A Agência Pública está lançando uma campanha de arrecadação de recursos para a realização de uma série de reportagens que vai denunciar crimes e escândalos do governo de Jair Bolsonaro, no que a empresa chama de Caixa-Preta de Bolsonaro.
Está será a maior campanha de arrecadação já lançada pela Pública. A ideia é chegar a dois mil apoiadores até janeiro (no momento, a agência tem pouco mais de 1.500) para contratar mais jornalistas, obter verba para viagens, bancar advogados, entre outros recursos necessários para a produção das reportagens.
Nas últimas semanas, a Pública protocolou dezenas de pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação e quando forem respondidos a equipe terá em mãos documentos e diversas informações que estavam escondidas e que então virão à tona. A campanha de arrecadação visa a bancar um intenso trabalho de apuração, intepretação de dados e realização de reportagens de fôlego baseadas nessas informações.
Em carta enviada a assinantes, Natália Viana, diretora executiva da Pública, explicou que a ideia da Caixa-Preta surgiu não só para expor os crimes do governo Bolsonaro, mas para combater o discurso de “pacificação” que vem crescendo nas últimas semanas, principalmente depois que o ministro do STF Dias Toffoli criticou o julgamento dos torturadores na Argentina e falou em “sociedade presa no passado”.
“Isso é perigosíssimo. Na verdade, o momento atual é provavelmente nossa última oportunidade de acerto de contas com nosso passado violento, autoritário e profundamente corrupto”, diz a carta. “Precisamos acertar as contas para que os algozes da democracia sejam responsabilizados, mas também para que não voltem nas próximas eleições de roupa nova”.
Clique aqui para apoiar a campanha Caixa-Preta de Bolsonaro.
Leia a seguir a carta de Natália Viana na íntegra:
Olá,
Sou Natalia Viana, diretora e cofundadora da Agência Pública e tenho uma mensagem importante para você.
Não costumo escrever na nossa newsletter às sextas, normalmente nos encontramos às segundas, na Xeque na Democracia. Mas hoje, excepcionalmente, dada a importância do lançamento que vamos fazer, disse a meus colegas que preferia enviar essa primeira mensagem.
A Pública lança hoje a mais ousada campanha de arrecadação de recursos da sua história. Realizamos esse tipo de campanha desde 2013 e, ao longo da nossa trajetória, nunca nos faltou o apoio de leitoras e leitores que acreditam no nosso trabalho.
Você não cria a maior agência de jornalismo investigativo independente de um país continental como o Brasil sozinha. É preciso muitas mãos para que um projeto assim dê certo. Por isso, antes mesmo de seguir adiante e explicar o tremendo desafio que temos pela frente, quero te agradecer por estar ao nosso lado há tantos anos.
Agora, sendo direta: a Pública vai abrir a caixa-preta de Bolsonaro. E você precisa fazer isso com a gente. Quero te explicar o que faremos a partir de três pontos. Olha só:
- Por que abrir a caixa-preta de Bolsonaro?
Nos últimos quatro anos, o governo Bolsonaro empurrou o Brasil para o abismo. Ele nos devolveu para o Mapa da Fome, ignorou uma pandemia, atrasou a compra de vacinas, desmatou a Amazônia, sucateou o país e atacou a democracia por todos os lados. Só que muitos desses crimes ainda não foram descobertos, porque eles também se especializaram em mentir. Os segredos desse governo estão guardados a sete chaves por trás do sigilo de 100 anos e de outras táticas de sonegação de informação.
Agora, estamos vendo com enorme preocupação crescer em diversos setores um papo bem estranho de “pacificação” do país. Esse discurso ganhou projeção depois que o Ministro do STF, Dias Toffoli, criticou o julgamento dos torturadores na Argentina e falou em “sociedade presa no passado”. Isso é perigosíssimo. Na verdade, o momento atual é provavelmente nossa última oportunidade de acerto de contas com nosso passado violento, autoritário e profundamente corrupto. Precisamos acertar as contas para que os algozes da democracia sejam responsabilizados, mas também para que não voltem nas próximas eleições de roupa nova. Exatamente como aconteceu em 2018.
- Como a Pública vai abrir essa caixa-preta?
A verdade é que só o jornalismo independente pode revelar esses segredos. Porque as instituições de Estado sozinhas não farão. O jornalismo tem força para investigar, denunciar e expor conchavos de maneira a mobilizar a sociedade e, com isso, gerar pressão. A Pública é a maior agência de jornalismo investigativo do Brasil, ninguém investiga como a gente. Nosso trabalho é respeitado mesmo por aqueles que nos odeiam. Sério! Por isso temos fontes na direita, no judiciário, entre militares e na administração pública. Então, elaboramos um plano de ação e pretendemos, ao longo de 2023, publicar uma série de reportagens em um especial que decidimos chamar de Caixa-preta de Bolsonaro.
- E o que você tem a ver com isso?
Bom, a decisão de mergulhar de cabeça no histórico do governo Bolsonaro mexeu com tudo por aqui, inclusive nas nossas contas. Vamos precisar colocar mais gente pra trabalhar, algumas exclusivamente nisso. Vamos precisar gastar mais do que o previsto com viagens e, claro, com a banca de advogados. Não dá para mexer com grileiros, mineradoras, políticos, militares e empresários de extrema direita sem eles, infelizmente. Fizemos as contas e precisamos chegar a 2 mil apoiadores até janeiro – no momento, temos pouco mais de 1500. Nosso pedido é que você clique aqui e apoie a Pública mensalmente com o valor que puder. Tudo que recebermos nas próximas semanas será totalmente investido nesse projeto especial.
O trabalho que queremos colocar na rua nos próximos meses é uma cobertura de fôlego que já começou. Nas últimas semanas protocolamos dezenas de pedidos através da Lei de Acesso à Informação – e até o final de janeiro queremos chegar às centenas. Não temos esperança de que eles sejam respondidos agora, mas janeiro está logo aí. Às vezes parece que basta derrubar o sigilo de tudo que a mágica acontece. Mas não é assim que funciona.
Quando documentos, resoluções e outras coisas que estavam escondidas vierem à tona, teremos um trabalho imenso para apurar, interpretar e de fato transformar tudo em reportagens. Como exemplo, pense numa coisa simples: os gastos dos cartões corporativos. Serão planilhas com intermináveis linhas. Na minha mão ou na sua, isso não tem muito sentido. É preciso separar, organizar, somar e apurar o que é cada gasto para daí termos dimensão do problema. Vamos precisar ir atrás de dezenas de empresas onde esses cartões foram usados para identificarmos o tipo de gasto e qual era o objetivo dele.
Até poucos dias, estávamos convencidas de que faríamos isso dentro do dia a dia da redação. Mas ao ver crescer o discurso da “pacificação”, nos demos conta do tamanho da missão que Pública tem nesse contexto. Não dá para fazermos o de sempre, vai ser preciso fazer o inimaginável. Vamos precisar de uma equipe dedicada a esse trabalho nos próximos meses, e é por essa razão que vamos precisar ampliar e muito o apoio que já recebemos dos nossos leitores e leitoras.
Falei lá em cima que Pública é respeitada por sua confiabilidade. Tenho orgulho disso, mas o que mais me alegra é notar que somos reconhecidas pela nossa valentia. Nossa história ficou marcada por fazermos jornalismo independente de verdade: livre, sem deixar de ser sério; destemido, mas competente e comprometido com os direitos humanos.
Todos os dias as reportagens de Pública são reproduzidas em milhares de veículos no Brasil e no exterior, sempre de maneira gratuita. É com essa força que queremos abrir a caixa-preta de Bolsonaro para milhões de leitores no mundo inteiro. Suportamos esses quatro anos com muito sacrifício, agora é hora de responsabilizar os perversos que conduziram esse país para as trevas.
Sabemos como fazer isso. E a sua contribuição é fundamental para que isso aconteça. Precisamos chegar a 2 mil doadores hoje. Você pode apoiar o jornalismo valente da Pública hoje? Quero ser um dos 2 mil!
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