O portal Metrópoles desculpou-se pela publicação de informações sigilosas sobre o caso envolvendo Klara Castanho na coluna de Leo Dias. A atriz revelou nas redes sociais que foi estuprada, gestou o bebê e o entregou para adoção. O portal e o colunista foram muito criticados por jornalistas e celebridades pela conduta no caso.

No final de maio, o jornalista Matheus Baldi fez um post dizendo que Klara teria dado à luz a uma criança. A atriz entrou em contato com ele e revelou que havia sido vítima de um estupro. O post, então, foi apagado, mas a notícia acabou se espalhando.

Um mês depois, em entrevista ao apresentador Danilo Gentilli no SBT, Leo Dias declarou que tinha uma informação “inacreditável” envolvendo uma atriz, sem citar o nome de Klara, que “a conta dela iria chegar, pois o caso envolvia vidas” e que ela carregaria um “carma grande”. A youtuber Antonia Fontenelle também comentou o caso em live, afirmando que “uma atriz global de 21 anos teria engravidado e doado a criança para adoção” e que “ela não quis olhar para o rosto da criança”, acusando-a de “abandono de incapaz”. Ambos não citaram o nome da atriz ou o crime de estupro.

Após diversos ataques de internautas nas redes sociais por “não querer ficar com a criança”, Klara publicou uma carta aberta revelando que havia sido vítima de um estupro e que entregou para a adoção a criança gerada a partir da violência. Depois da divulgação da carta, Leo Dias publicou em sua coluna no Metrópoles o nome da atriz e dados do nascimento da criança, incluindo hora e local de nascimento, cujo sigilo é resguardado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Horas depois, o conteúdo foi removido.

Em nota, o Metrópoles escreveu que “não há justificativa que sustente o argumento do interesse público em conhecer detalhes sobre uma história em que os únicos interessados são a vítima e seus familiares. (…) Em relação a Klara Castanho, praticamos mau jornalismo”. A nota explica que a postagem do colunista ocorreu na noite de sábado, “no final do expediente, quando havia pouquíssimos colegas na redação. Falhamos em não notar imediatamente que a matéria havia sido publicada pela equipe do colunista”.

O portal publicou que, como outros colunistas do Metrópoles, Leo Dias tem autonomia para publicar informações, reiterando que o conteúdo, não necessariamente, reflete a posição do veículo, “mas é claro que, se publicamos o colunista em nossa página, temos responsabilidade pelo conteúdo veiculado. (…) Isso não exime a culpa da equipe do Metrópoles. Todos erramos. E, por isso, pedimos perdão a Klara. Ela não merece julgamento. Não merece exposição. Merece acolhimento, respeito e empatia de todos nós”.

Lilian Tahan, diretora de Redação do Metrópoles, publicou em seu Twitter que esteve “fora do ar por algumas horas. Ao voltar, uma surpresa muito triste. Expusemos de forma inaceitável os dados de uma mulher vítima de violência brutal. A matéria foi retirada do ar”. Após diversas críticas de internautas, a jornalista irritou-se e publicou um desabafo agressivo.

Leo Dias também se pronunciou

Também em nota, Leo Dias pediu desculpas à atriz: “Errei ao publicar qualquer linha a este respeito. Mesmo que a revelação da história não tenha partido de mim, mesmo que Klara tenha escrito uma carta pública narrando a dor que sentiu com toda esta violência e que eu só tenha escrito sobre o assunto após a carta dela ser publicada”.

O colunista escreveu que uma funcionária de um hospital privado denunciou um caso atípico, de uma criança cujos dados do nascimento não poderiam ser incluídos no sistema. Em conversa por telefone com a atriz, Klara contou sobre a violência que tinha sofrido e sobre sua decisão de entregar a criança para adoção. Dias comprometeu-se a não expor a história publicamente.

“A postagem que fiz relatando o nascimento da criança e a adoção foi posterior à carta que Klara escreveu sobre tudo o que passara. Ela foi covardemente exposta. Tenho consciência disso”, declarou o colunista. (…) “Mesmo que eu soubesse de tudo desde o início, eu não deveria ter escrito nenhuma linha sobre esta história ou ter feito qualquer comentário sobre algo que não tenho o direito de opinar. Apesar da minha proximidade com o fato, reconheço que não tenho noção da dor desta mulher. E, por isso, peço, sinceramente, perdão à Klara”.

Matheus Baldi e Antonia Fontenelle também comentam o caso

Também envolvidos no caso, Matheus Baldi e Antonia Fontenelle comentaram o ocorrido. O jornalista publicou nota desculpando-se com Klara, destacando que “um caso como esse demonstra a necessidade de se estabelecer limites entre o que é de interesse público e o que não é de interesse público. A reflexão e a mudança de comportamento se tornam extremamente necessárias”.

Já Fontenelle publicou um vídeo no qual fala que está sendo vista como a “vilã da história” por algo que não fez, explicando que não citou o nome de Klara em sua live e que só soube da violência sexual sofrida pela atriz após a publicação da carta aberta. Por fim, a youtuber ofereceu ajuda a Klara Castanho.

Repercussão negativa nas redes sociais

A abordagem do caso por parte do Metrópoles e dos comunicadores citados ganhou enorme repercussão negativa nas redes sociais. Internautas pedem a demissão de Leo Dias e o boicote a suas redes sociais e informações publicadas em sua coluna, assim como ao site do Metrópoles e aos perfis de Antonia Fontenelle.

Diversos jornalistas e atores comentaram o caso em defesa de Klara Castanho. Cecília Olliveira, ex-Intercept Brasil, escreveu no Twitter que “violência não é fofoca. Fofoca não é jornalismo. Pessoas públicas tb tem vida privada. Há código de ética da profissão, há o ECA, há leis para proteção de dados. Há leis. O jornalista ético conhece isso e só publica o necessário, mesmo que ’haja clamor nas redes’”.

Sérgio Spagnuolo, editor do Núcleo Jornalismo, publicou que “a exposição indevida e injustificada de uma mulher feita pelo Metrópoles é fruto de uma lógica de jornalismo de baixíssima qualidade, sem nenhum rigor, com modelo de negócios meramente orientado por volume de clicks, ganhando centavos em cima de anúncios do Google”.

Confira outras manifestações sobre o caso:

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