Por Cristina Vaz de Carvalho, do Rio de Janeiro
No próximo domingo, 29 de julho, O Globo completa 93 anos em circulação. Foi a data escolhida para implementar sua reforma gráfica 2018. Pela primeira vez, impresso e digital são modificados simultaneamente, num processo liderado pelo editor executivo Chico Amaral, que responde pela parte visual do jornal.
O novo design não chega gritando, pois é um produto premium, e vem com elegância. Nesse novo código visual, houve uma reorganização da hierarquia das notícias, priorizando o que o leitor procura nesse tipo de veículo.
Apesar de não haver reforma editorial que acompanhe a gráfica, Alan Gripp, diretor de Redação do Globo, ressalta a ampliação da responsabilidade social, nos projetos Reage, Rio! e E agora, Brasil?, que discutem soluções para ajudar o País a sair da crise, em debates e reportagens.
As mudanças são sutis
Logo rebaixado na capa
A primeira apresentação da reforma gráfica ocorreu na sexta-feira (20/7), durante um encontro com as empresas filiadas à Abracom (ver pág. 8). Reunidas para conhecerem o G.Lab – estúdio de criação e produção de branded content do Globo –, as agências ganharam de brinde uma prévia do que veremos. No domingo (22/7), o jornal apresentou, no impresso e no digital, os detalhes da mudança.
O projeto gráfico que vigorou até agora vem de 2012. Nesses seis anos, nas palavras do editor executivo Chico Amaral, o design “não mais traduz a importância do impresso na vida das pessoas”. A contextualização das notícias precisa ser mais evidente, assim como a legibilidade, com letras maiores. Para compensar o aumento da letra no texto, encolhem-se os títulos. Também será preciso limpar o texto, evitar as redundâncias – e esta é uma característica do digital que se reflete no impresso. O modelo em vigor não comportava textos mais curtos.
Como de costume, a mudança já começa na capa. O logotipo, que era centralizado, passa a se alinhar à esquerda. A faixa azul que serve de fundo para a marca O Globo foi reduzida e, principalmente, deslocada para baixo. No alto da página aparecem chamadas com os destaques do dia.
Menos texto ocupa mais espaço
Muda também a tipologia. Sai a família de tipos Utopia, usada até aqui, e entra Whitman. Criada pelo designer americano Kent Lew, não é nova nem exclusiva, e ocupa mais espaço que a anterior. O tamanho da fonte também foi aumentado, assim como as entrelinhas, criando o que o jornal define como “uma massa de texto mais arejada”. Os títulos vão nesse tipo, com serifa. Para os antetítulos, gráficos, boxes de texto e alguns títulos de leitura rápida, será usado Benton Sans, sem serifa, como o nome diz.
Amaral expôs os objetivos de seu projeto: (1) atualizar o produto O Globo, (2) adotar uma linguagem mais elaborada, de um produto premium; (3) priorizar a contextualização, a análise e a opinião, hoje a demanda mais evidente do leitor desse tipo de veículo; (4) renovar o papel da fotografia, pois estamos na era da imagem; e (5) aperfeiçoar a usabilidade do jornal com nova diagramação.
Dizem as más línguas que ampliar o espaço ocupado pelo texto compensa o fato de os jornais terem encolhido, por redução na publicidade para encher suas páginas.
Estrelas mudam de lugar
O projeto editorial não passou por transformações no conteúdo. Com exceção dos destaques apontados pelo diretor de Redação Alan Gripp na apresentação, os destaques do jornal apenas mudaram de lugar.
A editoria de Opinião volta para o início do primeiro caderno e abre as páginas 2 e 3. Na 2, além dos articulistas, vem a coluna de Merval Pereira; na 3, os colunistas se alternam. As colunas – que levam este nome por serem, por tradição, no formato vertical – vêm agora no alto de página, horizontalmente.
Quando Bernardo Mello Franco trocou a Folha pelo Globo, em janeiro deste ano (ver J&Cia 1.137), sua coluna já estreou no formato antes reservado para os artigos: na horizontal, no alto da página. Para o mesmo formato, foram migrando as colunas de Antônio Gois e Flávia Oliveira, mas ainda no pé da página.
Editorias ganham a marca O
A letra O, de O Globo, transforma-se em marca circular, que se espalha por todo o jornal. Cada caderno, ou suplemento, terá uma cor do círculo.
E ainda: as fotos ganham personalidade própria. Nas matérias que não têm imagem, é possível brincar com o texto para ilustrar o conteúdo. Por outro lado, haverá histórias só com imagens, que eventualmente receberão fotolegendas. Os suplementos, cada vez mais, parecerão revistas. Entre estruturas verticais e horizontais, o que se procura é o passar das páginas de maneira agradável para o leitor.
Notícias do site vêm na horizontal
Quanto às modificações no site, seguem os mesmos princípios do impresso: (1) conforto para o leitor; (2) usabilidade; (3) hierarquia das notícias; e (4) visibilidade. A barra da home page vem no mesmo formato do impresso. Mantém-se também a mesma tipografia do papel.
Ali a reforma vai ocorrer por etapas: a home aparece já no dia 30/7, e assim aos poucos, até tudo se completar em outubro. As três colunas verticais que expõem o conteúdo atualmente serão organizadas em faixas horizontais. Houve a preocupação de permitir a recirculação, ou seja, sair de uma notícia para outra. E novidade: será lançada uma seção para tratar de gênero, o assunto do momento.