Três momentos de Victor Civita Anos 1970, todas as redações da Editora Abril, com exceção de fascículos, concentradas na Marginal, saguão enorme e iluminado pelo sol da manhã… Estava o diretor de arte das Infantis, Izomar (carinhosamente apelidado de Zozô) conversando com um amigo no saguão. Detalhe: sendo Zozô de Campinas, muitas vezes ia e vinha da cidade para Sampa e o amigo com quem conversava estava fardado. Era um policial rodoviário. Pois bem, eis que surge no meio da conversa, interrompendo a ambos, ninguém mais nem menos do que Victor Civita. Com seu sorriso peculiar e cativante, sotaque inconfundível, muito solícito, foi logo dizendo: “Meu caro, conheço este jovem, ele é um funcionário exemplar. Se ele fez alguma coisa errada, não foi de propósito. E, se precisar de alguma coisa mais, fale comigo que eu resolvo com você.” Zozô logo explicou que o policial era um amigo e todos caíram na gargalhada… Em outra ocasião, tempos depois, fui assaltado em frente à casa de minha namorada… Anos de chumbo, muitos jornalistas sendo presos, Abril sob forte censura, com censores do DOPS trabalhando internamente… Nesse assalto, um dos marginais foi preso e fomos todos para a delegacia. Feito o reconhecimento, fui para casa e esqueci o assunto… Dois anos se passaram e eis que recebo uma intimação na casa de minha namorada – onde havia ocorrido o assalto – da delegacia de polícia me chamando com urgência para depor sobre o assalto. Quando fui conversar com o delegado, ele estava muito bravo. Informou que estavam atrás de mim há pelo menos um ano e meio. Foram ao meu endereço e não me encontraram, pois eu tinha mudado de casa. Foram na Editora Abril e foram informados que eu não trabalhava mais lá… Até que tiveram a brilhante ideia de me procurar no endereço do assalto. Como haviam passado dois anos, o preso tinha cumprido a pena, iam soltá-lo e precisavam do meu depoimento. Resolvi as coisas na delegacia e fui conversar com o pessoal do RH… Aí fui informado, sigilosamente, que o seu Victor tinha dado uma ordem expressa que, sempre que a polícia procurasse algum jornalista, informassem que não trabalha mais na casa… Na década de 1980, dona Carmen Prudente comandava o Hospital do Câncer em São Paulo, referência no tratamento da doença no Brasil. Naquela época o hospital sobrevivia, principalmente, do trabalho de formiguinha que dona Carmen fazia, angariando doações junto ao empresariado. Pois bem, uma bela manhã, seu Victor nos chamou, disse que estivera com dona Carmen e que ela havia lhe perguntado se algum desenhista da Editora Abril poderia decorar as paredes da ala infantil do hospital, para tornar a permanência dos pequenos pacientes mais agradável. Seu Victor concordou e, como pedido dele era uma ordem, a gente tratou logo de cumprir. Enviamos um dos nossos melhores desenhistas para lá. Infelizmente não me recordo mais seu nome, mas após analisar o trabalho, ele pediu uma semana para poder realizar as pinturas. Terminado o trabalho, que ficou bem legal, nós fomos até o hospital, inclusive acompanhados do desenhista, de seu Victor e das diretorias da Abril e do hospital para a inauguração das pinturas. Lá pelas tantas, durante a visita, o desenhista me chamou de lado e me disse baixinho: “Olha, essa semana que fiquei aqui, oito horas por dia, no meio dessas crianças, aprendi muito, minha vida mudou. Deixei de fumar, de beber e tenho dado mais atenção para o povo lá em casa”. Pois é, esse era o seu Victor…