Por Assis Ângelo

Mulheres também têm sido personagens de muitos contos e romances de ficção científica mundo afora, nas mais diversas línguas.

No primeiro livro de contos do russo naturalizado norte-americano Isaac Asimov, (1920-1992), Eu, Robô (1950), aparece uma personagem identificada como psicóloga roboticista. Seu nome: Susan Calvin.

Isaac Asimov

Susan é alguém que desfruta de prestígio e respeito numa empresa fabricante de máquinas robóticas. Nada vai adiante sem a sua aprovação. E aí é que vem a coisa.

Um dia, um jornalista bate à porta de seu escritório pedindo entrevista. Ela anda ali pela casa dos oitenta, carregando consigo histórias tantas. É simpaticíssima. No campo sexual, porém, parece ser completamente inexperiente. Ingênua até, embora um dia tenha se apaixonado por um cientista conceituado. Coisa do tipo platônico.

Ao jornalista a personagem abre o coração e diz o que a mente manda.

O livro contém nove contos. Um deles surpreende quando o personagem, um robô, convence a psicóloga dizendo que há correspondência entre ela e uma paixão oculta. Esse robô é programado para obedecer a ordens e jamais ferir ou decepcionar um ser humano. Assim é, pode ou poderá ser. E ela chora desesperadamente ao descobrir a verdade. Que verdade?

A psicóloga Susan é o elo de ligação entre os contos que formam o livro Eu, Robô.

Não custa lembrar que esse livro começa com um robô babá cuidando de uma criança que por ele se afeiçoa. A mãe da menina é contra máquinas de inteligência artificial cuidando de humanos.

Em 1954 Asimov lançou o livro As Cavernas de Aço. Conta uma história que se passa num futuro longínquo, com humanos habitando subterrâneos de Nova York. Nesse imaginário mundo há mais robôs do que gente. Num determinado momento, um cientista é assassinado e para descobrir o assassino é destacado um superinvestigador de polícia, Elijah Baley.

 

Esse livro é cheio de ação, emoção, suspense, suicídio, amor e paixão. É um tempo em que há controle de natalidade.

Esse foi o primeiro romance de Asimov. O segundo, O Sol Desvelado (1957), traz a continuação do primeiro.

O enredo desse novo romance trata de descendentes de terráqueos habitando dezenas de mundos diferentes. São chamados de solarianos, habitantes do planeta Solaria, onde há 20 mil “humanos” e 20 milhões de robôs. Lá também ocorre um misterioso crime. A vítima é um importante cientista. Para elucidá-lo são convocados o investigador Elijah e seu parceiro no livro anterior, o humanoide R. Daneel Olivaw, movido a energia nuclear.

Como o primeiro, esse segundo romance de Asimov, tem como pano de fundo o tempo futuro.

Isaac Asimov começou a publicar suas coisas em 1940, em revistas de ficção científica. No total deixou quase 500 livros, incluindo didáticos e de história universal. De profissão era bioquímico.

Os crimes que aparecem em As Cavernas de Aço e O Sol Desvelado têm como vítimas especialistas em robôs, quer dizer: cientistas e tal.

As histórias de robôs contadas por Asimov são mais do que curiosas: interessantíssimas.

Até no mundo dos robôs há leis. Estas:

 

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal

2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei

3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis

 

Eu não ia falar de mais um romance de Asimov, mas vou falar.

No livro O Fim da Eternidade (1955) há o que não poderia haver no seu enredo: um cara, chamado Andrew, treinado pelo sistema para não ter emoção de tipo algum, apaixona-se perdidamente por uma cientista de nome Nöys.

Quem é essa mulher e o que ela pretende?

Essa história se passa quase toda na casa do chapéu, num inimaginável século 482.

Será que Nöys é uma figura perigosa?

Será que Nöys vai corresponder à paixão de Andrew?

Andrew é técnico de uma organização chamada Eternidade. Os habitantes dessa coisa são chamados de “Eternos”.

Ora, ora, não posso deixar de comparar Asimov a Guimarães Rosa, mas numa bobagenzinha só: Rosa era um paquerador e amante incorrigível, como o autor Isaac Asimov.

A pergunta: quem matou o primeiro e o segundo cientistas de As Cavernas de Aço e de O Sol Desvelado?

Uma coisa a mais: houve um escritor que inspirou a criação do Dia da Ficção Científica Brasileira. Era paulistano e chamava-se Jeronymo Monteiro (1908-1970).

Como Machado de Assis, Jeronymo Barbosa Monteiro era autodidata e poliglota. E também jornalista e um dos pioneiros da ficção científica ou ficção do futuro, como também esse gênero é chamado.

Como Machado, Jeronymo traduziu livros de autores como Victor Hugo. Falava quatro línguas: francês, italiano, espanhol e inglês.

E como Coelho Neto, Jeronymo caiu no esquecimento, pois são poucas as pessoas que lembram dele hoje e da obra que deixou. Entre seus livros se acham Três Meses no Século 81 (1947), A Cidade Perdida (1948) e Os Visitantes do Espaço (1963).

E ainda como Coelho Neto, Jeronymo escreveu livros direcionados ao público infantil.

Sua atividade como jornalista estendeu-se pelas páginas de Folha, Estadão e O Globo.

No jornal Tribuna, de Santos, Jeronymo assinou uma coluna intitulada Admirável Mundo Novo. Nela coluna, divulgava notícias do mundo científico.

Antes de trabalhar nesses jornais, assumiu a direção e edição da primeira revista publicada pela Editora Abril, em 1950. São dele a tradução e adaptação dos primeiros números do gibi O Pato Donald.

O maranhense Henrique Maximiano Coelho Neto foi um dos mais criativos jornalistas e ficcionistas da vida intelectual brasileira. Publicou centenas e centenas de contos, crônicas, poesias, romances. Muita coisa ele escreveu, até livros para o público juvenil. Chegou a assinar obras com Olavo Bilac.

Neto tem um conto bastante curioso no qual um cientista gera um ser esquisito denominado James Marian. Esse ser foi resultante da junção de um corpo masculino jovem cuja cabeça fora degolada e de uma jovem que teve o corpo esmagado de que sobrou apenas a cabeça intacta.

Cabeça de uma jovem num corpo de um jovem resultou no personagem próximo a Frankenstein. Detalhe é que, ao contrário de Frankenstein, Marian é bonito e encantador.

Lá pras tantas, Marian conta sobre seu criador:

 

(…) Tive um protetor, Arhat. Vivi em sua companhia e ele velou por mim. Não era de amor que me cercava, mas de cuidados. Eu era feitura sua, obra do seu saber. Tinha grande zelo por mim, sempre atento à minha saúde, às minhas tristezas, medicando-me, defendendo-me de todo o mal para que eu resistisse. Eu era para ele como objeto delicado que se conserva em vitrina. Amor não havia. Que fez por mim? Deu-me a vida, educou-me e instituiu-me herdeiro da fortuna que dissipo. Eu dormia e ele despertou-me… e ando agora como estremunhado, só desejoso de voltar ao sono. (…)


Reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333

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