Estreante neste espaço, Rosa Symanski manda uma história de seus tempos de Editora Pini. Ela também teve passagens por Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Agência Reuters e Agência Estado e atualmente é editora-chefe da revista Indústria & Tecnologia PS, da Editora Banas. O quinteto do Bom Retiro .
Era meados dos anos 1990, e, invariavelmente, eles batiam ponto no bar depois de horas extenuantes de labuta na redação. Sexta-feira, então, era sagrado. Estava lá sempre aquele quinteto formado por jornalistas da Editora Pini, baixando cerveja a torto e a direito e conversando sobre os assuntos mais variados que passavam por religião, política e… Segunda Guerra Mundial. Esse comportamento durou anos a fio e reunia Simone Capozzi (atual editora do UOL), Paulo Kiss (hoje diretor de Redação da Pini), Alberto Mawakidye (que é repórter especial da revista Metal Mecânica, da Editora Ipesi), Eric Cozza (atual presidente da Pini), e eu, gaúcha recém chegada a São Paulo, tão bem recebida por essa turma inesquecível.
“Pô, vocês repararam que a gente sempre começa um assunto sobre algum tema para, depois, acabar em Segunda Guerra Mundial?”, observou um deles em tom de troça certa noite. Mas a troca de informações históricas era imensa e as discussões, então, inflamadíssimas e, às vezes, até com direito a injúrias. “O fulano não para de ofender o mundo árabe”, reclamou um dos membros do grupo, saindo em defesa da sua origem síria. E aí desencadeava uma discussão daquelas intermináveis, em que um acabava emburrando com o outro, conversa de bêbado mesmo. Mas, na semana seguinte, agiam como se nada tivesse acontecido e voltavam a sentar lado a lado e retomar os velhos assuntos da “pauta do bar” até o próximo pau.
Certa feita, depois de ter virado dezenas de cervas, o bando quis dar asas à criatividade e resolveu escrever um samba-enredo de carnaval partindo do princípio que tal proeza é uma arte menor, portanto, muito fácil de fazer e que basta não ser um Zé Mané retardado mental para conseguir. As opiniões sobre a construção dos versos vinham de todos os lados: “Coloca aí Amazônia. Sim, porque sempre tem alguma estrofe em que se canta a Amazôniaaaaaaaaa…”, dizia o mentor da ideia, Eric Cozza, na época um garoto com, no máximo, uns 26 anos, mas que já se destacava pela inteligência arguta.
O resultado final saiu. O tal samba-enredo foi concebido ali em 10, 15 minutos e seguia todas as regras do que se geralmente vê na tevê, tais como: as belezas naturais nos rincões do meu País, a conquista da liberdade pelos escravos, além da Amazônia, habitada e preservada pelos índios. Ou seja, todos esses ingredientes misturados e que terminavam com a estrofe “arrebentando na Sapucaí”, seguida daquele famoso grito de puxador de samba: aaaaaaaaiiiiiiiiiiii…
Pena que não me recordo dos versos na íntegra, mas que foi uma das noites mais divertidas, isso lá foi.
E o nível etílico que se atingia era de uma proporção assustadora. Tanto que, a certa altura, ignorava-se totalmente o que se passava nas proximidades das outras mesas ou do balcão do estabelecimento. Foi nesse estado que dois membros do grupo, após terem entornado litros e litros da famosa loira, foram surpreendidos por um assustado atendente do bar, que indagou: “Vocês estão bem?”. Os dois se entreolharam e responderam: “Sim, tudo OK, por quê?”.
E o atendente respondeu: “É que o bar acaba de ser assaltado”. Os dois, em meio a gargalhadas, deduziram que a bebedeira afastou os bandidos, que concluíram que aqueles tipos não valiam a pena.