A organização Repórteres sem Fronteiras, com o apoio de 26 organizações defensoras da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, publicou em 31/7 um chamado mundial em apoio à equipe do The Intercept Brasil. A publicação vem sendo alvo, desde 9 de junho de 2019, de uma intensa campanha de intimidação e desestabilização por parte do presidente Jair Bolsonaro e de integrantes de seu governo.
O motivo é a série de reportagens batizada de Vaza Jato, que aponta aparentes irregularidades ocorridas durante a operação Lava Jato. Entre os ataques mais graves e recentes estão as ameaças de prisão contra Glenn Greenwald, fundador e diretor de redação do The Intercept Brasil, proferidas publicamente por Bolsonaro em 27 de julho.
Confira a íntegra:
“As 26 organizações defensoras da liberdade de imprensa e dos direitos humanos que assinam abaixo repudiam veementemente a onda de ataques e ameaças contra os jornalistas da agência de notícias The Intercept Brasil. Pedimos às autoridades que garantam o estrito respeito da proteção do direito ao sigilo da fonte, assegurado pela Constituição Federal.
As ameaças e ataques começaram no dia 9 de junho de 2019, após a publicação de uma série de reportagens que apontam aparentes irregularidades ocorridas durante a operação Lava Jato, investigação que revelou um dos maiores escândalos de corrupção na história do país. Na publicação dessas revelações, baseadas em documentos obtidos por uma fonte anônima, o The Intercept Brasil firmou parcerias com diversos grandes veículos da imprensa nacional, como o jornal Folha de São Paulo e a Revista Veja.
Desde então, os integrantes do The Intercept Brasil, e em particular seu cofundador, Glenn Greenwald, são alvos de inúmeros insultos, denúncias caluniosas e ameaças de morte, alimentados por notícias falsas que têm por objetivo descredibilizar o trabalho jornalístico realizado pela redação. O caso do The Intercept Brasil é simbólico e sintomático das dificuldades encontradas pela imprensa que investiga temas sensíveis no país, onde campanhas de intimidação e perseguição contra jornalistas se tornaram frequentes.
Nós, que assinamos esse chamado, consideramos que as tentativas de desestabilizar e atingir a credibilidade do The Intercept Brasil e dos veículos parceiros nessas publicações, independente de sua origem, constituem uma grave ameaça para a liberdade de informação. Estas têm por efeito não somente desviar a atenção da opinião pública sobre o conteúdo das revelações, mas reforçam sobretudo o grau de hostilidade do ambiente em que atua a imprensa, em especial os jornalistas investigativos.
Nós lembramos que o Estado brasileiro tem a obrigação de garantir a proteção dos comunicadores, assim como de investigar as graves ameaças recebidas pelos jornalistas do The Intercept Brasil e por veículos parceiros nessas revelações.
A liberdade de imprensa e de informação são os pilares da democracia, elas transcendem diferenças políticas e devem ser a garantidas e protegidas a todo custo.”
Assinam o chamado:
Agência Pública de Jornalismo Investigativo
Amnesty International Brazil
Article 19 Brasil
Asociación de la Prensa de Madrid (APM)
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) de São Paulo
Committee to Protect Journalists (CPJ)
Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)
Federación de las Asociaciones de Periodistas de España (FAPE)
Freedom House
Freedom of the Press Foundation
Global Editors Network (GEN)
Human Rights Watch
IFEX
Index on Censorship
Instituto Vladimir Herzog
Interamerican Press Association (IAPA/SIP)
International Press Institute
Intervozes
Mediapart
Observatório da Imprensa
PEN International
Reporters sans frontières (RSF)
The Guardian
Witness Brasil