Lá se foi mais um amigo querido: Napoleão Sabóia. O trio de Paris do Estadão agora se reencontra em algum lugar inescrutável do pós-vida: Reali Júnior, Gilles Lapouge e Napoleão Saboia.
Minhas informações sobre a morte de Napô, como o chamávamos os amigos, acabam com uma cadeira ao lado da janela em seu apartamento da rua Santa Clara, no Rio. Terá pulado? Sei que foi suicídio, e agora o detalhe do desfecho não importa tanto.
O que Haroldo, um dos primos de Napô, contou em Paris é que ele andava numa terrível depressão e resolveu apressar o fim. Parte do ano passado ele estava trabalhando na EBC, a Empresa Brasileira de Comunicação, no Rio.
Napô e eu fomos amigos desde sempre, porém mais íntimos quando fui morar em Paris, correspondente da revista Época.
O nome dele intrigava os franceses, que não dão o nome de seus heróis a ninguém. Testemunhei a vez em que fomos alugar um carro, pediram-lhe o nome e, depois que ele o disse, o atendente resmungou: “Não estou brincando…”.
A ideia de suicídio já passava pela cabeça de Napô quando ele me procurou para ajudá-lo a publicar um livro, O senhor da festa, no ano passado. Mandei os originais dele para o editor José Renato Almeida Prado, da 11 Editora, que tinha publicado um livro meu, e lá o prazo para impressão não o agradou: ele tinha pressa. Acabou em outra editora, que lhe entregou o livro em três meses. Mas no dia do lançamento caiu um temporal impressionante, e a maioria dos amigos não compareceu.
Napô começou em jornal em O Imparcial, do Maranhão. Ele é considerado um maranhense-cearense, foi assessor de José Sarney. Passou pela Folha de S.Paulo até se mudar para Paris, onde colaborou com a Radio France Internacional e para a Veja. Depois, foi para o Estadão, com Reali Júnior e Gilles Lapouge, ambos mortos. Ficou mais de 20 anos, escrevendo, principalmente, para a área cultural, com entrevistas memoráveis com Claude Lévi-Strauss e Jorge Amado.
Soube que ultimamente tinha pesadelos com AVC, tão reais que até disse a um amigo que havia sofrido um. Também se queixava de dores na coluna, que o imobilizavam na cama. Hoje, a cadeira ao lado da janela, em Copacabana. Que tristeza! (Napô tinha 82 anos e deixa dois filhos, Bruno, jornalista, e Antônio, ator que trabalhou em Bacurau).
A colaboração desta semana é de Moisés Rabinovici, que atuou como correspondente internacional e dirigiu diversas publicações e hoje comanda o programa Um olhar sobre o mundo, na EBC, em São Paulo.
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Grato pela publicação