta-feira (15/11), o Intercept Brasil escreveu que a condenação de Alves, proferida pela juíza Andrea Cristina Rodrigues Studer, “é totalmente infundada, repleta de falhas processuais e extremamente desproporcional. Studer foi a única juíza disposta a aceitar o caso apresentado por seus colegas na vara, depois que muitos outros se recusaram devido ao conflito aparente. Nossas moções para transferir o caso para um fórum neutro foram negadas”. O veículo também destacou que consultou diversos especialistas jurídicos sobre a condenação, que concordaram unanimemente que a decisão não tem precedentes.

O Intercept também informou que Rudson Marcos, o juiz do caso Mari Ferrer, recebeu uma advertência formal do Conselho Nacional de Justiça na terça-feira (14/11). De forma unânime, o Conselho entendeu que Marcos agiu de forma negligente ao permitir e perpetuar a humilhação de Mari Ferrer em sua sala de audiências. Para o Intercept, a decisão demonstra “o extremo da má conduta e a absoluta legitimidade da reportagem de Schirlei no Intercept”.

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