Por Sandro Villar

Não conheci pessoalmente o Tão Gomes Pinto, mas por um desses mistérios da vida acabamos nos encontrando graças ao correio eletrônico, vulgo e-mail. Mandei para ele algumas colunas e, gentilmente, ele respondeu com elogios e me aconselhou a ir pro Facebook. “Sandro, leva tuas crônicas pro Facebook”, sugeriu.

Talvez por ser relapso, não fiz o que Tão me recomendou e me arrependo por isso. Deveria ter acatado o conselho dele. Confesso que estou meio perdido na tal de era digital. Aliás, estou mais perdido do que candidato em queda nas pesquisas. Se me permitem outro exemplo comparativo, estou mais perdido do que o Brasil nos 7 a 1 contra a Alemanha. Preciso aprender mais sobre informática, internet e o escambau.

Ainda sobre a troca de figurinhas com Tão, lembro-me de uma frase dele que, para mim, é uma verdadeira injeção de ânimo − injeção que, aliás, os farmacêuticos não aplicam e isto é apenas um chiste deste aristocrata e charmoso cronista. Disse Tão: “A tua palavra me anima”.

Eu incentivando Tão Gomes Pinto? Bondade dele… A palavra desse grande jornalista é que me anima. Desde então, quando me lembro, acrescento a frase nas mensagens para meus milhares de amigos e uns três inimigos, cuja existência desconheço.

Um incentivo, uma força para quem precisa e, até certo ponto, lembra as palavras do diretor Jorge Fernando quando dirigia atores nas novelas e nas peças de teatro. “Vai lá e brilha”, dizia o diretor. Evidente que, com tal incentivo, os atores se desdobravam e produziam muito mais.

Há um fato hilário envolvendo Tão. Ele era editor e repórter da IstoÉ e foi escalado para entrevistar ninguém menos do que $ílvio $antos, dono do SBT. Se não me falha a cachola, ele foi recepcionado na sede da emissora pelo então diretor artístico Luciano Callegari, que, por falar nisso, era bem parecido fisicamente com o jornalista, quase um sósia do Tão.

Naquela época, a audiência do SBT crescia mais do que a inflação no governo do presifake Riaj (leia de trás pra frente) e comentava-se à boca grande mesmo que a Globo temia perder a liderança de audiência. $$ não era enforcado, mas estava com a corda toda. Era uma pedra no sapato do nosso companheiro redator-chefe Roberto Marinho, dono da Globo e, óbvio, do Brasil.

Terminada a entrevista, Callegari procurou Tão Gomes e perguntou se ele não tinha ficado emocionado por entrevistar $ílvio $antos. “Não”, respondeu o jornalista, com um clássico monossilábico. Um jornalista do quilate de Tão Gomes Pinto emocionar-se após entrevistar alguém, mesmo sendo $$?

Tão não se prestava a esse papel, o de tiete, e, cá entre nós, repórter que é repórter não deve dar uma de tiete durante uma conversa com celebridades, a não ser que o entrevistado seja Jesus Cristo, Buda ou o próprio Deus.


Sandro Villar

Assíduo colaborador deste espaço, Sandro Villar, radialista e jornalista que por muitos anos atuou como correspondente do Estadão em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, presta homenagem a Tão Gomes Pinto, falecido em 29 de abril.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

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