Morreu em 24 de dezembro, aos 70 anos, o jornalista Flávio Andrade no sertão do Una, no litoral de São Paulo, onde vivia desde os anos 1990. Ele estava acamado havia nove anos, após sofrer um grave Acidente Vascular Cerebral (AVC). Deixa a esposa Paula Menezes, quatro filhos e quatro netos.
Militante, participou ativamente da reconstrução do movimento rstudantil em Minas Gerais nos anos 1970, “quando quase toda a esquerda estava ou presa ou no exílio”, lembra Petra Costa, cineasta e sobrinha de Flávio, diretora do documentário Democracia em Vertigem (2019).
Oito anos mais tarde, então jovem professor de Economia, demitiu-se da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto de sua companheira na época, Virgínia Pinheiro, para criarem o jornal Em Tempo, em São Paulo, cobrindo intensamente as greves no ABC e os movimentos que levaram à queda da ditadura.
“Participaram das articulações iniciais para a criação do PT. Flávio fez parte da executiva do partido, e criou uma editora e gráfica com importância decisiva imprimindo jornais da esquerda que gráfica nenhuma queria imprimir”, escreveu Petra no Twitter.
O jornal Em Tempo publicou uma lista com os nomes de uma centena de torturadores, o que gerou atentados a bomba a diversas bancas de jornais e na invasão da redação do jornal.
Colegas do meio prestaram homenagens a Flávio. O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo descreveu-o como “um guerreiro contra a ditadura, presente hoje e sempre. (…) O Em Tempo, do qual Flávio foi editor, junto com Virginia Pinheiro, sua mulher e sempre companheira de todas as horas, foi um jornal aguerrido e corajoso. Denunciava tanto os horrores da ditadura quanto divulgava as conquistas dos trabalhadores e as ações corajosas da resistência e os debates na política internacional”.