Nesta sexta-feira (22/9) completam-se 40 anos da invasão do campus da PUC-SP pelas forças da ditadura militar, comandadas na ocasião pelo coronel Antonio Erasmo Dias, então secretário da Segurança de São Paulo. Foram quase mil presos – muitos deles feridos por espancamento ou queimaduras de bombas – e diversas instalações da universidade depredadas pelos policiais.
O motivo de tanta violência foi um ato público que estudantes faziam na porta do teatro da universidade (Tuca) para celebrar a realização do 3º Encontro Nacional de Estudantes, que havia sido proibido pelos militares. Comemoravam também a reorganização do movimento estudantil e da União Nacional dos Estudantes, que atuava na clandestinidade.
Portal dos Jornalistas teve acesso a um álbum do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) da época com fotos e dados de perto de 400 estudantes de diversas escolas que foram fichados na ocasião. Identificamos nesse chamado “carômetro” 14 estudantes da ECA-USP que viriam a ser jornalistas ou a ter atividades relacionadas ao jornalismo.
São eles: Eduardo Gianetti da Fonseca (economista), Alberto Gaspar Filho (TV Globo), Cesar Augusto Nogueira (assessor de imprensa), Demétrio Magnoli (colunista da Folha de S.Paulo e comentarista da GloboNews), Edmundo Machado de Oliveira (Pesão – ex-Estadão), Edson Celulari (ator – TV Globo), Fábio Malavoglia (âncora do programa Metrópoles, da Cultura FM/SP), José Américo Assencio Dias (deputado estadual – PT/SP), Josimar Moreira de Melo (crítico de gastronomia), Maria Inês Nassif (Jornal GGN), Mário Sérgio Marques Conti (GloboNews, colunista da Folha de S. Paulo, ex-Veja), Maurício José Ielo (ex-Estadão, já falecido), Milton Assi Hatoum (escritor) e Orlando Barrozo do Nascimento (revista Hometeather). Mas com certeza há outros, e se você estava lá ou quer ver se tem algum conhecido, confira o documento original.
São Paulo, 22 de setembro de 1977
Tropas da Polícia Militar invadem o campus da PUC-SP, no campus Monte Alegre, e prendem estudantes, professores e funcionários. À frente da ação, o coronel Erasmo Dias, secretário de Segurança Pública do Estado. Diante de quase mil pessoas – entre alunos, professores e funcionários – duramente arrancadas de suas rotinas e acuadas em um estacionamento em frente à Reitoria, o coronel berrou: “É proibido falar. Só quem fala aqui sou eu”.
Não, a PUC não se calou. E 40 anos depois faz questão de “lembrar para resistir”.
Eram por volta das 21h quando estudantes faziam um ato público na porta do Tuca para celebrar a realização do 3º Encontro Nacional de Estudantes, que havia sido proibido pelo regime militar. Comemoravam também a reorganização do movimento estudantil e da União Nacional dos Estudantes, que atuava na clandestinidade.
Tropas policiais chegaram ao campus atirando bombas sobre os manifestantes. Na operação dentro da PUC-SP foram usadas bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Em seguida, sob golpes de cassetete e ofensas, as pessoas foram conduzidas para um estacionamento que havia na rua Monte Alegre, esquina com a Bartira. Houve triagem e 900 foram levadas em ônibus para o prédio do Batalhão Tobias de Aguiar.
Naquele período de governo Geisel, a PUC paulista se destacava como um local de resistência à ditadura militar e luta pela redemocratização. Em julho do mesmo ano, havia sediado a 29ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), então proibida pelos militares de ocorrer em universidades públicas.
Os irmãos Luiz Carlos e Márcia Barbel estavam naquele noite e concederam entrevista à TV PUC. O professor de Jornalismo José Arbex, que na época era aluno da Poli-USP, analisou a importância do movimento.
Ao longo desta semana, a Universidade realiza eventos para relembrar o episódio. No primeiro deles, em 18/9, os estudantes Maria Augusta Thomaz, Carlos Eduardo Fleury, Cilon Cunha Brum, José Wilson Lessa Sabbag e Luiz Almeida Araújo, assassinados durante a ditadura militar, receberam diplomas simbólicos dos cursos que jamais puderam concluir. Os corpos de Luiz Almeida (Lula) e de Cilon Brum nunca foram encontrados.
A semana de memória e celebração será encerrada na sexta-feira (22/9), com um ato às 14h30 em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, em apoio à absolvição de estudantes indiciados durante manifestação contra o governo Temer em setembro de 2016. Para a noite do dia 22 está programada uma concentração diante do Tuca e uma passeata em volta da PUC, batizada de Invasão Cultural.
Eu estava lá. Era presidente de Centro Acadêmico da PUC-SP, participara do encontro no dia anterior e fugi do estacionamento. Acho que o ano de 1977 precisa ser mais debatido e documentado. Estarei sempre à disposição para fazer isso. Inclusive, ainda tenho alguns panfletos e publicações da época.
30 de setembro de 2017 at 09:06 – Reply
Eu estava lá. Era presidente de Centro Acadêmico da PUC-SP, participara do encontro no dia anterior e fugi do estacionamento. Acho que o ano de 1977 precisa ser mais debatido e documentado. Estarei sempre à disposição para fazer isso. Inclusive, ainda tenho alguns panfletos e publicações da época.