Pesquisa nacional realizada pelo Instituto Poder Data sobre a percepção geral da atuação da imprensa na cobertura da tragédia de Brumadinho revela que 69% dos brasileiros consideram que a imprensa informou bem sobre a tragédia. Desse total, 36% aprovam a cobertura, mas apontam que faltou falar mais das vítimas. Apenas 13% a avaliam como negativa, tanto sobre os acontecimentos, como sobre as vítimas.

Ocorrida cinco anos e sete meses atrás, a tragédia tirou a vida de 272 pessoas: 250 trabalhadores, 15 moradores próximos da barragem, cinco turistas e dois nascituros. Mesmo decorrido todo esse tempo, a tragédia ainda é lembrada pela maioria da população brasileira: 69%, índice elevado para a população que não foi afetada diretamente. Em Brumadinho o índice de conhecimento é de 100%. Nas demais cidades de Minas Gerais o percentual de quem conhece ou ouviu falar da tragédia é de 87%.

A pesquisa abrangeu eleitores e eleitoras com 16 anos de idade ou mais, em 175 municípios nas 27 unidades da Federação. Ao todo, foram ouvidas 3.200 pessoas. Dentro do quadro nacional, Brumadinho destaca-se por apresentar um número maior de entrevistados cobrando maior cobertura sobre quem são as vítimas.

Para Armando Linhares Medeiros, da coordenação técnica do Projeto Legado de Brumadinho, os dados confirmam o papel relevante da imprensa em impedir que tais tragédias, e suas lições, fiquem invisíveis: “A cobertura da imprensa, além de endossar a luta contra a impunidade, serve de alarme para a não repetição de atos gravíssimos de negligência cometida por grandes corporações e, muitas vezes, por mais que se esforce, sem resposta eficaz do Poder Público”.

Outro dado importante da pesquisa é sobre o grau de conhecimento a respeito de outras barragens em situação de risco no Brasil. Um total de 74% de entrevistados reconhecem que existem barragens com risco de rompimento, como ocorreu em Brumadinho. Outros 7% afirmam que sim, há riscos, mas não como o de Brumadinho. Já 8% não acreditam que existam barragens em risco e 11% não sabem. No relatório de julho passado, a Agência Nacional de Mineração (ANM) apontou que há, no Brasil, 158 barragens em situação de risco médio e alto.

De acordo com Lariza Squeff, da LS Comunicação, responsável pela campanha #amanhãpodesertarde e de ações de comunicação para a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho (Avabrum), um dos maiores desafios da comunicação por propósito e de suporte a causas sociais é não deixar cair no esquecimento: “É quase um hábito da nossa sociedade esquecer das grandes tragédias, o que implica grande possibilidade de repetição. A campanha atua na perspectiva de que nunca mais aconteça”.

Nayara Porto, presidente da Avabrum, é categórica ao lembrar que, para os familiares, não existe reparação: “Nem com o maior dinheiro do mundo existe reparação. Por isso, precisamos lutar para preservar a memória do que aconteceu – e punir os responsáveis –, para que outras famílias e comunidades não enfrentem os problemas que estamos vivendo. Há lições que precisam ser aprendidas urgentemente, exigindo uma nova postura das empresas e do Estado”.

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