Vera Magalhães, da TV Cultura, foi vítima de mais um ataque, desta vez realizado por deputado apoiador do presidente Jair Bolsonaro

Apresentadora do Roda Viva, colunista de O Globo e comentarista da CBN, Vera Magalhães foi vítima de um novo ataque covarde. Desta vez, a ofensiva aconteceu logo após o debate entre os candidatos ao Governo de São Paulo, promovido pela TV Cultura na noite desta terça-feira (13/9).

Com um celular em punho, o Deputado Estadual Douglas Garcia (Republicanos) se aproximou de Vera e disse que ela é “uma vergonha para o jornalismo”. Ele era um dos convidados do candidato a governador Tarcísio de Freitas, do mesmo partido.

“Eu estava sentada na primeira fileira vendo meu celular. Vou registrar um boletim de ocorrência de ameaça contra o deputado Douglas Garcia, do PL. Há centenas de testemunhas. Usou o convite no estafe de Tarcisio Freitas no debate apenas para vir mentir e me acossar e ameaçar”, relatou a jornalista em sua conta no Twitter.

A frase utilizada pelo político é a mesma dita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra Vera durante o debate da Band entre candidatos à Presidência, realizado em 28 de agosto, e repetida nas ações de campanha de Bolsonaro durante o 7 de setembro. Naquele dia, uma faixa com a foto de Vera e a frase foram expostas em um cartaz erguido por um guindaste no Rio de Janeiro. Tanto Garcia, quanto Tarcísio, apoiam e são apoiados por Bolsonaro em São Paulo.

Desta vez, porém, ao perceber o ataque, Leão Serva, diretor de Jornalismo da TV Cultura, arrancou o celular da mão do deputado e atirou para longe e contra-atacou o assédio do parlamentar: “Vai pra puta que te pariu, filha da puta”.

A reação, bastante elogiada por outros jornalistas nas redes sociais, é um divisor de águas para o jornalismo. Pela primeira vez um dirigente da tevê brasileira se rebelou fisicamente para impedir um ataque contra algum de seus jornalistas.

“Ele veio aqui visivelmente com a intenção de ‘lacrar’. A única solução possível naquele momento era afastá-lo da ‘lacração’”, disse Leão Serva, em entrevista para o UOL, sobre o momento em que tirou o celular da mão de Douglas Garcia, que, segundo ele, “já tem uma prática de assédio a Vera Magalhães há um bom tempo”.

Vale lembrar que em 2018, Garcia foi um dos organizadores do bloco de carnaval Os Porões do DOPS, criado para homenagear o torturador Carlos Brilhante Ustra e o Departamento de Ordem Política e Social, órgão do governo responsável pelo assassinato de Vladimir Herzog durante a Ditadura Militar. À época, Herzog era diretor de Jornalismo da TV Cultura.

Segundo levantamento publicado em 9 de setembro pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), pelo menos 13 casos de violações à liberdade de imprensa haviam sido registrados no país nas duas semanas anteriores. Eles se somam aos mais de 330 alertas registrados em 2022, segundo o monitoramento de ataques a jornalistas e comunicadores/as feito pela organização em parceria com a rede internacional Voces del Sur.

Coincidentemente, na manhã desta mesma terça-feira, entidades defensoras da liberdade de imprensa manifestaram indignação e preocupação em relação aos ataques a jornalistas e fizeram um apelo para que partidos e presidenciáveis respeitem o trabalho jornalístico durante o período eleitoral.

Assinam o texto ARTIGO 19. Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Intervozes, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Repórteres sem Fronteiras (RSF) e Tornavoz.

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