Por Kátia Morais, editora de J&Cia em Brasília
Oito de janeiro. Nunca na história do País tantas imagens divulgadas pelo trabalho incansável da imprensa revelaram tamanha destruição e violência contra a democracia e os profissionais de imprensa como nesse fatídico domingo. Foi ultrajante nos depararmos com cenas de tamanha barbaridade, na data em que se celebraram o Dia Nacional da Fotografia e o Dia do Fotógrafo. Profissionais sofreram ameaças e violência física e psicológica. Muitos tiveram seus equipamentos roubados ou avariados. Os relatos das vítimas das agressões são impressionantes.
Não por acaso a data dos atos terroristas em Brasília aproxima-se do 6 de janeiro, dia em que, nos Estados Unidos, em 2021, o Capitólio foi invadido e violentado por membros de movimentos antidemocráticos ligados à extrema direita americana e simpatizantes do então presidente Donald Trump.
No Brasil, as agressões também cresciam a olhos vistos desde o início do governo Bolsonaro, simpatizante e defensor do ex-presidente americano.
Ainda assim, causou estranheza que parte da imprensa, até os lamentáveis acontecimentos do dia 8, ainda tratasse como “manifestantes” ou com outros termos neutros e sutis os que defendiam abertamente, com armas e discursos ameaçadores, um golpe de Estado − ou seja, um crime contra a democracia. O estrago promovido pelos terroristas em Brasília mostrou o quanto essa parte da imprensa subestimou os agentes das sombras que ameaçam a sociedade e a democracia brasileiras.
Mas se existe um lado bom da história é o de reconhecer que os ataques e a tentativa de golpe de Estado fracassaram. As instituições e o atual governo certamente sairão mais fortalecidos − e atentos − após esses funestos acontecimentos. E a imprensa aprendeu que os inimigos da democracia são também seus inimigos, e que é imprescindível identificá-los como tais e combatê-los desde sempre. Sem democracia não há imprensa livre, porque imprensa sempre haverá. E vice-versa.