A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiaram a decisão da Justiça do Amazonas de proibir o jornal O Globo e a colunista Malu Gaspar de citarem o nome da empresa Samel em reportagens sobre o uso da proxalutamida, medicamento em teste para tratamento contra a Covid-19.
A decisão, liminar, foi tomada pelo juiz Manuel Amaro de Lima, da 3ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho de Manaus. Os problemas nas pesquisas patrocinadas pela Samel, além do fato de as experiências não cumprirem determinados requisitos, têm sido reportados por Malu Gaspar desde abril.
O Globo também foi obrigado a excluir as reportagens sobre a empresa e a publicar uma resposta da Samel. Na decisão, o juiz criticou o jornal por publicar “novas matérias com o mesmo conteúdo, bem como a evidente produção de documentos inverídicos com o fito de induzir uma narrativa em desconformidade com os fatos, o que evidencia excessos no tocante à liberdade de imprensa”. O Globo irá recorrer da decisão.
O mesmo juiz censurou também o Portal do Holanda, do jornalista Raimundo Holanda, que repercutiu as informações das reportagens de O Globo.
Em nota, a Abraji escreveu que vê com preocupação a decisão da Justiça contra veículos que estão cumprindo “seu papel de informar e jogar luz sobre questões de interesse público relacionadas à ética médica e científica”, e que a decisão “inviabiliza a continuação das reportagens, prejudicando o direito à informação de todos os cidadãos”.
Ricardo Pedreira, diretor-executivo da ANJ, declarou que “a decisão da Justiça do Amazonas é mais um lamentável caso de censura, em completo desacordo com o que determina a Constituição. (…) O que se espera é que o próprio Judiciário, em outra instância, reestabeleça a livre atividade jornalística”.