Está chegando ao fim este mês um dos maiores dramas da história recente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo: a dívida contraída com a gestão de um plano de saúde próprio, entre os anos 2000 e 2003, que consumiu boa parte da receita da entidade ao longo de quase duas décadas. Foram 17 anos pagando a dívida, num montante estimado pela própria entidade em R$ 10 milhões.

Em texto publicado no jornal Unidade, do Sindicato, o atual presidente, Paulo Zocchi, que vai passar o bastão para Thiago Tanji (Thiago encabeça a chapa única que disputará a eleição nos próximos dias 3 e 4 de agosto), diz: “O PSS foi encerrado em outubro de 2003, com o Sindicato estrangulado financeiramente. Houve grave dano por vários anos a todas as atividades essenciais da entidade, como trabalho sindical regular (campanhas salariais, por exemplo, têm custos com assessoria econômica e jurídica, comunicação e mobilização). Faltou dinheiro para o cumprimento de obrigações legais básicas (como o pagamento de INSS dos funcionários), bem como manter a contribuição com entidades às quais o Sindicato é ligado, como Fenaj e CUT”.

Paulo Zocchi

Segundo ele, “nos anos 1990, o Sindicato intermediava um plano de saúde com a Unimed para algumas centenas de sindicalizados. Em 1999, essa relação passou para a Unimed Paulistana. Ainda naquele ano, a diretoria, em final de gestão, decidiu propor uma mudança profunda a ser iniciada em janeiro de 2000”.

Zocchi recorda que a discussão em torno do PSS – o plano de saúde do Sindicato – esteve no centro das eleições sindicais realizadas em abril de 2000, opondo chapas de situação e oposição: “A oposição, que o autor deste texto integrava, contestava a ‘obrigatoriedade’ do plano para todos os sindicalizados e o aumento de mensalidade decorrente, alertando para o risco de ‘colapso financeiro’ da entidade. As eleições foram vencidas pela situação”. 

A proposta foi aprovada em assembleia realizada em dezembro de 1999, sendo que, para viabilizá-la, fez-se necessário elevar a mensalidade de R$ 12 para 45 (quase o quádruplo).  Não deu certo. A mudança provocou desfiliação em massa de associados, em particular de quem era de grandes redações, que já contavam com o benefício de um plano de saúde das empresas. De quebra, segundo Zocchi, aprofundou “o fosso entre o Sindicato e os jornalistas empregados nas empresas de comunicação”, quadro que não se reverteu mesmo depois de as mensalidades serem reduzidas.

Já em tom de despedida, o atual presidente do Sindicato encerra o artigo falando das lições extraídas da desastrada aventura: “Com o PSS, tivemos uma difícil experiência, a um custo alto. Mas pudemos tirar como lição a importância da construção de uma entidade classista, que se apoie diretamente na vontade dos jornalistas, adotando uma gestão comprometida com o equilíbrio financeiro, canalizando os seus recursos para a defesa dos interesses gerais da categoria. É isso o que fez o nosso Sindicato enfrentar a difícil situação aberta desde 2017, com a reforma trabalhista, cortando gastos e buscando o equilíbrio financeiro como ponto chave da gestão. Com base nisso, pudemos ter uma atuação importante para a categoria em meio à pandemia, reforçando o nosso quadro de sindicalizados”.

Sobre a passagem de bastão, ele deixa um conselho: “Persiste, para a próxima gestão, o desafio de avançar ainda mais na sindicalização dos jornalistas, tornando o Sindicato presente na vida do conjunto dos jornalistas de São Paulo”.

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