* Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro

Nilo Dante Di Giovanni morreu em 6/7, aos 89 anos. Em outubro do ano passado, sofreu um AVC e desde então levava vida vegetativa.

Nascido na cidade fluminense de Barra do Piraí, cedo transferiu-se para o Rio, movido pela vontade de ser jornalista. Começou em 1954 no Diário Carioca, convidado por Prudente de Morais, Neto. Em depoimento a Aziz Ahmed, no livro Memórias da imprensa escrita, Dante lembra que, como o jornal era pequeno e atrasava o pagamento, havia uma lista dos profissionais e de quanto tinham a receber. Repórteres como Evandro Carlos de Andrade e Janio de Freitas ganhavam cerca de cem cruzeiros mensais. Porém, uma curiosidade: o salário de Maneco Muller, o colunista social que assinava Jacinto de Thormes, era de 3 mil cruzeiros.

Nas palavras de Cícero Sandroni, Dante ostentava uma das mais extensas biografias da imprensa brasileira. Foi o único jornalista que trabalhou em dez jornais e dirigiu cinco deles: Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Jornal do Commercio, Última Hora e Tribuna da Imprensa. Entre seus principais trabalhos figura a reportagem A fé tirou o peso da cruz de Euclydes, para a revista Mundo Ilustrado em 1958, e que deu origem à peça de Dias Gomes O pagador de promessas, depois filme ganhador da Palma de Ouro em Cannes.

Além de secretário de Redação do Correio da Manhã, esteve ainda nos jornais A Noite, O Dia, e nas revistas Mundo Ilustrado, Manchete, Fatos & Fotos e O Cruzeiro. Foi correspondente no exterior para Correio da Manhã, Diário de Notícias, Mundo Ilustrado e Jornal do Commercio. Nos anos 1960, Sandroni – hoje na Academia Brasileira de Letras – levou Dante para O Globo e depois para Brasília, na assessoria do então presidente Jânio Quadros. Esta última função durou apenas sete meses, por causa da renúncia, e Dante, ainda nos seus depoimentos, disse ter-se arrependido pelo resto da vida de ter deixado O Globo.

Durante cinco anos, trabalhou em publicidade e na assessoria do Instituto Brasileiro do Café (IBC), voltando depois às redações. Em 2016, lançou o livro O sócio oculto – Uma aventura no submundo do poder, sobre os bastidores da luta pelo controle do Palácio do Planalto e das áreas mais cobiçadas do organograma oficial. Seu mais recente empreendimento foi a produção e organização do livro Gente do Rio, publicado em 2015.

No Correio da Manhã, Dante acolheu Ricardo Boechat para seu primeiro emprego e apresentou-o a Ibrahim Sued, o que marcou a carreira dele. Décadas depois, em 2001, durante a retomada do Jornal do Brasil, que durou apenas um breve período, Boechat convidou Dante para dirigir o jornal, seu último emprego.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments