Empresa e Sindicato divergem quanto a fatos e números da paralisação Está em greve desde a última 6ª.feira (20/9) parte das redações do jornal Diário do Pará e do Portal Diário Online, empresas do Grupo Rede Brasil Amazônia de Comunicação, do senador Jader Barbalho (PMDB/PA). Dentre as principais queixas estão salário de menos de R$ 1 mil brutos, abaixo do que hoje é acordado com o concorrente O Liberal (de R$ 1.908,25), a falta de um plano de carreira e as precárias condições de trabalho, que, segundo os profissionais, implicam problemas como falta de água potável para consumo, banheiros sem produtos de higiene pessoal, veículos em mau estado de conservação e falta de computadores nos horários de fechamento. As negociações para um acordo entre direção da empresa e jornalistas vêm-se arrastando desde abril, quando, segundo Sheila Faro, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará, a entidade teria encaminhado as propostas à direção do Grupo, sem que esta tenha-se pronunciado “devidamente” a respeito: “Chegamos a levar o caso para a Superintendência Regional do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho para que intermediassem, mas a empresa nunca enviou para as reuniões alguém que tivesse poder de decisão para efetivamente solucionar ou discutir os problemas”. Por conta dessa movimentação, a empresa teria ainda dispensado recentemente o repórter do caderno Você Leonardo Fernandes, “como retaliação à iniciativa de reivindicar melhorias para os profissionais da casa”. Em entrevista a este Portal dos Jornalistas, Gerson Nogueira, diretor de Redação do Diário, acredita que parte das reinvindicações foi feita apenas com o intuito de chamar atenção ao caso: “O real problema envolve o piso salarial e outras questões correlatas, como banco de horas e carga horária. Era uma negociação que estava em andamento e já havíamos inclusive feito uma primeira proposta de R$ 1,3 mil para jornalistas iniciantes, mas acabou que não chegamos a um acordo e eles decidiram pela greve, alegando que a empresa estaria sendo intransigente. Apesar dessas reclamações, nossa média salarial hoje é de R$ 2,6 mil, superior inclusive à de cidades como Salvador e Recife”. Sobre os problemas de estrutura ele explica: “São problemas muito pontuais, até porque temos implantada aqui dentro a CIPA, responsável por fiscalizar qualquer tipo de questão dessa natureza. Atualmente estamos instalados em um prédio de oito andares, muito bem equipado”. Duas reuniões foram realizadas antes de deflagrada a greve, uma na 5ª.feira (19/9) e outra instantes antes da paralisação, no dia seguinte. Entidade e direção divergem também em relação ao número de profissionais paralisados. Segundo o Sinjor-PA, aproximadamente 80% dos cerca de 60 profissionais registrados na empresa teriam aderido, enquanto números da direção do Grupo dão conta que dos 126 jornalistas registrados pelo jornal (32 deles no interior do Estado), apenas 22 teriam parado, enquanto na redação online esse número seria de nove dos 31 jornalistas contratados. Tanto impresso quanto online continuam com suas circulações inalteradas. Segundo Nogueira, a direção do jornal tem-se colocado à disposição de nova discussão, o que a presidente do Sindicato nega: “Hoje (24/9) iremos protocolar um ofício com a ata da primeira reunião e reforçar o pedido para que a direção do jornal nos receba para uma conversa. Não estamos pedindo muito, apenas que respeitem questões básicas de direitos humanos e o trabalho do jornalista. A infraestrutura lá é desumana e a questão salarial é uma das piores do Estado. Eles clamam ser a empresa mais premiada do Pará, e realmente ganham muitos prêmios, mas isso não é revertido aos jornalistas. Não queremos agradecimento, queremos é dinheiro no bolso. Agradecimento não paga as contas de casa e nem aquela cervejinha no fim do mês a que todo mundo tem direito”, protesta. A campanha do Sindicato, intitulada Jornalista Vale Mais, recebeu ainda nesta 2ª.feira (23/9) o apoio do diretor do Departamento de Relações Institucionais da Fenaj José Carlos Torves, que viajou até Belém para acompanhar as negociações: “Esses trabalhadores estão dando exemplo para o Brasil inteiro. Com certeza serão os protagonistas de uma história que mudará os rumos do jornalismo brasileiro. Esse movimento vai desencadear uma série de mobilizações da categoria em outros Estados”. Pauta de reivindicações Integram a pauta de reinvindicações que foi entregue à direção do Grupo RBA o aumento do piso salarial para R$ 1.908,25, valor que hoje é aplicado na redação de O Liberal, principal jornal concorrente; estabelecimento de um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração; instituir tíquete-alimentação de R$ 253,25 mensais; reintegração do repórter Leonardo Fernandes ao quadro do jornal; que seja incluído no acordo coletivo o início de uma discussão com a direção para a construção de uma proposta de Participação nos Lucros e Resultados; igualar as remunerações de quem trabalha no interior do Estado com quem trabalha em Belém; e o fornecimento de equipamentos de segurança para todos os jornalistas que fazem cobertura policial, incluindo os que cobrem somente em escalas. Carta aberta Confira a seguir a íntegra da carta aberta que os profissionais em greve encaminharam à direção do Grupo RBA no dia 20 e na qual explicam suas posições: “Nós, jornalistas do Diário do Pará e do Diário Online (DOL), com o apoio do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor), declaramos à direção do grupo RBA de Comunicação que estamos em franca campanha por melhores condições de trabalho, remuneração, pelo fim da superexploração da nossa mão de obra, da intimidação e assédio moral que enfrentamos diariamente. Exigimos a abertura imediata das negociações entre a direção desta empresa e seus trabalhadores para a avaliação da nossa pauta de reivindicações, anexa a esta carta. Também exigimos a imediata interrupção dos processos de demissão em curso e todo tipo de retaliação a funcionários que se manifestam a favor de melhores condições trabalhistas. Informamos aos diretores desta empresa e a todos os colegas jornalistas, de todos os veículos de comunicação do Pará e do Brasil, que não ficaremos mais calados diante de todas as atrocidades que enfrentamos para realizar nosso trabalho. Nenhum de nós se conformará com um salário líquido que não chega a mil reais, com as frequentes horas extras nunca pagas, com cadeiras e computadores sucateados, que prejudicam nossa saúde com cada vez mais gravidade, com a falta até mesmo de água potável na copa e de papel higiênico nos banheiros. Nenhum de nós reproduzirá novamente o discurso de que “é normal o jornalista trabalhar muito e ganhar pouco”. Uma miséria, na realidade. Não é normal! Não deixaremos mais que nosso sofrimento como trabalhadores seja ocultado por todos os prêmios conquistados a duras penas e que fazem o Diário do Pará se autointitular como “o jornal mais premiado do mundo”. Estamos aqui para denunciar que essas conquistas se devem ao suor de homens e mulheres que sequer ganham o bastante para se alimentar com decência todos os dias do mês. Tampouco deixaremos que a ameaça de demissão e o assédio moral voltem a calar qualquer um de nós. Com o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor) em nossa retaguarda, denunciaremos toda tentativa de desrespeito à nossa dignidade como seres humanos e trabalhadores. Defenderemos aguerridamente todas as reivindicações contidas em nossa pauta e não arrefeceremos nem nos intimidaremos até que haja uma negociação efetiva entre a direção desta empresa e seus funcionários, com ganhos reais para nossa categoria. Usaremos de todos os instrumentos trabalhistas, políticos e jurídicos para que nossa causa nunca mais volte a ser ignorada. À sociedade em geral, que diariamente consome a informação que nós produzimos, reafirmamos o compromisso com a qualidade do nosso trabalho, porque entendemos que a informação séria, produzida com responsabilidade, é a base para a sociedade democrática que todos desejamos construir. Conclamamos a todos os colegas de profissão, trabalhadores, estudantes, movimentos sociais e sindicais para que nos ajudem a ampliar nossa voz diante de todas as mazelas aqui expostas. Queremos que a família Barbalho entenda que o compromisso com a informação de qualidade não pode ser menosprezado e, com isso, se disponha a garantir um mínimo de condições decentes para que seus funcionários cumpram com sua função social de informar bem a nossa população.”