A repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello foi alvo de insultos e acusações durante mais uma etapa da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, realizada nessa terça-feira (11/2). Intimado a depor, o ex-funcionário da empresa de marketing digital Yacows, Hans River do Rio Nascimento, disse que a jornalista “queria sair” com ele em troca de informações para uma reportagem.
Hans foi uma das fontes ouvidas por Patrícia durante a apuração da reportagem Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp, que denunciava investimentos não declarados de R$ 12 milhões por empresas apoiadoras do então candidato Jair Bolsonaro, ação vedada pela justiça eleitoral. Pela reportagem, ela foi vítima de uma série de ataques e ameaças pessoais por apoiadores de Bolsonaro, o que resultou inclusive em um reconhecimento internacional do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), que lhe concedeu em novembro do ano passado o International Press Freedom Award.
Ao comentar as acusações, o deputado Eduardo Bolsonaro disse não duvidar que a repórter “possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”. Após sua participação na CPMI, o filho do presidente ainda postou suas afirmações no Twitter.
Em nota, a Folha condenou os ataques à jornalista. “A Folha repudia as mentiras e os insultos direcionados à jornalista Patrícia Campos Mello na chamada CPMI das Fake News. O jornal reagirá publicando documentos que mais uma vez comprovam a correção das reportagens sobre o uso ilegal de disparos de redes sociais durante a campanha de 2018. Causam estupefação, ainda, o Congresso Nacional servir de palco ao baixo nível e as insinuações ultrajantes do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)”, afirmou o jornal.
Uma reportagem publicada em seguida pelo jornal também mostrou as cópias das trocas de mensagens entre Hans e Patrícia, que contradizem o depoimento dele. Em uma das mensagens, inclusive, é possível ver que o ex-funcionário é quem chegou a convidar a jornalista para ir a um show. A partir deste momento, Patrícia passou a evitar ligações telefônicas, garantindo assim que toda troca de mensagem ficasse registrada.
Em seu Twitter, Patrícia agradeceu a solidariedade e pediu que seus seguidores compartilhassem a notícia com as provas das mentiras contra ela, e lembrou: “Mentir em CPMI é crime”. Ainda assim, o episódio fez com que ela fosse alvo de ofensas machistas nas redes sociais.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou as “alegações difamatórias” de Eduardo. “É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia”, disse a entidade.