* Por Cláudio Amaral ([email protected])
Tive mais de um mestre nestes 44 anos de Jornalismo. Mas tem um que se destaca mais do que os outros todos: Irigino Camargo.
Por mais de 30 anos ele foi dono, diretor de Redação e diretor responsável no Jornal do Comércio de Marília (SP). Foi lá, no JC, que eu comecei. Primeiro como correspondente em Adamantina, minha cidade natal. Depois como repórter e secretário de Redação em Marília. E finalmente como correspondente em São Paulo. Conheci Irigino Camargo pessoalmente em 1968, numa viagem que fiz a Marília em companhia de meus colegas que jogavam tênis de mesa pela equipe de Adamantina.
Eu era do time B, mas tinha o maior orgulho disso. Na época eu já era correspondente em Adamantina e fui visitar o homem que me dera a primeira oportunidade no Jornalismo Profissional, a partir de 1º/5/1968. Foi uma visita inesquecível. Até porque ele disse, diplomaticamente, que meus títulos eram bons, mas poderiam melhorar ainda mais. E me deu um livro dedicado inteirinho à feitura de títulos para jornal.
Devorei o livro e me tornei fã de títulos, sem jamais ter deixado de cuidar dos textos, minha grande paixão. No final de 1968, numa nova visita ao JC, em Marília, falei com um amigo, por telefone, e disse a ele que estava aguardando um convite para me transferir para a sede do jornal. Irigino escutou e me convidou, assim que encerrei a ligação.
Cheguei a Marília no dia 5 de janeiro de 1969, um domingo. E na 2ª.feira, logo cedo, estava no jornal. Saí a semana inteira com o repórter Francisco Giaxa para conhecer locais e pessoas. Em seguida, o mestre me instalou numa pequena mesinha que tinha uma máquina de escrever em cima e ali eu meti as caras nos textos e títulos. Nos primeiros dias, ainda me adaptando à cidade grande ? ou pelo menos bem maior do que Adamantina ? escrevi algo assim: ?A Prefeitura e a Câmara funcionam no Passo Municipal…?. Irigino me corrigiu no ato: ?Neste caso, é paço com ç. Com ss é passo de andar, caminhar?. Mal sabia ele (ou sabia?) que na minha cidade não tinha aquele tal de Paço Municipal.
Seis meses depois Irigino me chamou à porta do jornal e me apresentou a Stipp Júnior. Ele era da equipe de repórteres do Estadão, tinha base em Taubaté e constantemente viajava pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil. Até para o exterior tinha ido. Stipp estava em Marília para uma série de reportagens e também para encontrar um correspondente fixo para o Estadão. Ao nos apresentar, Irigino disse a Stipp: ?Está aqui o correspondente que você procura?. E não deu chance para recusa.
Atravessamos a rua 9 de Julho e fomos tomar minha bebida preferida na época: Fanta Laranja. Conversamos por horas e ficamos combinados que Stipp falaria a meu respeito com Raul Martins Bastos, chefe dos correspondentes do Estadão, que tinha a última palavra para minha contratação. A resposta veio em menos de uma semana e eu comecei uma nova e sonhada fase da minha carreira como jornalista ? tal como havia previsto ao sair do Cine Santo Antônio, após a solenidade de formatura dos ginasianos do Instituto Educacional Hellen Keller, de Adamantina, em fins de 1967.
Isso, entretanto, não foi tudo que Irigino Camargo fez por mim. Antes de ser contratado pelo Estadão, ou seja, no meu terceiro mês em Marília, ele me chamou e avisou que iria me registrar como ?repórter estagiário? do JC, porque eu estava a merecer. Dei pulos de alegria. Esse registro foi fundamental para minha efetivação como ?repórter? quando entrou em vigor a lei que em 1969 reconheceu a profissão de jornalista. Irigino Camargo foi importante para mim também porque em fins de 1970, pouco antes que eu completasse dois anos de atuação como jornalista, disse a ele, com a voz trêmula e as pernas bambas, que havia recebido um convite de Raul Martins Bastos para me transferir para a sucursal de Campinas do Estadão. E para minha surpresa, o mestre me disse: ?Se você não for eu te dou uma surra no meio da rua?.
Nos abraçamos pela primeira vez e liguei imediatamente para o Raul para anunciar que aceitava a transferência. De Campinas fui para São Paulo e da capital paulista, para o Brasil e o mundo.
Nos cinco anos de Estadão conheci gente grande como Eduardo Martins, Ludemberg Góis, Clóvis Rossi, Ricardo Kotscho, Oliveiros S. Ferreira, A. P. Quartim de Moraes, Luiz Carlos Ramos (que me ensinou que ?escrever é como costurar…?), Ney Craveiro (com quem aprendi a escrever a respeito de tênis, boxe e basquete), Luiz Roberto de Souza Queiroz, Reginaldo Leme, João Prado de Almeida Pacheco, Tuca Pereira de Queirós, Ariovaldo Bonas (Lins), Evandro Carlos de Andrade (Brasília), Frederico Branco, Ethevaldo Siqueira, Darci Higobassi, Raul Quadros (Rio), Mário Erbolato (Campinas), Luiz Salgado Ribeiro, Sircarlos Parra Cruz, Daniel Pereira, Silvio Sérgio Sanvito, José Rodrigues (Ourinhos e depois Santos), Augusto Nunes, Osvaldo Martins, Carlos Conde, Robert Appy, Gelulfo Gonçalves, Itaborahy Martins, Carlos Monforte, Carlos Alberto Manente, Roberto Dantas, Saul Galvão, Carlos Garcia (Recife), Reginaldo Manente, Miguel Urbano Rodrigues, Frederico Heller, Alberto Tamer, Décio Miranda (Porto Ferreira), Sérgio Coelho (Sorocaba), Carlinhos Whinter (Santos), César Savi (Bauru), Antônio Higa (São José do Rio Preto), Waldo Claro, Everton Capri Freire, Dinaura Landini, Adélia Borges, entre tantos outros.
Irigino Camargo faleceu em junho de 2004. Foi pai do também jornalista Ariadne Penteado Camargo, que trabalhou por décadas no Estadão e no Jornal da Tarde e morreu em 17/12/2010.