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sexta-feira, novembro 22, 2024

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Mudanças em Época: Hélio Gurovitz fala ao Portal dos Jornalistas

Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Helio Gurovitz, que está deixando as diretorias de Redação e Editorial de Época, fala de seu legado, dos desafios que enfrentou e de como enxerga o futuro do jornalismo, em especial no segmento de revistas. Confira: Portal dos Jornalistas – O que você destacaria como seu principal legado nesses nove anos em que esteve à frente da revista Época? Helio Gurovitz – Acredito que deixo um legado de duas naturezas. A mais importante é humana: nossa equipe. Tive a oportunidade e a honra de trabalhar com (e ao lado de) alguns dos maiores profissionais da imprensa brasileira, que muito me ensinaram sobre nosso ofício. Também pude trazer para cá muita gente boa e contribuir para formar jovens extremamente talentosos. Hoje, a redação de Época reúne uma turma heterogênea, atilada e capaz, da qual tenho bastante orgulho. A segunda natureza do legado está justamente no trabalho produzido por essa turma. Graças a ela, Época tornou-se uma revista madura, com rosto próprio e uma personalidade antenada com os tempos atuais. Não há no Brasil outra revista com a nossa cara, com o nosso olhar ou com a nossa voz. Portal dos Jornalistas – Como definiria a revista Época, hoje? Helio – Primeiro, não definiria Época apenas como uma revista. Produzimos conteúdos em várias plataformas, sempre com o mesmo olhar. Queremos ser relevantes, sofisticados, úteis e inspiradores para o público. Queremos que, em Época, ele saiba antes, entenda o mundo e aprenda. Devemos fazer isso com o maior apuro estético, tanto no texto quanto no visual ou nos conteúdos interativos. E, naturalmente, respeitando à risca os Princípios Editoriais do Grupo Globo. Portal dos Jornalistas – Quais os principais furos trazidos pela revista nesse período? Helio – Poderia citar dezenas de furos de grande repercussão, nacional ou internacional. O mais importante: demos furos em todas as áreas. Não apenas no papel, boa parte deles saiu em primeira mão na internet. Aí vai uma breve lista, não exaustiva, que faço de memória: dos sargentos gays ao menino Sean; da mãe da menina Isabella à viúva da Mega Sena; do analfabetismo de Tiririca ao inquérito sobre o goleiro Bruno; do câncer maligno do jogador Nenê ao vídeo de Marcola na prisão; do DNA dos bebês produzidos por Abdelmassih aos exames médicos da presidente Dilma; dos arquivos secretos da Marinha aos relatórios da NSA sobre escutas na ONU; do treinamento dos blackblocs (entre os quais infiltramos um repórter) às investigações que mostram a extensão do PCC; das escutas do esquema de Cachoeira ao relatório da PF sobre o Mensalão; do cafofo do Agaciel no Senado ao caso da ex-babá usada como laranja por um diretor da casa. Só no caso Petrobras fomos protagonistas ao publicar o depoimento de um lobista do PMDB, os documentos que Paulo Roberto Costa tentara destruir – e divulgamos em primeira mão vários lances da Lava Jato. Além dos furos, Época também se destaca por falar antes de assuntos que o resto da imprensa demora bem mais a tratar. Um exemplo disso é nossa cobertura de meio ambiente. Fomos os primeiros a lançar, já em 2006, uma Edição Verde e, em 2007, demos uma capa prevendo uma crise de abastecimento de água dentro de até cinco anos – erramos por muito pouco, não é mesmo? Também falamos na vida sem empregada ou na vida sem carro meses antes da nova lei das domésticas ou de as ciclovias se espalharem pelas cidades. Todos esses exemplos e furos revelam o grau de conexão da nossa redação com a atualidade e o interesse público. Portal dos Jornalistas – Que outros projetos editoriais destacaria nesse período como marcantes de sua passagem pela revista? Helio – Fomos a primeira revista brasileira a lançar um aplicativo para iPad, a primeira semanal no iPhone e a primeira a oferecer o mesmo site para telas de todos os formatos. Lançamos anualmente Época 100, a lista dos 100 brasileiros mais influentes no ano. Criamos o Projeto Generosidade, uma iniciativa da Editora Globo para reconhecer iniciativas de quem faz o bem ao próximo. Entregamos prêmios a quem se destaca em diversas áreas – as melhores empresas para trabalhar, as melhores empresas para o meio ambiente e as melhores empresas para o consumidor. Ampliamos nossas iniciativas regionais por meio das marcas Época São Paulo e Época Rio, que também premiam o melhor em cada cidade. Acima de tudo, conseguimos implementar na redação uma cultura digital madura, capaz de produzir conteúdos em todas as plataformas. Portal dos Jornalistas – Onde poderia ou gostaria de ter ido mais longe, se tivesse tempo e recursos humanos e materiais? Helio – É difícil raciocinar sobre hipóteses. De todo modo, acredito que nosso maior desafio neste momento, como para todo produtor de conteúdo, é a transição para a plataforma digital. Embora tenhamos feito muita coisa nessa área, ainda há muito a fazer. Também gostaria de ter investido mais em conteúdos de fôlego, como reportagens e edições especiais. Certamente essa é uma das essências do jornalismo em revista que sobreviverá no futuro. Portal dos Jornalistas – Como foi dirigir uma das mais importantes revistas do País num período de profundas transformações tecnológicas e de comportamento social e de permanentes desafios de sobrevivência para o jornalismo tradicional? E que lições extrair desse “contencioso”? Helio – Foi uma aventura que vivi 24 por dia, sete dias por semana, praticamente o ano todo. A principal lição é que não devemos temer ou resistir à transformação. A realidade exige que nós, jornalistas, deixemos a posição defensiva e encaremos os desafios. Nem sempre dará certo, mas é melhor tentar e errar do que ficar parado. Esse foi o maior aprendizado para mim. Portal dos Jornalistas – Saímos da última eleição com um País dividido e com muitas acusações contra a mídia tradicional, em especial por parte do PT. Qual o grau de pressão enfrentado por vocês, na revista, e como a redação e a empresa se posicionaram em relação a isso? Helio – Pressão é da natureza da nossa profissão. É algo cotidiano. Quanto à eleição, o Grupo Globo tem princípios editoriais cristalinos, expressos num documento público, que procuramos seguir à risca. Eles estabelecem claramente que devemos praticar um jornalismo apartidário. Foi o que fizemos durante a eleição. Que eu saiba, nem o PT nem nenhum outro partido jamais fez qualquer reserva ao jornalismo praticado em Época. Evidentemente, há diferenças entre o modo como as diferentes publicações cobriram as eleições, muitas delas com claro viés partidário. Isso é absolutamente natural num país em que vigora a plena liberdade de imprensa. Cabe ao público decidir em quem confiar e o que ler. Tenho absoluta convicção de que, como resultado dos nossos princípios editoriais, contamos com a plena confiança e o respeito do meio político e dos formadores de opinião. As acusações e críticas oportunistas, feitas na internet por gente a soldo de interesses difusos, devem ser relegadas a sua própria insignificância. Portal dos Jornalistas – Como você vê o futuro da Mídia Revista, em termos de mercado, baseando-se em sua experiência à frente de Época e de outras publicações onde atuou? Helio – Acredito que o meio revista sobreviverá às turbulências, sobretudo porque proporciona algo que interessa ao consumidor: informação, prazer e entretenimento. Nisso, revistas são mais parecidas com livros do que com jornais. Conquistam leitores em formato eletrônico, mas ainda resistem muito bem em formato papel. No caso das semanais, acreditamos que o futuro está associado aos três pilares do projeto editorial de Época: conteúdos exclusivos, reportagens originais que decifrem a atualidade e prestação de serviços relevantes.  

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