Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

A motivação de quem espalha teorias da conspiração nem sempre está relacionada a uma crença genuína nessas ideias, mas sim a interesses específicos, o que torna ainda mais difícil combatê-las com estratégias tradicionais.

Esse tema é explorado no livro Taking Conspiracies to Extremes, que analisa a violência gerada pelo extremismo.

Uma das autoras, a professora de psicologia social H. Colleen Sinclair, da Universidade da Louisiana, destaca que muitos disseminadores dessas teorias são oportunistas. Eles buscam gerar conflito, caos, recrutar seguidores, lucrar ou simplesmente chamar atenção, sem necessariamente acreditar no que propagam.

No entanto, os efeitos são devastadores. Em um artigo para o portal The Conversation, Sinclair alerta que até mesmo os oportunistas podem acabar acreditando nas mentiras que espalham. Além disso, transformam outras pessoas em “idiotas úteis”, que, sem perceber, ajudam a difundir a desinformação.

A professora detalha cinco tipos de disseminadores de teorias da conspiração, presentes tanto nas redes sociais quanto na mídia tradicional.

Entre eles estão os “conspiracionistas buscadores de atenção”, que muitas vezes nem leem o que compartilham. Frases típicas de seus posts incluem perguntas como “será que é verdade?” ou afirmações como “pode ser algo próximo da realidade”. O objetivo é participar de discussões ou ganhar curtidas e compartilhamentos, explica Sinclair.

Os “conspiracionistas do caos”: só querem criar confusão

Outro grupo é o dos “conspiracionistas do caos”, motivados pelo desejo de criar confusão, sem intenção de convencer. Um exemplo é a tentativa de assassinato de Donald Trump, quando um troll inventou uma acusação falsa visualizada mais de 300 mil vezes.

Há também os movimentos radicais, que usam teorias da conspiração como “isca” para atrair novos membros. Segundo Sinclair, eles experimentam várias teorias até encontrarem uma que funcione como “portal” para a radicalização.

Um exemplo é o grupo Boogaloo Bois, que gerou mais de 610 mil tuítes contra o lockdown da pandemia, dos quais 58% tinham o objetivo de provocar e radicalizar. Curiosamente, os próprios membros admitiram não acreditar no que espalhavam, mas o faziam para “provocar o governo”, explica a professora.

Sinclair também menciona o uso de conspirações por governos, algo que ocorre há muito tempo. Um exemplo clássico é o documento Os Protocolos dos Sábios de Sião, fabricado pelos russos em 1903, que disseminou a falsa ideia de uma conspiração judaica global. Recentemente, plataformas digitais têm derrubado redes de desinformação apontadas como apoiadas por países como Rússia, China e Irã.

Outro tipo de disseminador é o “conspiracionista comercial” − de influenciadores até redes de mídia.

O americano Alex Jones, que criou um império comercial apoiado em uma rede de mídia, admitiu que seus seguidores “comprariam qualquer coisa” dele. Sinclair também cita o caso da Fox News, que apoiou a tese de fraude eleitoral nas eleições de 2020 para manter a audiência, embora, nos bastidores, muitos dentro da empresa não acreditassem nessas narrativas.

Ela conclui ressaltando a importância de cautela com o que se compartilha, questionando sempre as  intenções por trás de cada conteúdo.


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