Morreu na tarde de 23/3, aos 38 anos, Isabel Faria, gerente de Comunicação da General Motors South America. Depois de quase um ano lutando contra um câncer de mama, descoberto no começo de 2021, ela estava nas últimas etapas do tratamento, bem-sucedido até então, quando no final de janeiro foi diagnosticada com metástase no cérebro.

Muito estimada por líderes e colegas por suas determinação, competência, coleguismo e espírito coletivo, Isabel foi uma profissional chave no desafio de conduzir as melhores práticas em comunicação empresarial na GM nos últimos anos.

Formada em Jornalismo pela PUCRS, e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, começou a carreira no Rio Grande do Sul, seu estado natal, na Gio Comunicação, atendendo a clientes como Gerdau e Lojas Renner. Chegou à GM em 2014, como analista de Comunicação Interna na fábrica da marca em Gravataí. Em 2018 foi transferida para a matriz, em São Caetano do Sul, e em fevereiro do ano passado foi promovida ao seu último cargo.

Além dos amigos, ela deixa os pais Cleber e Beatriz, a irmã Denise, o marido Marcio e a filha Betina, de 5 anos.

 

Réquiem

* Por Nelson Silveira

Bel tinha pressa. Os dias passavam voando e havia tantas coisas a fazer, tanto a conquistar. E tinha estrela, era dona de um talento ímpar. Era dessas pessoas que nasceram para protagonizar.

Nada nunca foi fácil para ela, mas Bel sempre foi guerreira, movida a desafios, ambiciosa. Focada e dedicada, conseguiu realizar seu sonho de trabalhar na GM. Gaúcha, começou em Comunicação Interna, na fábrica de Gravataí. Mas, para Bel, o céu era o limite. Liderou projetos importantes, demonstrou sua competência e galgou degraus, mudando-se para São Caetano do Sul e atingindo seu objetivo de trabalhar na matriz da empresa.

Sua inteligência, perspicácia e vontade de realizar rapidamente a levaram longe. Em fevereiro de 2021 conseguiu a sonhada promoção a gerente de Comunicação Corporativa. Eram tempos bicudos, de pandemia, crise e trabalho remoto. Mas nada parava essa mulher genial, que sabia identificar tendências, inovar.

Bel estava no auge, brilhando como nunca. Descobrindo novas formas de comunicar em um mundo digital. Aprendendo que em um mundo onde causa e propósito se tornavam motores das marcas, o storytelling tinha de dar lugar ao storydoing. Abraçando as narrativas de sustentabilidade, diversidade, equidade e inclusão com garra e lutando para conquistar espaços em um mundo em transformação.

Porque Bel acreditava em um mundo melhor, mais justo. Entendia como ninguém as agruras do planeta e tinha senso de urgência. Sabia da importância de defender a ideia de um futuro com zero emissão e abraçava a visão, o propósito e os valores da GM.

Bel trabalhava com afinco na construção de novas narrativas, avançava para fazer história na comunicação. Compreendia como ninguém que tinha uma missão de conectar e engajar as audiências nas mensagens que desenvolvia, trabalhando em uma estratégia multicanal.

A força intrínseca que movia essa mulher era tão intensa que nem um cruel diagnóstico de câncer na mama, logo depois da promoção, foi capaz de a abalar. Coisas da vida, que insiste em nos dar rasteiras.

Bel encarou o câncer de frente, incólume. Enquanto nossas pernas tremiam de medo e nossos corações soluçavam, Bel vaticinava: “Eu não sou a doença, eu estou com a doença e vou me curar”.

E Bel lutou, com todas as suas forças, e a cada batalha vencida celebrava, como se estivesse nascendo de novo. Perdeu o cabelo, comprou uns turbantes estilosos, novos óculos pretos grandes e expressivos e passou a desfilar seu novo look feito editora de moda.

No final de 2021, parecia que o céu estava desanuviando. Na festa de final de ano do time de comunicação, Bel contagiava alegria. Ela tinha certeza da vitória. Uma certeza que fazia a gente acreditar que tudo ia ser diferente.

Mas o destino insistiu em continuar pregando peças. No final de janeiro de 2022, Bel teve de voltar para o hospital, acometida de dores terríveis. A doença maldita, essa vilã horrorosa, tinha progredido impiedosa.

Bel tinha pressa, porque, com apenas 38 anos, uma filha linda de 5, uma família que amava, tinha ainda tantos sonhos a realizar. Bel tinha pressa, porque tinha o mundo aos seus pés, porque sabia que podia ir longe. Mas a vida não é justa, a doença é cruel e maligna, atravessou essa história e levou a Bel no final da tarde de 23 de março de 2022.

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* Nelson Silveira é diretor de Estratégia de Comunicação da General Motors América do Sul

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