Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro

O que ainda falta dizer sobre Sílvio Santos? Senor Abravanel morreu na madrugada de sábado (17/8), aos 93 anos, no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde esteve internado por 17 dias devido a uma broncopneumonia, agravada por uma infecção por H1N1. Foi sepultado no cemitério Israelita do Butantã, em cerimônia fechada. Deixou viúva, seis filhas, netos e bisnetos.

Carioca da Lapa, começou a trabalhar aos 14 anos como camelô, para ajudar a família de imigrantes. Logo depois, teve as primeiras experiências como locutor. Nessa época, filiou-se ao Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio. Aos 20 anos, transferiu-se para São Paulo, formou-se como técnico em Contabilidade, encontrou trabalho na rádio Nacional SP. Em 1958, assumiu o Baú da Felicidade, com sistema de carnês e, assim, deu início a um conglomerado financeiro.

Trabalhou nas TVs Globo, Tupi e Record. Em 1975, venceu a concorrência para um canal de TV no Rio de Janeiro e obteve sua primeira concessão. Chamou-a TVS e investiu US$ 10 milhões. A esta concessão seguiram-se mais quatro em 1981, e a emissora passou a se chamar SBT – Sistema Brasileiro de Televisão. Como apresentador do entretenimento, manteve o Programa Sílvio Santos por 60 anos no ar. Nas palavras de Octavio Guedes, ele “reinventou o domingo da família”. Afastou-se há dois anos, mas manteve a aura de ídolo da TV.

Alguns bordões e títulos de seus quadros entraram para a linguagem popular, como “abrem-se as portas da esperança”, “calçar as sandálias da humildade”, “topa tudo por dinheiro”. E “Boa noite, Cinderela”, hoje metáfora de um crime.

Pouco se disse sobre o relacionamento de Sílvio Santos – e por conseguinte, da emissora – com o jornalismo. Em depoimento à Agência Brasil, Albino Castro, que trabalhou por 12 anos no SBT, ressalta sua “visão jornalística interessante, […] misturada com linha de show. Ele concebia o jornalismo também como alguma coisa espetacular, extraordinária”.

Castro prossegue: mudou a forma como o telejornal era montado, baseado nos jornais impressos, dividido em seções ou editorias. Sílvio Santos reclamava dos redatores porque faziam um roteiro muito igual ao jornal impresso. Dizia que se podem misturar todas as notícias, como na capa de um jornal. Não é preciso dividir em editorias: esporte, internacional, economia. Isso foi implantado no SBT e depois ganhou espaço em todas as emissoras.

Concebeu ainda outras inovações. Entre elas, a criação do primeiro telejornal com uma mulher como âncora, com Lillian Witte Fibe no Jornal do SBT, e no programa policial Aqui Agora. Este último foi um precursor do jornalismo policial, hoje presente em todas as emissoras, mesmo que não com tal exclusividade. Criou o primeiro telejornal no Brasil com a presença de um âncora, com o Telejornal Brasil, ou TJ Brasil, com Boris Casoy, que, além de apresentar o jornal, comentava e analisava as notícias.

Mas nem tudo eram flores no jornalismo do SBT. Como no entretenimento, Sílvio Santos mexia na grade e mudava os horários. Em poucas ocasiões, chegou a eliminar os telejornais da programação, sem aviso prévio nem maiores explicações. Numa dessas vezes, o pessoal da Redação chegou a comentar para o Jornalistas&Cia: “Até o Comercial reclamou, porque Jornalismo era o mais fácil de vender”.

Agora, com a morte, ele faz parte da história da televisão brasileira.

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