* Entrevista publicada na edição 105 de Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva, de 13 a 19 de maio de 2011. Josias Silveira, editor das revistas Duas Rodas e Oficina Mecânica, é um apaixonado por motores. Prova disso é a sua formação acadêmica, engenheiro mecânico, e, por tabela, jornalista especializado. Ele conta que o início de tudo foi na época da faculdade, quando amigos e a esposa Evelyn Schulke, também jornalista, faziam frilas e ele, nesse meio, começou a escrever sobre motores (de carros, motos, barcos, aviões). “Era o início da década de 1970, já estagiava como engenheiro, e surgiu a revista Status, onde tomei gosto pela coisa”, conta. Mais tarde, em 1974, recebeu convite de Miguel Jorge para lançar a Duas Rodas, onde está até hoje. Divertido e de excelente humor, Josias revela nesta entrevista um pouco mais sobre sua paixão por ?lixo sobre rodas?, como ele carinhosamente apelida os carros e motos que possui. Passagens interessantes da carreira, do livro que acaba de lançar, Sorvete de Graxa (Editora Europa), e outros gostos pessoais completam o nosso bate-papo. Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva ? Um carro inesquecível? Josias Silveira ? São pelo menos dois, entre dezenas. Primeiro, um Nash Ambassador 1951 americano que meu pai comprou quando eu tinha uns oito anos. Nunca empurrei tanto carro na vida. Até hoje fujo dos Nash, até em encontros de carros antigos. A família preferia andar de ônibus. Logo depois, ele comprou um Fusca 1950, dos primeiros que chegaram ao Brasil, com o vidro traseiro dividido, um Split. Eu ficava impressionado, pois o carrinho não quebrava e não precisava empurrar. J&Cia Auto ? Um momento automotivo que marcou sua vida? Josias ? A chegada da indústria automobilística ao Brasil no final dos anos 1950. Achei a Romi Isetta um ovo sobre rodas, mas logo me apaixonei pelos Fusca e DKW. J&Cia Auto ? Onde iniciou suas atividades nessa área? Josias ? Nos anos 1970, fazia “motores” (de carros, motos, barcos e aviões) para a Status, a primeira revista masculina lançada no Brasil, além de muitos frilas. J&Cia Auto ? O que mais o impressiona na imprensa automotiva? Josias ? A diversidade. Existe desde jornalista que discute em pé de igualdade com engenheiro de fábrica até profissionais que não têm a menor idéia do que estão escrevendo. J&Cia Auto ? Um profissional da imprensa automotiva para homenagear o segmento? Josias ? Mario Pati e José Luiz Vieira. Também gosto do Seccão [Luiz Carlos Secco], o campeão de citações nesta coluna Álbum. Mas acho que ele não aguenta mais ser homenageado… J&Cia Auto ? Livro de cabeceira? Josias ? Estou numa fase de best seller americanos, principalmente policiais e de suspense. Acho a técnica de narração desses escritores algo excepcional. Eles prendem o leitor com qualquer bobagem. Tenho lido bastante Stephen King, que considero um mestre. J&Cia Auto ? Time de coração? Josias ? Meu coração não tem time. Sou um bom marido: não gosto de futebol. J&Cia Auto ? O que mais gosta de fazer nos momentos de descanso? Josias ? Ler, fazer meditação, viajar com meus cacos velhos (carros ou motos). J&Cia Auto ? Algum hobby especial? Josias ? Restaurar ou consertar meus ?lixos sobre rodas?, carros e motos principalmente dos anos 1970 e 1980. J&Cia Auto ? Quantos você têm e quais são? Josias ? Eu sempre digo nas brigas com a minha mulher que são sete motos e sete carros que possuo. Mas são bem mais… (risos). Estou numa fase de carros de fibra de vidro. Tenho uma picape de fibra, o Formigão, com motor AP 1.8 fuçado e um Gurgel BR800 com motor Fusca 1600. Também há carros japoneses: um Daihatsu Charade e um Subari Vivio, aquele mini com motor 660 cc. Além disso, várias Vespas, algumas Honda dos anos 1970 e 1980 e outros scooters. Como podem ver, gosto de ?lixo sobre rodas?. Caso me vejam por aí de carro novo, tenham certeza, é de testes… J&Cia Auto ? Tipo de música que mais aprecia? Josias ? Rock dos anos 1950 e 1960. J&Cia Auto ? Na televisão, qual programa predileto? Josias ? Gosto de seriados policiais (como CSI e Castle) ou cômicos (pena que Two and Hafl Men está acabando). Discovery e History Channel também são muito interessantes. J&Cia Auto ? Quais os jornais e revistas de que mais gosta? E sites especializados? Josias ? Obrigatório ler os coleguinhas falando sobre carros e motos, seja em jornais, revistas ou sites. Quando quero passar raiva, entro no eBay americano para ver a facilidade de se conseguir qualquer coisa por ótimos preços nos EUA, de peças para carros raros até óculos de grife, passando por eletrônicos e laxantes… J&Cia Auto ? Um sonho por realizar? Josias ? Já completei o trio: árvores, filhos e livro. Agora sonho com bisnetos. J&Cia Auto ? Como surgiu a ideia de fazer o livro? Josias ? Nas minhas andanças pelo mundo cobrindo o setor automotivo fui colecionando na memória casos engraçados, inusitados e muita saia-justa dos colegas de atividade. Depois de muitas chicotadas de um amigo (Roberto Araújo, da Editora Europa) para que eu colocasse no papel todas essas histórias, resolvemos fazer o livro. Mas confesso: é um trabalho que ?enche o saco?, porque temos que adaptar os causos a uma linguagem agradável para qualquer tipo de leitor, não só aos especialistas, contextualizar e tudo mais. Por conta da profissão, ao escrever, vamos transformando tudo em uma grande reportagem. E o livro decolou também graças ao esforço do Marco Antônio Lage, que em uma conversa em meio a pingas mineiras ofereceu o apoio da Fiat para patrocinar a edição. J&Cia Auto ? Alguma passagem curiosa na elaboração da obra? Josias ? São muitos os contos, alguns deles escritos por pseudônimos para preservar o colega citado. Duas passagens foram interessantes na elaboração do livro: queria escrever sobre dois países, Portugal e Itália. Mas, as histórias eram muitas. No caso da Itália, coincidiu de eu ir para Turim e aí ficou bem mais fácil; visitando tudo por lá, as lembranças foram vindo e o capítulo saiu. Outra novidade é que o livro está em versão iPad, na loja Apple iTunes, ao custo de US$ 1,99. J&Cia Auto ? Qual tem sido a repercussão do livro? Josias ? Por incrível que pareça, tem muita gente gostando, lembrando das histórias, sugerindo outras e por aí vai. Mas para reunir tudo seriam necessários vários outros livros. Muitas mulheres e de todas as idades têm elogiado o trabalho. Acho que as chicotadas do Roberto deram resultado e o livro ficou com uma linguagem leve, divertida e com muita informação de bastidor. Digo isso porque minha sogra, de 90 anos, gostou e suas amigas também… (risos). A única reclamação delas, até agora, é que eu escrevo muitos palavrões!