A juíza Tula Corrêa de Mello, da 20ª Vara Criminal da Justiça do Rio de Janeiro, ordenou em 12/8 a censura de uma reportagem publicada na revista piauí sobre o humorista Marcius Melhem, acusado de assediar sexualmente pelo menos oito mulheres colegas de trabalho.

A suspensão será pelo tempo que durarem as investigações, com multa de R$ 500 mil, recolhimento dos exemplares da revista nas bancas e remoção da reportagem do seu site em caso de descumprimento. A piauí está contestando a decisão judicial que submete a revista a censura.

Em texto que publicou sobre o assunto nessa quarta-feira (25/8), o repórter João Batista Jr. explicou que, em 5/8, entrou em contato com Isabela Abdala, assessora de Melhem contratada em dezembro do ano passado para lidar com as acusações, para contar o que havia apurado e pedir uma entrevista com o humorista.

A assessora pediu que as perguntas fossem por escrito e, ao final do prazo para enviar as respostas, pediu mais tempo. “Durante esse período, Melhem, por meio de seus advogados, entrou na Justiça pedindo que a revista fosse submetida a censura prévia e, assim, impedida de publicar a reportagem em apuração”, explicou o repórter.

A juíza determinou também a investigação do vazamento das informações do inquérito. Batista Jr. lembrou que, “no direito criminal, a guarda de sigilo judicial cabe aos funcionários da Justiça e às partes envolvidas no processo, e não aos jornalistas”.

Em 13/8, depois que a juíza já havia suspendido a publicação da reportagem, a assessora respondeu à revista com um e-mail, assinado pelos advogados de Melhem, no qual explicava que “em respeito ao sigilo decretado nos processos”, o humorista não poderia “responder aos questionamentos”.

Batista Jr. foi o responsável pela reportagem O que mais você quer, filha, para calar a boca?, publicada em dezembro de 2020, que abordou os desdobramentos das acusações de assédio contra Melhem. O humorista chegou a processar a piauí por fazer “matéria mentirosa e tendenciosa”, mas a Justiça de São Paulo julgou a demanda como improcedente.

A Associação de Jornalismo Digital (Ajor), a qual este Portal dos Jornalistas é associado, repudiou a decisão: “Censurar os meios de comunicação é ferir de morte um dos pilares da democracia, a liberdade de expressão e de imprensa”.

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