Por Assis Ângelo
No campo do jornalismo não é incomum identificar profissionais que escreveram bons textos, bons livros, tratando do erotismo e tal.
João do Rio, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, Rubem Braga e tantos.
A Força Humana, de Fonseca, conta a história do dono de uma academia de ginástica que tem um amigo. Esse amigo conhece um rapaz forte e tal que o leva para treinar. Os três se dão bem. É quando surge uma jovem de nome Lena. Essa jovem é prostituta. Vibrante. E mais não digo.
Braga (1913-1990), como todo mundo sabe, foi também contista de grande categoria. Entre suas histórias, Um Braço de Mulher. É simples: num avião da ponte aérea Rio-São Paulo, uma passageira, morrendo de medo, agarra-se ao braço de um desconhecido, enquanto o avião treme nas nuvens. Tudo termina bem, ninguém morre.
Dizem que João do Rio, embora assumidamente homossexual, apaixonou-se pela dançarina norte-americana Isadora Duncan (1877-1927), que conheceu numa de suas idas a Paris. A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2024 foi dedicada a ele.
Nelson, como quase todo mundo sabe, provocou uma revolução no teatro brasileiro com seus textos descomprometidos com a mentira e a hipocrisia. Pôs a nu a sociedade do faz de conta, que põe os pecados debaixo do tapete. Todos os seus livros tratam disso.
Vestido de Noiva pôs os conservadores em pé de guerra. É peça que não perde nem a atualidade e nem o vigor. Estreou em 28 de dezembro de 1943, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a direção do polonês Ziembinski (1908-1978).
A peça conta a história de um casal que se muda com as filhas para um casarão onde outrora fora um bordel. No decorrer da trama uma personagem “rouba” o namorado da outra. Tem acidente de carro, hospital e morte.
Uma das atrizes que interpretaram a noiva da peça, Viviane Pasmanter, não teve acanhamento nenhum de afirmar que “ser prostituta é um desejo que toda mulher tem”.
Pois, pois.
Não são brinquedos as tramas arquitetadas por Nelson Rodrigues, autor de umas 20 peças. Numa delas, o autor insere um jornalista e um delegado corruptos e tal. O jornalista é do diário Última Hora, criado por Samuel Wainer.
O jornalista interpretado por Ribeiro Amado existiu.
Samuel Wainer é citado na peça.
Como em Vestido de Noiva, O Beijo no Asfalto, de 1960, começa com um atropelamento numa das conhecidas praças do Rio de Janeiro. Foi feita a pedido da atriz Fernanda Montenegro, que na primeira versão, levada à cena em 1961, interpreta a personagem Selminha. O Beijo no Asfalto, que virou filme em 1980, ao final choca quem a assiste. Não tem como!
História parecida foi engendrada pelo norte-americano Ari Aster. Título: The Strange Thing About the Johnsons, em português algo como A Coisa Estranha sobre os Johnsons.
No texto de Nelson o chefe da família se envolve com o genro. No texto de Aster, é o filho que se envolve com o pai.
Revolução idêntica fez Nelson no campo da crônica para jornal e revista.
Na crônica de 1º de outubro de 1968, o “anjo pornográfico”, como Nelson era chamado por amigos e inimigos, com sua metralhadora giratória por pouco não apagou o cantor e compositor Geraldo Vandré.
Depois de fazer comparação com um dos personagens do romance Os Maias, de Eça de Queiroz, Nelson detona Vandré por não aceitar a decisão dos jurados do Festival Internacional da Canção: “Ele acabara de saber que era, apenas e miseravelmente, o segundo colocado. Os presentes não puderam sentir o seu patético, mas o telespectador, sim. Para nós, de casa, a cara de Vandré tomou a expressão cruel, vingativa, de certas máscaras cesarianas. Lia-se tudo na jovem cara. Houve um momento em que, instigado pelos seus fiéis, Vandré perguntou, de si para si: ‘Abro ou não o verbo?’. Seria o comício”.
Mas essa é outra história…
Ah! Sim: Nelson Rodrigues, vejam só, chegou certa vez a dizer que fora influenciado pela poetisa Gilka Machado.
É pra lá de óbvia ululante a revolução que Nelson Rodrigues fez no campo teatral.
Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora
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