Por Luciana Gurgel
Há muitos anos, a saudosa revista Domingo do saudoso Jornal do Brasil publicou matéria sobre os então chamados “ecochatos”. Trazia na capa a foto de uma amiga de infância, bióloga, que viria a fazer uma brilhante carreira na área de política ambiental.
O que era excentricidade passou a ditar os rumos da economia. Empresas globais e o supermercado da esquina veem-se desafiados a adequar práticas e produtos a demandas da sociedade e da ciência.
E para quem está desconfortável com a geração de consumidores preocupados com o que compram, comem e se movem, um aviso: pode ficar ainda pior. A consciência social e ambiental tende a passar determinar cada vez mais onde aplicar o dinheiro.
A consultoria de investimentos americana ImpactAssets publicou um relatório mostrando como a visão de mundo influencia as estratégias financeiras dos millenials. O trabalho consolidou pesquisas para chegar a uma conclusão: a mentalidade dos investidores jovens mudou de dólares e centavos para dólares e bom senso, o chamado investimento de impacto.
Michael Sidgmore, um dos autores, salienta que a informação é um elemento central nesse processo. Diante da combinação de fundamentar escolhas financeiras em valores sociais e o acesso a tecnologias que proporcionam transparência em relação a dados e a opiniões sobre onde aplicar, a importância da reputação torna-se vital para quem depende de investidores.
Sidgmore acha até que há quem esteja aberto a aceitar retornos sociais mais elevados mesmo a custa de ganhos mais modestos. Ele crê que o futuro das finanças será moldado por investidores jovens e pelos mais maduros que reconhecem essa nova mentalidade. E que vão pensar muitas vezes antes de despejar suas economias em negócios poluentes ou não éticos.
Cientistas preocupados com as fake news
Enquanto isso, a ciência corre para estancar a emergência climática. E encontrou mais um obstáculo: as fake news. O alerta veio da Suécia esta semana.
Durante a apresentação de um relatório sobre aquecimento global na Academia Real de Ciências da Suécia, um grupo de cientistas apontou a desinformação como ameaça para a gestão da crise ambiental. Um dos autores acha que a desinformação é capaz até de afetar a cooperação internacional necessária para travar o aquecimento do planeta.
O trabalho aborda o paradoxo das mídias sociais para o problema do clima. De um lado, reconhece o valor das plataformas no impulso a mudanças comportamentais e no engajamento de cidadãos em protestos em favor da preservação. Mas aponta preocupações usuais com a falta de controle e com a dificuldade de separar fato e ficção.
As plataformas e os algoritmos são chamados de “a mão invisível”. E os autores indagam: será ela capaz de mover o mundo por caminhos mais sustentáveis?
Sabmyk, a nova teoria da conspiração a bordo do Telegram
As primeiras redes que vêm à mente no debate sobre desinformação são as gigantes digitais − Facebook, Twitter, Instagram. Mas estudiosos têm voltado as baterias para as redes menores e não moderadas. E para os serviços de mensagem.
A ONG britânica Hope Not Hate fez uma investigação sobre a mais nova teoria da conspiração da praça, a Sabmyk. Que tem mais de 100 grupos no Telegram e ganha 40 mil seguidores por dia.
Foi apontada como a sucessora do QAnon, depois que os adeptos do movimento associado a Donald Trump frustraram-se ao verem a saída dele do cargo sem que as profecias do “grande despertar” tivessem se confirmado.
O ideário é de um nonsense de espantar. Mistura princesas, espadas ancestrais e George Soros em uma salada digna de um quadro de Salvador Dali.
Mas é coisa séria. Os grupos arrebanharam mais de 1 milhão de pessoas desde janeiro. E a Hope Not Hate acredita que o modelo de manipulação online anônima é uma das maiores ameaças sociais que temos pela frente. Deve ser a tal mão invisível a que os suecos se referiram.
Em MediaTalks by J&Cia, leia mais sobre a Sabymik, sobre o alerta dos cientistas suecos para a ameaça das fake news ao controle do aquecimento global e também sobre outros assuntos internacionais que se destacaram na última semana.
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