Morreu nesta terça-feira (29/3) Elifas Andreato, um dos maiores designers gráficos do Brasil, responsável por inúmeras capas de discos, livros e obras de teatro e da cultura popular, aos 76 anos, em São Paulo. A informação foi divulgada pelo irmão do artista, no Instagram. Ele estava internado desde a última semana, após ter sofrido um infarto, mas teve complicações e não resistiu. O corpo será cremado às 16h, no Crematório Vila Alpina, sem velório, como era da vontade dele. A filha Laura informa que mais adiante vai organizar uma homenagem, para a qual todos serão convidados.
A postagem do irmão do artista tem um desenho de Elifas da bandeira do Brasil dentro de uma lágrima, com a frase “adeus querido irmão”, acompanhada de uma carta: “Meu irmão mais velho, desde pequenino, rabiscava seus sonhos e ia mudando o nosso destino. Tudo o que ele tocava com as suas mãos virava coisa colorida, até a dor que ele sentia era motivo de tinta que sorria. Sua travessura era zombar da pobreza e de toda a tristeza que ele via. Se o quarto era apertado, ele criava castelos longínquos. Se a fome era tamanha, ele pintava frutos madurinhos”.
Elifas nasceu em Rolândia, no Paraná, em 1946. Já na infância, vivendo com a família em um cortiço, fazia esculturas com material que encontrava no lixo. Na adolescência, foi operário em uma fábrica de fósforos em São Paulo. Começou a fazer caricaturas e a pintar murais. Posteriormente, foi estagiário em agência de publicidade até chegar à Editora Abril, onde ganhou destaque por ter feito, em 1970, a coleção de fascículos História da Música Popular Brasileira.
Ao longo de 50 anos, fez mais de 300 capas de discos de artistas como Chico Buarque, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Toquinho e Vinicius de Moraes. Entre os trabalhos, destacam-se as capas Ópera do Malandro, de Chico Buarque, A Rosa do Povo, de Martinho da Vila, e Nervos de Aço, de Paulinho da Viola.
Na literatura, também é autor de diversas capas, como a de A Legião Estrangeira, de Clarice Lispector. No teatro, fez cartazes como os de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, e de A Morte do Caixeiro Viajante, dirigida por Flávio Rangel. Seu trabalho mais recente é do musical Morte e Vida Severina, com direção de seu irmão, que estreia no Tuca em 16 de abril.
O artista é responsável pela réplica de 2,2 metros de altura da estátua Vlado Vitorioso, obra criada em 2008 em homenagem aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. E em 2019, fez uma réplica do Troféu Vladimir Herzog, entregue aos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que homenageia jornalistas que atuam para a promoção da democracia e da liberdade de imprensa. Ambas as obras ficam na Praça Memorial Vladimir Herzog, atrás da Câmara Municipal de São Paulo.
Em agosto do ano passado, durante o 24º Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas, recebeu da Mega Brasil o prêmio Personalidade da Comunicação de 2021. Emocionado, disse à época que uma premiação que o colocava na galeria ao lado de nomes como Octavio Frias de Oliveira, Laurentino Gomes, Roberto Civita, Mino Carta, Audálio Dantas, entre outros, é “histórica para a minha carreira e representa um alento para a continuidade de minha luta pela arte, pela justiça social e pela democracia”.
Sobre o reconhecimento, Eduardo Ribeiro, diretor da Mega Brasil e deste Portal dos Jornalistas, disse que Elifas era “o mago da criatividade gráfica, o artista que eleva a arte ao seu patamar mais alto e significativo, o homem que coloca o sentimento nas pontas dos dedos e no coração”. Assista à cerimônia aqui.
Artistas e personalidades prestaram suas homenagens a Elifas. A cartunista Laerte Coutinho escreveu no Twitter: “Ah, tristeza maior! – o Elifas Andreato morreu. Beijo, Elifas! Ô coisa”. O cantor Emicida escreveu: “Aquele que melhor ilustrou a alma brasileira, foi agora para junto das estrelas e de lá seguirá nos inspirando. Porque a vida tem que ser bonita sim e é pra isso que a arte existe! Obrigado mestre. Que a terra lhe seja leve!”