Carlos Heitor Cony nasceu em 14 de março de 1926, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ), filho do jornalista e funcionário público Ernesto Cony Filho.
Veio ao mundo com um problema de dicção e só pronunciou suas primeiras palavras aos cinco anos de idade. Por isso, foi introduzido na leitura e na escrita em casa, pelo próprio pai. Manifestou o desejo de tornar-se padre aos 18 anos e ingressou no Seminário Arquidiocesano de São José, em 1938. Em 1941 livrou-se definitivamente do problema da fala, um freio na língua que o impedia de pronunciar a maioria dos ditongos. Começou a perceber que o seu futuro não seria o sacerdócio religioso.
Deixou o seminário em 1945 e, no ano seguinte, foi aprovado na Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil, onde começou o curso de letras neolatinas, mas o abandonou pouco depois. Em 1947, cobriu as férias de seu pai no Jornal do Brasil (RJ) e, depois, tornou-se funcionário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Trabalhou como redator na Gazeta de Notícias (RJ). Passou dois anos (1948 e 1949) no Curso de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), na arma da Infantaria.
Começou a trabalhar como redator na rádio Jornal do Brasil (RJ), em 1952. Começou, também, a escrever romances. O primeiro a ser premiado foi A Verdade de Cada Dia, que venceu o Prêmio Manoel Antônio de Almeida, na categoria Romance, em 1957. O primeiro a ser publicado foi O Ventre, em 1958, pela editora Civilização Brasileira, que firmou com o escritor um contrato de publicação de novos romances ainda não escritos, atitude não usual na época. Colaborou no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, com artigos sobre cinema, literatura e balé. Seu ensaio sobre Charles Chaplin (1889-1977) sairia depois em livro.
Foi trabalhar no Correio da Manhã (RJ), em 1960, como copidesque. Na renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, ficou detido por algumas horas na Chefatura de Polícia do Rio de Janeiro. No ano seguinte, passou a revezar com Octávio de Faria (1908-1980) na coluna Da arte de falar mal, artigos que comporiam o livro de crônicas Tijolo de Segurança, em 1963. Nesse ano, passou a escrever uma coluna no jornal Folha de S.Paulo (SP), na página de opinião, dividindo o espaço, desta vez, com Cecília Meireles (1901-1964).
Foi processado pelo ministro da Guerra, em 1964. Em 1965, escreveu, no Correio da Manhã, uma crônica contra a decretação do Ato Institucional nº 2, pelo governo do golpe militar perpetrado no ano anterior. Entrou em atrito com a direção do jornal e demitiu-se. Convidado pela direção da TV Rio (RJ), tornou-se escritor de telenovela (Comédia Carioca), mas foi substituído após 27 capítulos, por problemas com a censura. Fez parte dos Oito da Glória – com Mário Carneiro, Glauber Rocha (1939-1941), Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), Jaime Azevedo Rodrigues, Flávio Rangel (1934-1988), Antônio Callado (1917-1997) e Márcio Moreira Alves (1936-2004) –, grupo de intelectuais que foram presos pela Polícia do Exército por manifestar-se contra a abertura da Conferência da Organização dos Estados Americanos (OEA) em frente ao Hotel Glória, no Rio de Janeiro. Seria preso outras cinco vezes durante o período.
Fez parte da equipe que lançou o jornal-laboratório O Sol, em 1967. Foi para Cuba, onde ficou até 1968. Seu romance Matéria de Memória foi adaptado para o cinema por Paulo Gil Soares e, depois, por Fernando Campos, e chegou às telas como Um homem e sua jaula, com Helena Ignez e Hugo Carvana comandando o elenco. Na volta de Cuba, foi imediatamente preso. Libertado, foi trabalhar nas revistas do Grupo Manchete, convidado por Adolpho Bloch (1908-1995). No grupo, lançou as revistas Ele e Ela (1969) e Fatos (1985), dirigiu as revistas Desfile (1971) e Fatos&Fotos (1982) e atuou na revista Manchete.
No dia 13 de dezembro, enquanto era divulgado o decreto do Ato Institucional nº 5, foi novamente detido, ficando quase um mês preso, dividindo cela com Joel Silveira (1918-2007). Um novo filme baseado em sua obra foi, então, lançado: Antes, o Verão, de Gerson Tavares, com Norma Benguell e Jardel Filho no elenco. Começou a trabalhar no projeto das Memórias de JK.
Em 1970, convidado pelas Edições de Ouro, iniciou um trabalho de adaptação de clássicos da literatura internacional que renderia muitos títulos. No ano seguinte escreveu o seu livro mais festejado pela crítica: Pilatos. Publicado em 1974, o romance teve sua primeira edição de 5 mil exemplares rapidamente esgotada. Uma série de reportagens publicada na revista Manchete (RJ), em 1972, inspirou o seu primeiro livro de não-ficção, Quem matou Vargas? Seguem-no O caso Lou e JK, a voz da História.
Em 1975, escreveu o roteiro de Paranóia, filme dirigido por Antônio Calmon, com Norma Bengell e Anselmo Duarte. Escreveu também o argumento e os diálogos do filme Os trombadinhas, lançado em 1979. Ficou de dezembro de 1975 a julho de 1976 na Europa, onde, entre outras reportagens, cobriu para a Manchete o casamento da rainha Sylvia, na Suécia.
Participou da cobertura da visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980, trabalho que renderia novo livro-reportagem: Nos passos de João de Deus, publicado em 1981. Como diretor de teledramaturgia da Rede Manchete de TV, apresentou os projetos e as sinopses das telenovelas A Marquesa de Santos (1983), Dona Beija (1985) e Kananga do Japão (1989), esta em parceria com Adolpho Bloch.
Pediu demissão da Bloch em 1990, ficando apenas como cronista freelancer na revista Manchete. Participou, também, da segunda visita de João Paulo II ao Brasil, em 1991, desde Roma. Elaborou projetos especiais para a Rede Manchete de TV e a editora Bloch.
Voltou, finalmente, à imprensa diária em 1993, atendendo a convite de Jânio de Freitas, assumindo a coluna Rio, na Folha de S.Paulo, em substituição a Otto Lara Resende (1922-1992). Lança, em 1995, seu romance mais bem-sucedido comercialmente: Quase memória, dedicado a Mila, cadela que o acompanhara por 13 anos e inspirado nas lembranças de seu pai, falecido em 1985. Com esse romance venceu dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (nas categorias Melhor Romance e Livro do Ano/Ficção) e vendeu mais de 400 mil exemplares.
Iniciou, em 1995, uma parceria literária com a jornalista e escritora Anna Lee, que já rendeu uma Menção Honrosa no Prêmio Jabuti – o de 2004, na categoria Reportagem/Biografia -, pelo livro O Beijo da Morte, e duas coleções de livros voltados ao público juvenil: a Carol e o Homem do Terno Branco, composta pelos livros O Mistério das Aranhas Verdes (2001), O Mistério da Coroa Imperial (2002), o Mistério das Jóias Coloniais (2003), O Mistério da Moto de Cristal (2004) e O Mistério Final (2007), pela Editora Salamandra; e a Duda, Jacaré & Cia., com os romances As Rapaduras São Eternas (2007), O Monstro da Lagoa de Abaeté (2009) e Nos Bastidores da TV (2012), pela Editora Galera Record.
Em 1996, passou a escrever aos sábados no caderno Ilustrada, da Folha. Ocupou, no mesmo ano, uma cadeira no Conselho Editorial do jornal paulista. Em 1998, recebeu a comenda da Ordre dês Arts et des Lettres, concedida pelo governo da França, no grau de Chevalier. Cobriu a Copa do Mundo de Futebol para a Folha de S.Paulo. Em março do ano 2000 foi eleito para a cadeira número 3 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Artur de Oliveira (1851-1882), tomando posse dois meses depois.
Desde 2001, participa do programa Liberdade de Expressão na rádio CBN, com Viviane Mosé, Arthur Xexéo e Heródoto Barbeiro (que deixou a emissora em março de 2011). Foi colunista do quadro Diário Íntimo, exibido pela Band News.
Recebe pensão do governo federal, decorrente da legislação que autoriza pagamento de indenização àqueles que sofreram danos materiais e morais durante a ditadura militar.
Publicou perto de uma centena de livros, além das adaptações literárias e traduções. Venceu dezenas de prêmios jornalísticos e literários. Suas colunas são reproduzidas em diversos jornais do País.
Sobre ele, o Instituto Moreira Salles dedicou uma edição da revista Literatura Brasileira, em 2001, e o jornalista e escritor Cícero Sandroni escreveu o livro Quase Cony, publicado como parte da série Perfis do Rio, da editora Relume-Dumará, em 2003. A doutora em Linguística Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade, por sua vez, escreveu As crônicas de Carlos Heitor Cony e a manutenção de um diálogo com o leitor, trabalho publicado no livro Diálogos na fala e na escrita (Humanitas, 2005), organizado por Dino Preti.
Arquivo de Jornalistas & Cia.