Volta a colaborar com este espaço Sandro Villar ([email protected]), correspondente do Estadão em Presidente Prudente (SP). Mao e o papa Depois de pensar mais que o doutor Silvana, o cientista maluco que perseguia o Capitão Marvel, cheguei à conclusão de que não há Mao Tsé-tung que sempre dure nem Ben Stiller que não se acabe. Pois é, como ainda está inteiraço e gozando de boa saúde, o comediante Ben Stiller não vai acabar tão cedo. Espero que ele escute o Parabéns a você pelo menos mais 50 vezes. E que filme mais algumas sequências de Entrando numa fria. Quanto ao camarada Mao, que não foi um mal necessário aos chineses, ele durou até o dia 9 de setembro de 1976, data em que bateu as botas e outros calçados. Como é de praxe, as rádios deram a notícia da morte de Mao em edição extraordinária e, certamente, as televisões fizeram o mesmo. E não é que na Rádio Tupi de São Paulo o apresentador Barros de Alencar proibiu de imediato que o locutor noticiarista Ciro César, de saudosa memória, desse a notícia? “Notícia aqui não”, reagiu o apresentador. Assim como foi difícil convencer uma famosa jornalista da Globo a dar a notícia da morte do compositor Lupicínio Rodrigues, também foi uma luta persuadir (persuadir é bom) o apresentador da Tupi de que o líder chinês era importante e, portanto, a notícia de sua morte merecia uma edição extraordinária. Quando Ciro César entrou no estúdio com a notícia redigida, Barros de Alencar tocava mais uma musiquinha açucarada em seu programa Só sucessos, talvez o mais ouvido da Tupi naquela época. Ele não interrompeu a música, como seria óbvio, para o locutor transmitir a notícia, o que só foi permitido depois da execução do disco. Isso depois de muita ponderação e saliva gasta. “Logo o Barros, que era um baita comunista?”, brincou um apresentador ao saber do episódio. E em 1963, pouco antes do papa João XXIII morrer, a então chamada imprensa escrita, falada e televisada – hoje mídia, para os íntimos – já mantinha na gaveta o obituário do grande Sumo Pontífice, celebrado como o maior papa de todos os tempos. Sua partida deste mundo louco era esperada a qualquer momento e, nesse caso, as rádios dariam a notícia em edição extraordinária. Foi nessa espera que algumas emissoras cometeram talvez uma das maiores “barrigas” da história do jornalismo. Uma agência internacional noticiou que o papa havia morrido. Se uma agência de prestígio deu a informação, por que não se apressar em dar a notícia? Pois foi o que fez a Rádio Bandeirantes, que à época ficava na rua Paula Souza, no centro de São Paulo. Depois de ler o telegrama da agência, o então diretor de Jornalismo, o grande e saudoso Alexandre Kadunc, não teve dúvidas e, rápido no gatilho, ordenou ao locutor Lourival Pacheco que transmitisse a notícia imediatamente. Afinal, não era qualquer um, era o papa. Pachecão, como Lourival era conhecido e hoje mora no Céu, cumpriu o seu dever. Mas logo depois veio o desmentido. A notícia da morte do papa era inverídica. João XXIII continuava vivinho da Silva. Ou não tão vivinho assim. O que fazer? Kadunc pediu ao locutor para voltar ao estúdio a fim de informar aos ouvintes de que a notícia era falsa. Assim que o operador de som abriu o microfone, Lourival, de improviso, foi curto e grosso: “Infelizmente, o papa não morreu”. Dizem que o Kadunc ficou uma onça e outros felinos. Dizem também que o locutor foi demitido, mas logo depois voltou a trabalhar na Rádio Bandeirantes, por ser bom profissional e amigo de todos, incluindo o autor destes dois “causos” radiofônicos.