Por Maurício Menezes

Durante muitos anos, eu me apresentei no Prêmio Comunique-se, que era o Oscar do jornalismo no Brasil. Eu via, lá em São Paulo, jornalistas do Brasil inteiro e quem participava com a gente era Cid Moreira. Todo ano ele estava lá e nós tínhamos sempre, durante pelo menos dois dias, uma convivência muito interessante, com ele e a querida Fátima, dentro do Hotel Transamérica.

Era uma curiosidade, porque depois que a gente terminava o nosso trabalho, nós nos sentávamos no saguão do hotel e começávamos a beliscar, contar histórias, falar bobagem e o Cid comia cebola crua. Eram pratos e mais pratos de cebola crua. Ele comendo aquilo e a Fátima ficava apavorada.

Cid Moreira tinha uma coisa interessante, porque nós às vezes precisávamos nos reunir lá no restaurante, e a gente ficava num canto, para ensaiar. E TODO mundo que passava interrompia o nosso trabalho. Chegavam para o Cid Moreira e falavam:

– Ô Cid, você pode gravar aqui um negócio para mim, no meu telefone celular? Boa noite! Você pode?

Aí ele dizia:

– Boa noite!

– Não ficou bom. Fala de novo?

– Boa noite!

E outro:

– Pode gravar uma mensagem para o meu cunhado? O nome dele é Geraldo.

– Geraldo, tudo bem? Boa noite!

Ele não parava, atendia todo mundo. Teve uma época em que eu pedia a ele para se sentar atrás de uma pilastra, porque todo mundo que passava vinha falar com a gente.

Uma vez, eu estava no restaurante do hotel, entrei com ele, e o Zuenir Ventura estava lá sentado. Zuenir me segurou pelo braço e falou:

– Maurício, tudo bem?

Cid Moreira viu e falou:

– Maurício, aquele é o Zuenir Ventura?

– É.

Quando o Zuenir se levantou para sair, eu disse:

– Zuenir, vem cá, vou te apresentar aqui o Cid Moreira.

Eles não se conheciam! Um trabalhava no Globo, outro trabalhava na Rede Globo, e nunca tinham se falado. Eu apresentei os dois, e olha como foi que tomei um furo mundial de reportagem. Fui incapaz de juntar aquela cena, dois dos maiores jornalistas do Brasil e não registrei, não fiz uma foto, não anotei, não escrevi nada sobre aquilo.

Mas o grande acontecimento meu com o Cid Moreira aconteceu um dia em que estávamos ensaiando o que a gente ia fazer à noite e a minha filha Verônica ligou, porque queria saber se eu tinha chegado bem em São Paulo, não sei mais o quê:

– Cid, deixa eu atender minha filha aqui, que ela está querendo saber se eu cheguei bem e tal.

− Deixa que eu falo com ela.

Botei o celular no viva-voz, aproximei dele:

– Oi Verônica, tudo bem?

E a minha filha:

– Helinho, deixa eu falar com meu pai. Eu estou trabalhando aqui, quero só saber se ele chegou bem.

Verônica achou que era o Helinho, ele imitava todo mundo. [NR: Hélio Júnior é humorista e participa do show Plantão de Notícias, conduzido por Maurício Menezes]

– Verônica, é o Cid Moreira.

– P****, Helinho, deixa de ser chato, passa para o meu pai aí.

E ele:

– Maurício, sua filha está nervosa…

Beijo, Cid.


Maurício Menezes

A história desta semana é uma colaboração de Maurício Menezes, que foi repórter do Estadão no Rio por 25 anos, trabalhou mais de 40 anos na rádio Globo e hoje está na Tupi. Criou o Plantão de Notícias, um show de humor na TV e no teatro sobre os causos da imprensa brasileira, que reproduziu no livro Plantão de Notícias: os erros da imprensa.

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