Por Ceila Santos
Ele dita uma das principais mudanças que começou neste milênio. Nasceu no século passado, depois de décadas de gestação nas garagens ou nos cantos ocultos daqueles que eram estigmatizados como nerds. Veio pra mudar o tempo e o espaço.
Tirou a mecânica de catar milhos da datilografia ou seguir as teclas com os quatro dedos, com muito barulho e as mãos acionadas a cada linha feita.
Trouxe um teclado plano, quase silencioso e, com a mobilidade, deixou claro a força do polegar que carrega a digital, a voz que vira escrita e um visual que move além da realidade tridimensional. Cada vez mais ágil, ágil, ágil e ágil.
Sinto-me bastante velha quando lembro que conheci o mundo antes da internet. Foi em 1996 que vi a reportagem da Veja ensinando como ela funcionava. Ano em que a Olivetti fechou suas portas no Brasil.
Sinto muito cansaço quando ouço a excessiva atenção dada à aceleração da linha histórica que as mídias representam entre as gerações. E quanto mais ocupada com o Digital maior minha sensação de impotência.
Lembro da expressão bios virtual, de Muniz Sodré, sobre a existência do ser humano vinculada à sua capacidade de lidar com o digital e anoto a frase do livro “A Ciência do Comum”: não se trata mais de conhecer (no sentido humanístico da palavra) e sim de tornar-se competente (de saber operar) pra respirar um pouco e tentar perceber o cansaço, a velhice e a impotência em mim.
Qual seria a versão da sua história para narrar o nascimento do Digital, a mudança que ele provoca e seus sentimentos em relação àquilo que sabe ou ouve sobre o novo paradigma?
Alma Investigativa
Não é de hoje que estamos antenados e focados na sua chegada, direcionando todas as nossas perguntas a ele, estudando todos seus efeitos na imprensa, na cultura e na educação, projetando todos nossos sonhos e fazeres a partir da sua existência, mas o quanto você já engoliu essa pergunta dentro da sua biografia?
Ao ouvir a relação de Débora Fortes com o digital reconheço um sentimento diferente da minha impotência. Débora gosta de desafios, tem fluência em inglês desde jovem, admira a inovação de Steve Jobs e foi repreendida por chefe, na época em que editor não sabia que o celular também servia para bloco de notas, pelo uso do dispositivo em reunião. Sem dúvida, ela é digital.
Conta sua trajetória do primeiro computador (com sistema OS/2 Warp), da IBM, até ao fato de servir aos amigos como referência para o consumo de eletrônicos, aplicativos ou serviços digitais, com paixão. Dá pra sentir o amor que Débora cultiva pela evolução que o digital propicia ao mundo.
Começo a relacionar a percepção positiva que Débora transmite ao digital com o mantra existencialista de Jean Paul Sartre (1905-1980): “O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós”.
Pesquisa-Te
Qual é a evolução que o digital te aponta? Ainda é muito presente pra reconhecê-la. Sinto-o como um Sugador. Me tira a mitologia de Cronos e Kairós. Sinto um vazio na alma. Ocupa toda a minha atenção e prova a EFICIÊNCIA máxima com a sua capacidade ágil de mensurar, medir, analisar, conectar, interagir, ligar, traduzir e ver além da realidade. Sinto-me pó.
Sexta-feira, dia 12 de junho, a pandemia completa o tempo que o planeta Mercúrio orbita o Sol: 88 dias. Na mitologia, o planeta representa a força do Mensageiro, o deus grego com asas nos pés. Agilidade sempre foi qualidade de quem entrega mensagens. O que nasceu, então, com o digital?
Vivemos o ápice do remoto. Débora revela que a pandemia dos zooms, no começo desta quarentena, trouxe o desafio de ir ao banheiro diante da explosão das reuniões necessárias para a tomada de decisões. Como funcionou sua energia, sua capacidade de concentração e atenção? Agiu sem parar nos fazeres urgentes do ritmo da pauta mesmo diante da demanda do almoço, da janta e do sono? E teu sono, existiu?
Quando me toco pela percepção positiva de Débora lembro da polaridade que a palavra eficiência tem dentro da governança baseada na sociocracia: equivalência. Eis, então, que nasce uma esperança e lembro da frase de John Naisbitt, norte-americano que assim como Débora passou pela IBM: os avanços mais emocionantes do século XXI não ocorrerão por causa da tecnologia, mas por conta de um conceito em expansão do que significa ser humano. Insight: Batalhadora, formada em Economia com gestão editorial, vivência com personalidades jornalísticas e filha única de mãe solteira. Muitos temas em torno de Débora. Escolhi o DIGITAL por causa da história comum da imprensa especializada e o contexto da pandemia.
Box do Líder
Débora Fortes
Technisys
Líder: Credibilidade
Filosofia: Um jornalista sempre pode se reinventar: fomos treinados para investigar e transformar uma página em branco numa matéria de capa
Referência: Steve Jobs
Tempo da Jornada
Jornalismo: 15 anos
Destaque: Abril e Globo
RP: 4 anos
Destaque: S2 Publicom (atual Weber Shandwick)
Corporativo: 7 anos
Destaque: Technisys e IBM
Formação: Economia e Jornalismo
Débora Fortes inveja o pique da paulista que foi nos anos 1990, quando viveu sua tripla jornada, da zona Norte até São Bernardo do Campo e do Centrão até o Butantã, das 5h30 até mais de meia noite. De manhã, Jornalismo na Metodista, à tarde trabalhava no Banco Econômico e, no fim do dia, USP, na faculdade de Economia. Finais de semana, ainda dava aulas de inglês no CNA.
Graças ao discurso de um professor da Metodista, que alertava para o futuro dos jornalistas como um bando de desempregados, ela graduou em dois mundos: o da paixão por escrever e o da curiosidade, inspirada pelo tio Davilson, economista, para manter-se na vida.
Quando a paixão falou mais alto, Débora já tinha três anos na área de Câmbio e deixou a proposta de gerente para tornar-se estagiária de Comunicação, na Eletropaulo. Pouco depois, tornou-se assessora da IBM, onde descobriu o amor pela tecnologia. Aprendeu muito na S2 Publicom (atual Weber) e realizou o sonho, no início do milênio, quando foi contratada como repórter pela Abril, na INFO.
Bastou um semestre para ela tornar-se a redatora-chefe. Como assim, ser chefe de quem eu tanto admiro no Jornalismo?, perguntou Débora a Sandra Carvalho, que lhe explicou que reconhecia nela, a qualidade de gerir pessoas e recursos.
Sua ascensão continuou na Editora Globo, com destaque para o editorial de David Cohen sobre a cultura pali pali da Coréia, na Época Negócios, que lhe rendeu o Citi Journalist Excellence Award, com um curso na Columbia University.
“Jornalista transforma uma página em branco e pode fazer o que quiser com sua alma investigativa”, repete Débora. Junto com força pali pali que ela traz na veia não há dúvida. Prova disso é a experiência de seis meses que propôs ao fundador da Technisys para ela cuidar não só da comunicação, mas também daquilo que era seu alvo: o marketing. E até hoje passa o dia falando três idiomas dentro da organização.