* Por Mônica Paula
Era 1985 e, então estudante do segundo ano de Jornalismo da Cásper Líbero, fui contratada em agosto pela vizinha Rádio Jovem Pan, ambas na avenida Paulista. A “foquinha em estado puro” ficou imensamente feliz quando foi convocada, juntamente com todos os integrantes do Jornalismo e do Esporte, para participar da “Prévia Eleitoral Jovem Pan”. Concebida por Fernando Vieira de Mello, diretor de Jornalismo, a mobilização de repórteres, redatores, produtores e radioescutas, como eu, tinha por finalidade antecipar o resultado do pleito.
Em um trabalho de organização capitaneado pelo chefe de reportagem José Carlos Pereira da Silva, ou simplesmente Zé Pereira, aquele exército, dividido em duplas, era distribuído por todas as zonas eleitorais da cidade. Lá, pediam para os eleitores preencherem cédulas similares às oficiais, com cores diferentes para homens e mulheres, e depois colocarem na urna que carregavam. Para o transporte, valiam os carros da rádio, veículos particulares e táxis. Era uma loucura! Tive como parceira Rosa Riscala, produtora do noticiário de fim de tarde Hora da Verdade, profissional veterana que teve toda a paciência para lidar com a menina inexperiente e que hoje é uma querida amiga.
Na volta à rádio, toda aquela gente despejava suas urnas e os papéis eram amontoados e tabulados um a um, no mesmo esquema de contagem manual que existia em todas as juntas eleitorais à época. Um improvisado quadro em uma parede enorme servia de planilha gigante para que os dados fossem lá inseridos e, no final das contas, se chegasse a um resultado. E aquela eleição era emblemática, por ser a primeira após o sofrido processo de redemocratização do País. O páreo era disputado pelo senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB), de longe o preferido da mídia; o ex-presidente Jânio Quadros (PTB), saudado pelos fieis correligionários e execrado por muita gente porque foi a partir de sua renúncia, em 1961, que se articulou o golpe militar três anos depois; e Eduardo Suplicy, um dos herdeiros dos Matarazzo, tradicional família paulistana.
Foram duas rodadas de Prévias JP, uma dias antes e outra no dia da eleição. Às vésperas, todas as pesquisas indicavam a vitória de Fernando Henrique, que protagonizou um episódio até hoje lembrado: estampou a capa da Veja São Paulo sentado na cadeira de prefeito. A chamada anunciava “Ideias para uma cidade nova”. O então prefeito Mário Covas também esperava ser sucedido por seu histórico companheiro de partido. Contrariando a maré, a Jovem Pan cravava que quem estava na frente era Jânio Quadros, sendo por isso tachada de “Jovem Jânio”. Internamente, sentia-se a pressão por conta desse posicionamento. Fernando Vieira de Mello, Fernandão, um gênio das ideias dotado de temperamento forte, estava ainda mais nervoso naqueles dias.
No dia 15 de novembro, recolhidos e tabulados todos os dados contidos nas cédulas preenchidas, a Jovem Pan já sabia o resultado. Chancelada por Fernando Vieira de Mello e Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, dono da JP, uma nota foi veiculada no ar. O experiente Joseval Peixoto, apresentador da Hora da Verdade, caprichou na entonação e leu: “A Jovem Pan vem a público informar que, com base nos resultados de sua Prévia Eleitoral, o novo prefeito de São Paulo é o senhor Jânio da Silva Quadros”. A partir daí, foram horas de angústia até o TRE concluir a contagem manual e confirmar a apuração feita pela Jovem Pan. Jânio e seu vice, Artur Alves Pinto, foram eleitos com 1.572.424 votos, ou 37,53%, contra 1.431.300 (34,16%) de Fernando Henrique. Eduardo Suplicy ficou em terceiro lugar e sua vice, Luiza Erundina, seria a sucessora de Jânio em 1988. Aqui, outro acerto da Pan, que previu a virada dela sobre o então favorito Paulo Maluf. Hoje, devido à legislação eleitoral, a Prévia não pode mais ser realizada. Em tempo: ao assumir, Jânio protagonizou o espetáculo midiático de desinfetar a cadeia de prefeito com álcool.
Um grande abraço a todos os contemporâneos, incluindo os da Jovem Pan 2 (FM), entre eles, Fabio Pannunzio, Marcia Bongiovanni, Wellington de Oliveira, Antonio Freitas, Franco Neto, Francisco Verani, Francisco Falcão, Maria Helena Cássio, Valkíria Rabaça, Leda Cavalcanti, Elisete Branco de Camargo, Maria Yamasaki, Milton Parron, Maurício Calil, Paulo Capuzzo, Maria Elisa Porchat, Andreia Peres, Marco Antonio Sabino, Márcio Riscala, Meg Vicente, Marcelo Parada, Renata Perobelli Borba, Marcos Nunes de Barros, Wanderley Nogueira, Nelsinho Nogueira, José Carlos Carbone, Wagner Fonseca, Lilian Amarante, Rogerio Cesar Speni, Wagner Belmonte, Fausto Macedo, Nilson Cesar, Claudio Carsughi, Marcelo Mainardi, Silvia Carvalho, Fernanda Carvalho, Odalvo Menezes, Alexandre Hércules, Beto Rivera, Emílio Surita, Paulo Mai, Oscar Pardini, Zé Américo, e às famílias dos saudosos Alberto Tamer, Reali Jr., Narciso Vernizzi, Edson Di Fonzo, Amadeo Naddeo e Gonçalo Parada, pai do Marcelo.
* Mônica Paula ([email protected]), que foi por muitos anos do Estadão, atuou na Comunicação do IICS (Master em Jornalismo) e hoje integra a equipe de cursos e eventos da Aberje.