Por Assis Ângelo

Meu amigo, minha amiga: você sabia que a boneca Barbie foi inspirada numa prostituta?

Em 1952, o chargista Reinhard Beuthien passou a publicar no jornal Bild tirinhas com uma personagem a que deu o nome de Lilli.

De corpo escultural, Lilli não tinha papas na língua. Sincera e brincalhona, e também provocativa, não deixava pergunta nenhuma sem resposta. Segundo seu criador, era de dia secretária e de noite disputada mulher entre os homens. Logo ganhou muitos leitores e leitoras. Daí pra virar Barbie, foi um passo.

 

Conta-se que em 1959 a norte-americana Ruth Handler (1916-2002), em viagem à Suíça, deparou-se na vitrine com a boneca de Beuthien. Abriu a bolsa e comprou. O resto é história.

Pois é, como se vê, do real ao imaginário é um pulo.

Nessa linha podemos dizer que muitos escritores e escritoras foram longe.

A jornalista paulistana Márcia Denser (1949-2024) tinha 26 anos de idade em 1977 quando lançou o primeiro livro: Tango Fantasma. Esse foi um livro bem recebido pela chamada crítica literária. Tratava da vida feminina, da mulher moderna livre, que define e desbrava seus próprios caminhos. É dela o conto Hell’s Angels, publicado em 1986. Nele, a protagonista Diana conhece um tal de Robi e com ele tem um trelelê. O cara tem 19 anos e está em ponto de bala e ela, aos 30, encara a parada e depois deixa o moço a ver navios. Nessa história, tem uma boneca. E mais não digo.

É tocante até demais o conto que a baiana Sônia Coutinho (1939-2013) escreveu e intitulou de Toda Lana Turner tem seu Johnny Stompanato. Esse conto, envolvendo a atriz norte-americana Lana Turner (1921-1995), tem por base a vida real. Ela se apaixona por um mafioso nominado Johnny Stompanato, que a explora até não querer mais. Transa com ela muitas vezes na marra. O cabra acaba assassinado. Quem o teria matado? Lana ou a filha dela, Cheryl? Tãn, tãn, tãn, tãããnn…

É uma história que impressiona, essa escrita pela norte-americana Taylor Jenkins Reid. A personagem do título é uma cubana que vai se aventurar como atriz na Hollywood dos anos 1950. Rapidamente aprende com quase perfeição a língua dos gringos e segue em frente. Logo ganha fama com suas aparições na telona. Vira uma referência do cinema mundial. Seu primeiro casamento é com um jovem de 18 anos, que não dura muito. Depois, ela vai encontrando novos amores até que se vê apaixonada por uma colega do cinema, Célia St. James, vencedora de três Oscars.

Já beirando os 80 anos de idade, Evelyn Hugo convida uma jornalista emperrada na profissão para contar a sua história tintim por tintim. Surpreendi-me deveras com a leitura do livro Os Sete Maridos, de Hugo, publicado originalmente em 2017.

Bahia, Rio, São Paulo e Minas têm revelado para o Brasil muitos autores, como Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Ivan Ângelo. É deste o conto Bar, que conta a história de uma jovem moderninha, bonitinha, vestindo uma sainha bem curtinha, que chega num bar com as portas quase fechando. É noite. Quer fazer uma ligação urgente. O cara do caixa deixa. De repente chega um sujeito esquisito e um tanto bêbado. Compra cigarro e fica por ali rondando, enquanto a menina fala. Quando ela percebe, está cercada por três marmanjos, com olhos gulosos. Ela consegue se safar… E mais não conto.

Fernando Sabino (1923-2004), destacou-se na imprensa e nos livros que escreveu. Em 1998 descreve uma situação vivida por um dos seus personagens, no conto O Homem Nu. É curiosíssimo, virou filme.

Das Dores é uma mulher que, como tantas, foi criada para os afazeres domésticos. Isto é, para cuidar de casa e tal. Ela sonha com um provável namorado imaginário. Ao armar o presépio natalino, ela imagina ver no menino nascido o homem que quer amar. O desejo aflora nela com ímpetos de violência. Aí está o poeta Drummond prosador.

Coisas esquisitas também colocou o jornalista João do Rio. João deixou muitas reportagens e muitos livros. Uma trintena, mais ou menos. Teatro e coisa e tal. Foi até tradutor de Oscar Wilde (1854-1900), com quem se identificava.

Em Dentro da Noite, João do Rio conta a história de um cara que namora uma mulher e com ela fica noivo. De uma hora pra outra ele sente uma vontade incontrolável de enfiar agulhas no corpo dela. Começa pelos braços e termina completamente viciado nisso, e ela a ele submissa. Quer dizer, estamos falando de um sádico.

Nessa mesma linha de submissão vive uma personagem criada por Nélida Piñon. Apaixonada pelo marido, faz tudo que ele pede. Tudo mesmo. O prazer dela é ver seu companheiro feliz. Essa personagem se acha no conto I Love My Husband. Coisa doida, né?

Ainda sobre esse tema, mas um pouco fugindo dele, é o bom punhado de contos inseridos nas 140 páginas do livro Insubmissas Lágrimas de Mulher, que a romancista e poetisa mineira Conceição Evaristo publicou em 2011. As histórias se interligam de certo modo em boa parte pela violência dos personagens masculinos. Chega doer em alguns momentos. A autora não nega a mistura que fez da realidade com a ficção. É bem escrito, muito bom.

 


Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora

Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333

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